Advogado de Braga Netto descarta delação de general e chama Cid de ‘mentiroso contumaz’

Organizações da sociedade civil repudiam o tom intimidatório das Forças Armadas

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

José Luis de Oliveira Lima, advogado do general Braga Netto, afirmou nesta sexta-feira (27) que o tenente-coronel Mauro Cid é um “mentiroso contumaz” e que a delação premiada do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) precisa ser questionada.

“Como é que pode dar credibilidade à fala de um sujeito que mentiu o tempo inteiro e estava desesperado?”, questionou o advogado em entrevista à GloboNews.

Ele comparou a delação de Cid às colaborações premiadas fechadas no âmbito da Operação Lava Jato.

Oliveira Lima citou que o tenente-coronel ficou 129 dias preso antes de ter o acordo homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Relembrou, ainda, que o militar disse, em áudios revelados pela revista Veja, que teria sido pressionado a dizer o que não sabia.

Em depoimento ao Supremo em março e com a delação em risco, Cid negou que tivesse sido pressionado e disse que os áudios eram um “desabafo” e parte de conversa “privada, informal e particular”.

Oliveira Lima diz disse ainda não consegue entrar nos pormenores da defesa de Braga Netto enquanto a delação estiver sob sigilo. Por isso, negou-se a responder perguntas sobre evidências da relação do general com os planos golpistas.

“A colaboração premiada do Mauro Cid é uma peça fundamental que faz uma relação a todo o relatório da polícia, portanto eu não tenho como entrar num detalhe de uma mensagem que pode estar completamente fora de contexto e aqui fazer uma linha de defesa técnica de uma prova e de um documento a que eu não tive nenhum acesso”, disse.

O advogado afirmou ainda não ser possível que somente diante de Moraes, após já ter prestado 11 depoimentos à Polícia Federal, o tenente-coronel Mauro Cid tenha se lembrado que Braga Netto entregou dinheiro vivo, em uma caixa de vinho, para financiar atos antidemocráticos.

Para ele, Cid mentiu no depoimento porque estava pressionado pela possível anulação da delação.

José Luis de Oliveira Lima é um dos criminalistas mais conhecidos em Brasília. Tem bom trânsito no Supremo e foi o responsável pela defesa de clientes como o ex-ministro José Dirceu, o médico Roger Abdelmassih e o ex-presidente da construtora OAS Léo Pinheiro.

O advogado defendeu que Moraes seja impedido de conduzir os processos relacionados à trama golpista de 2022, por ser uma das possíveis vítimas dos ataques de Bolsonaro e aliados.

Pedido nesse sentido, formulado pela defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), já foi negado pelo STF por 10 votos a 1. Apenas o ministro André Mendonça foi vencido na questão.

“Eu preciso registrar mais uma vez o respeito que tenho pelo ministro Alexandre de Moraes, mas eu fico com o voto do ministro André Mendonça”, disse Oliveira Lima.

“Eu acho que, depois que essa denúncia for apresentada, na minha opinião, como advogado, a presença do ministro Alexandre de Moraes, quer na condução do processo, quer mesmo na participação do julgamento, deve ser questionada”, completou.

O advogado ainda disse que não se sente “confortável” com a participação de Moraes no inquérito e indicou um possível pedido de nulidade dos julgamentos caso o ministro vote.

Ele afirmou ter se encontrado com Braga Netto cinco vezes desde que assumiu a defesa do general, preso em 14 de dezembro por suspeita de obstrução de Justiça.

Repetiu por três vezes na entrevista que o general da reserva nega “qualquer participação em suposto golpe de Estado”.

“Nós estamos falando de um general quatro estrelas, homem com 42 anos de serviços prestados ao Exército brasileiro. Portanto, eu não posso acreditar que esse homem não seria sincero e franco comigo”, disse.

O advogado também negou que o general possa fechar um acordo de delação premiada com a Polícia Federal.

“A delação é um meio de defesa e tem que ser usada com critério, com apresentação de provas e por quem praticou um crime. No caso do general Braga Netto, ele não tem como utilizar deste meio de defesa da delação por um simples motivo: ele não praticou crime algum.”

Adicionar aos favoritos o Link permanente.