GETÚLIO CORTES

caortão

Embora nascido e criado no bairro de Madureira, vinculado, tradicionalmente, ao samba, pela segunda metade da décda-1950, o garotão Getúlio entrou na onda que tomava conta da juventude carioca e tornou-se admirador do rock norte-americano, principalmente Elvis Presley e de Little Richard.

 Conhecida a nova moda, no entanto, ele começou a brincar de fazer dublagens de astros norte-americanos de outras águas, como Frank Sinatra, Sammy Davis Júnior e Louis Armstrong, entre outros. Pelos inícios da década de 1960, passou a atuar como violonista amador nas rádios Mayrink Veiga, Tupi e Mundial e, por ali, formou, com os amigos Pedro Paulo (vocalista) e Jocelin Braga, o conjunto Wonderful Boys. Em 1961, conheceu Roberto e Erasmo Carlos, eu um programa de rádio, e enturmou-se com o pessoal que viria a fazer a Jovem Guarda.

 Adentrado à onda roqueira brasileira, Getúlio tornou-se assistente de produção do conjunto Renato e Seus Blue Caps e, lá pelas tantas, já surgia como um dos compositores favoritos da moçada. Seu primero grande sucesso foi Negro Gato, editado no LP Viva Juventude, o primeiro de Renato e seus Blue Caps para a gravadora da moda, a CBS, que reúna a maior parte da turma da Jovem Guarda, comadada pelo diretor da casa, Evandro Ribeiro. A letra o Getúlio  tirou de um incômodo noturno no telhado de sua casa, levado para o disco de vinil dos Blue Caps, em  1963, quando a turma era formado pelos irmãos Renato e Paulo César Barros, o primo Carlinhos, o saxofonista Cid Chaves e o baterista Tony. Getúlio conta esta história assim:

 – Eu morava em um barracão, junto com a minha mãe, e o teto era coberto por zinco. Todas as noites era um inferno.  Aparecia um gato, que zunhava pra lá, pra cá, aprontava o maior barulho, nos tirando do sono. Um dia, acordei decidido a acabar com aquilo, matar o gato. Chegada a noite, arrumei uma pedra capaz de derrubá-lo do telhado e, na costumeira da bagunça dele, fiquei e posição de ataque. De repente, o gato chegou, parou e eu preparei a pedrada. Não sei o que aconteceu, mas o danado ficou me encarando, me deixando petrificado. Fiquei, completamente, sem ação. Então, comecei a falar pra ele: ‘Meu irmão, a gente é preto, irmão de cor, e você fica me sacaneando. Pare com isso’. Acredite se quiser, mas o gato fez meia-volta, foi embora, desapareceu do meu telhado. Então, fiz a letra, mostrei para o Renato (Barros), ele gostou, todos gostaram: o César (como eles chamavam o PC Barros), o Cid, enfim todos.

Negro Gato saiu na faixa 1  do lado A do LP Viva a Juventude, imediatamente seguido na faixa 2 pelo estrondoso suesso da edição, Menina Linda, a versão da beatlemaniaca de I should have known better, que brigou com Roberto Carlos pelos primeiros lugares das paradas de sucesso. Três temporadas depois, foi regravado pelo Roberto, com nova roupagem, mais rápida e sendo uma das mais tocadas do LP que o cantor lançava pelas viradas de calendário.

– Com toda a certeza, Negro Gato teria feito mais sucesso se não houvesse Menina Linda naquele disco. O sucesso da  Menina (Linda)  me surpreendeu, pois eu nunca tinha ouvido falar dos Beatles quando o Carlos Imperial (apresentador de TV) me entregou o disco pedindo pra eu fazer uma versão (de I should have knounw better). O Getúlio colocara toda uma história em Negro Gato, algo que lembrava história em quadrinhosenquanto eu havia chutado a letra da Menina Linda, pois só tinha uma noite para aprontá-la e apresenta-la no progama (do Imperial) do dia seguinte. Eu não falava inglês e não sabia o que estava ouvindo. Negro Gato é uma letra muito interessante. Basta ver quantas versões teve. Pelo que me lembre, agora, ouvi gravações, também, por Marisa Monte, Luís Melodia, o Erasmo (Carlos) e até por um artista que eu deconhecia,  o sanfoneiro Zé da Onça – este gravou Negro Gato no CD ‘Forró du Zé da Onça’ – Zé da Onça e sua gente/40 anos de forró”, em 2002 – citou o guitarrista/cantor/compositor Renato  Barros. 

A letra de Negro Gato agradou muito, mas o Getúlio Cortes deixou-se levar um pouco pela música gravada por The Beatles — the trhe cats (?) que nem fizera sucesso no Brasil e tivera pouquíssima divulgação. A canção, no entanto, ficou zanzando pelos seus oritimbós e deu no que deu.

Após Negro Gato, outras composições de Getúlio Cortes agradaram bastante aos fãs de  Renato e seus Blue Caps: 1- Esqueça e Perdoe, de 1965, disputando espaço com a sua Noite de terror”, gravada por Roberto Carlos que colocou voz em ‘O Feio”, de 1966, da parceria Getúlio/Renato Barros; 2 – Tudo tem seu preço – do LP lançado pela banda, em 1970, quando Renato, Cid, Pedrinho e Tony vinham de velha formação, sem Paulo Céar, substituído por Sacarambone; 4 – Meu Amigo do Peito; 5 – 46-77-23, do LP de 1971, contando coma Renato, Pedriho, Cid, Tony e a volta de Paulo César ao baixo/vocal. Tanto agradou que foi reincluída em uma coletânea de sucessos da banda, em 1983 (?)   

Rento e Seus Blue Caps voltaram a visitar Getúlio Cortes, em 2002, comparecendodo ao CD-tributo  “O pulo do negro gato”, no  qual dividiu faixas com Erasmo Carlos e colegas da Jovem Guarda, como Leno (dupla Leno e Lilian), Almir (vocalista dos Fevers), Golden Boys e Jerry Adriani. Claro que no disco não faltaria  o, “Negro gato”, e não incluiu o grande agito de Getúlio naquele período, “Pega ladrão”, gravado por Roberto Carlos, em seu LP de maior sucesso, o Jovem Guarda, de 1965. Por sinal, fez tanto sucesso que, em 1967, o diretor Carlos Mana levou-o para ser o seu assistente musical nos programas da Jovem Guarda, da TV Record, e abriu-lhe, em 1968, caminho para ser o diretor musical do filme “Jovens pra frente”, de Alcino Diniz, contando com a participação da cantora Rosemary – naquele mesma temporada, Wanderléa, que começou gravando com Renato e Seus Blue Caps, na CBS,  gravou dele “Toque pra frente” – Getúlio, um gato de todas as raças, de todas as peles.

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