Primeiro sacerdote gay de Igreja Anglicana no RS diz que ordenação é bandeira para todas minorias

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ARTUR BÚRIGO
BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS)

O reverendo Sidnei Schroeder, 52, se tornou no último dia 15 o primeiro sacerdote gay da Igreja Episcopal Anglicana de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha.

Ele afirma que sua ordenação não deve ser vista apenas como uma forma de levantar uma bandeira para o público LGBTQIA+, mas para todos os excluídos e marginalizados pela sociedade.

“Eu vivo plenamente minha vocação não por ser gay, mas por poder direcioná-la para as minorias: mulheres, crianças, jovens, velhos, indígenas, prostitutas; ou seja, onde Cristo sempre esteve”, diz o reverendo.

Ele conta que procurou a Igreja Anglicana em 2009, após ter se afastado de uma fraternidade da Igreja Católica em razão de sua profissão de guia de turismo internacional.

Durante o período no catolicismo, chegou a participar de um seminário, mas diz que não se sentia acolhido.

“Era como uma bolinha de Natal apagada. Via a hipocrisia acontecendo, porque muitos dos meus colegas eram homossexuais, mas ficavam na sua. Eu não achava legal aquilo”, afirma Schroeder.

Agora, alia sua função de reverendo com a profissão de guia de turismo internacional, a qual diz ser sua prioridade. Ele explica que o anglicismo permite três formas de viver o presbitério: a integral, parcial ou a livre -esta última é a que ele pratica, o que permite a ele passar meses em viagem a trabalho.

A Igreja Anglicana foi criada por Henrique 8º em 1533, quando o então rei britânico rompeu com o papa e a Igreja Católica porque queria “anular” seu primeiro casamento com Catarina de Aragão.

No Brasil, ela chegou em 1890, com missionários que vieram dos Estados Unidos para dar suporte espiritual aos anglicanos ingleses que viviam no país. Hoje, são nove dioceses da instituição pelo Brasil.

Desde 2018 no Brasil a Igreja Anglicana celebra casamentos homossexuais e, a partir de 2015, adotou uma linguagem mais inclusiva na liturgia, como o uso dos termos “Deus Pai”, “Deus Mãe” e até de linguagem neutra.

O reverendo Schroeder -como ele prefere ser chamado em vez de padre porque a igreja também ordena mulheres- diz temer pela sua integridade física diante da repercussão de se tornar o primeiro sacerdote gay na cidade.

Mas afirma que a repercussão é positiva ao dar visibilidade para o papel de acolhimento da igreja a povos marginalizados.

Um dos exemplos é a pastoral Anglicanos, criada após a aprovação do casamento igualitário em 2018.

“A gente discute assuntos referentes à sexualidade, mas o jeito de viver também essa sexualidade como ser humano, como pessoa, buscando explicações bíblicas muitas vezes”, conta o reverendo.

A igreja também apoia a Construindo Igualdades, a primeira casa de apoio ao público LGBT da região Sul do país, inaugurada em 2001.

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