Quadro de Tarsila e presença do Brasil na Bienal de Veneza marcaram 2024 nas artes

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JOÃO PERASSOLO E ALESSANDRA MONTERASTELLI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O Brasil brilhou no cenário internacional das artes plásticas em 2024, que será lembrado como um ano de projeção para o país, tanto nas instituições quanto no mercado.

Nada trouxe mais atenção para o Brasil do que a Bienal de Veneza, organizada por Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp, o Museu de Arte de São Paulo. Ele levou para uma das principais mostras de arte contemporânea do mundo não só os cavaletes de vidro do museu que comanda, mas também sobretudo nomes antes alijados do circuito, como o coletivo indígena Maku, responsável por pintar a fachada do pavilhão da mostra principal do evento.

Foi também um ano próspero para Tadáskia, artista negra e trans de 30 anos que desenhou nas paredes do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, instituição superinfluente no cenário, numa mostra muito comentada que marcou sua estreia nos Estados Unidos e selou seu sucesso comercial.

Também na terra de Donald Trump, a edição da feira Art Basel em Miami Beach, em dezembro, teve recorde de participação de galerias brasileiras, com mais de 30 casas com estandes no evento em busca do mercado estrangeiro animado com a eleição do republicano, ao ponto de uma banana ter sido vendida por R$ 36 milhões dias antes.

Ainda no exterior, Tarsila do Amaral, cada vez mais próxima de se tornar uma Frida Kahlo brasileira, foi tema de uma ampla retrospectiva em Paris, no Museu do Luxemburgo, mais um índice do prestígio internacional da artista, que segue em trajetória ascendente e aparentemente inabalada pelas polêmicas que cercaram sua obra ao longo do ano.

Em abril, no primeiro dia da feira SP-Arte, uma pintura atribuída à modernista que teria ficado desaparecida por 50 anos surgiu dentro de uma mala no estande da galeria OMA. A tela, datada de 1925, era oferecida por R$ 16 milhões, mesmo que ainda não tivesse passado por um processo de autenticação.

Os marchands que lidam com obras de grandes mestres se apressaram em dizer que o quadro era falso, posição que tinham em comum com os especialistas em Tarsila. A situação, de grande repercussão, gerou um mal-estar da galeria OMA com a feira e levou os herdeiros da pintora a contratarem um perito para certificar a autoria da tela, que pertenceria à fase Pau-Brasil da artista, a mais cara de sua carreira.

Meses mais tarde, depois de baixada a poeira, familiares de Tarsila e o perito afirmaram que o quadro era, sim, verdadeiro, ocasião em que quase quadruplicaram seu preço, para R$ 60 milhões. Seguiu-se uma nova onda de contestações de galeristas sobre a autoria da pintura mas, em termos legais, quem tem a última palavra no que é Tarsila ou não são seus herdeiros. Com a celeuma, a pintura ficou queimada, resta saber quem vai comprá-la ou se algum museu vai bancar sua exibição para o público.

Enquanto o bafafá se desenrolava em São Paulo, Porto Alegre lidava com as consequências das piores chuvas de sua história, ocorridas em maio, que forçaram o fechamento de espaços culturais e museus.
Se na Fundação Iberê Camargo, separada por um muro do lago Guaíba e preparada com uma casa de bombas, não houve perda alguma, o Margs, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, ficou dias alagado e viu 4.000 obras de seu acervo serem afetadas. Foram sete meses fechado até a reabertura.

Em outra chave, em 2024 alguns museus se voltaram para o passado, com mostras alusivas aos 40 anos da Geração 80, como ficou conhecido o grupo de artistas que retomou a pintura e a subjetividade após anos de geometrismos e simplificação das formas.

Leonilson, Luiz Zerbini, Carlito Carvalhosa e Beatriz Milhazes, entre outros, faziam parte de uma juventude ávida por prazer e liberdade após 21 anos de ditadura militar, mas que, ao mesmo tempo, precisava enfrentar uma dura crise econômica e a epidemia da Aids para pensar um novo Brasil.

Foi também nessa época que a representação queer nas artes aumentou, influenciada por fenômenos pop como Madonna, George Michael e Pet Shop Boys, e pelas primeiras publicações LGBT, como os jornais Lampião da Esquina e Chana Com Chana.

O Tomie Ohtake e o Sesc Pompeia armaram a primeira grande mostra de Carvalhosa depois de sua morte, incluindo pinturas suas da década de 1980, enquanto o Masp resgatou os bordados melancólicos de Leonilson numa exposição.

Já o Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, tratou de relacionar a produção artística da época com a cultura pop, difundida em massa nas rádios e televisões, na mostra coletiva “Fullgás”. A exposição deve ser apresentada em São Paulo no ano que vem.

E, no apagar das luzes do ano, o Masp finalizou as obras de seu novo prédio, ao lado do edifício principal, na avenida Paulista. O anexo vai aumentar o espaço expositivo do museu em quase 70%, tornando a instituição um dos maiores complexos de arte da América Latina.

De aparência sóbria, o prédio lembra um monólito em tom grafite instalado na principal avenida de São Paulo. O projeto do escritório de arquitetura Metro foi elogiado por profissionais do meio, mas criticado pelo público nas redes sociais, com o argumento de que lembrava um prédio de escritórios e que não dialogava com o edifício original, desenhado por Lina Bo Bardi.

Talvez haja uma mudança na opinião pública quando o novo Masp abrir para visitação em março, com cinco exposições dedicadas ao acervo do museu, e os frequentadores puderem enfim conhecer o prédio por dentro.

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