Regente de orquestra lamenta destruição da casa de sua infância por ataque de Israel no Líbano

Lubnan Baalbaki, regente da Orquestra Filarmônica Libanesa, assistia pelo celular uma câmera aérea apontada para um vilarejo no sul do Líbano. Dentro de segundos, várias casas foram reduzidas a escombros, e o ar se encheu de fumaça. A câmera girou para a direita, mostrando a destruição generalizada.

Ele aproximou a imagem para confirmar seu receio: a casa de sua família, no vilarejo de fronteira de Odaisseh, onde seus pais estão enterrados, estava agora em ruínas.

“Ver sua casa ser bombardeada e reduzida a cinzas em uma fração de segundo, acho que não tem como descrever isso”, diz Baalbaki

A destruição da casa de sua infância, em outubro, aconteceu durante a segunda ofensiva de Israel no Líbano. O objetivo, segundo alega Israel, era debilitar o grupo militante Hezbollah, afastá-lo da fronteira e acabar com mais de um ano de ataques do Hezbollah no norte de Israel.

Militares israelenses divulgaram vídeos de detonações controladas em áreas ao longo da fronteira, afirmando que estariam direcionadas contra instalações e armas do Hezbollah.

Mas o bombardeio também destruiu bairros residenciais inteiros, e até vilarejos. Em um relatório recente, o Banco Mundial afirmou que mais de 99 mil unidades habitacionais foram “total ou parcialmente danificadas” pela guerra no Líbano.

A casa da família de Baalbaki em Odaisseh, projetada por seu falecido pai, o renomado pintor libanês Abdel Hamid Baalbaki, guardava mais do que memórias afetivas. Lá dentro estava uma coleção de pinturas de Abdel Hamid, seu ateliê, e mais de 1.500 livros. Tudo foi destruído junto com a casa.

O que doeu ainda mais, segundo Baalbaki, foi perder as cartas que seus pais trocaram quando seu pai foi estudar artes na França. Apenas algumas permanecem, na forma de fotos digitais.

“A linguagem de paixão e amor que eles compartilhavam era cheia de poesia”, conta Baalbaki.

No livro de poemas e fotografias que seu pai criou para a esposa, após sua morte repentina em um acidente de carro, está escrito na primeira página: “Dedicado a Adeeba, parceira dos meus dias mais preciosos, o pássaro do amor que deixou seu ninho cedo demais”.

Abdel Hamid projetou meticulosamente a lápide de sua esposa. Tempos depois, ele foi sepultado ao lado dela, no jardim próximo à casa. Para seu filho, ver a casa de sua infância virar fumaça trouxe de volta a dor de perder os pais.

Era um momento que ele temia há meses.

O Hezbollah começou a lançar mísseis contra Israel em 8 de outubro de 2023, em solidariedade ao Hamas, em Gaza. Israel respondeu com ataques aéreos e bombardeios. Por quase um ano, o conflito permaneceu limitado.

Após a dramática escalada da guerra em 23 de setembro, com intensos ataques israelense contra o sul e o leste do Líbano, e também contra os subúrbios ao sul de Beirute, Baalbaki e seus irmãos passaram a conferir frequentemente as imagens de satélite em busca de atualizações sobre seu vilarejo.

Em 26 de outubro, as explosões em Odaisseh e nos arredores desencadearam um alerta de terremoto no norte de Israel. Naquele dia, vídeos circularam online, e um deles mostrava a destruição de sua casa.

Até poucos dias antes, as imagens de satélite mostravam que a casa ainda estava de pé.

Agora, Baalbaki diz que está decidido a honrar o sonho de seu pai.

“A fase de luto começou a se transformar em determinação para reconstruir esse projeto”, diz.

Quando a guerra acabar, ele planeja reconstruir a casa como um museu de arte e centro cultural.

Estadão Conteúdo

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