Campos Neto diz que mudança de meta em momento de descumprimento geraria danos

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou nesta quinta-feira, 19, que uma nova mudança no sistema de metas de inflação em momento de descumprimento do objetivo geraria danos e que uma reforma – para a meta contínua – foi feita recentemente pela instituição. Ele falou durante entrevista coletiva para comentar o Relatório Trimestral de Inflação no que deve ter sido sua última aparição pública à frente do BC.

Campos Neto foi questionado sobre o tema ao ser lembrado que não conseguiu atingir o objetivo em três dos seus seis anos no comando da autoridade monetária. Ele disse que cumpriu a meta nos primeiros anos, mas que o mundo passou por uma pandemia.

Em relação a este ano, o presidente do BC salientou que nenhum país atingiu a meta de inflação. “Aliás, nem o Brasil, nem nenhum outro país”, comparou. “Então acho que a gente precisa colocar essa informação num contexto global de um fator muito ativo e tudo o que aconteceu na pandemia. É preciso entender que o Banco Central fez adaptações no momento onde a gente teve uma situação muito extraordinária, que os modelos, inclusive, tinham dificuldade de caracterizar coisas que a gente olhava com frequência, mas que a gente fez de uma forma muito claro e transparente.”

Na sequência, ele lembrou que o BC brasileiro foi muito elogiado por ter sido o primeiro a aumentar a taxa de juros e que, por isso, recebeu vários prêmios. “Olhando para trás, o BC foi muito proativo, mas passamos por um surto inflacionário global”, justificou.

Balanço de riscos

O presidente do Banco Central relatou ainda que uma das discussões do Comitê de Política Monetária (Copom) é sobre a materialização de riscos que, segundo ele, nunca é binária. “Não tem uma materialização que é ou não é, mas vai entrando no preço à medida que aconteça”, disse.

Como exemplo de fatores binários, Campos Neto citou a eleição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Ele foi eleito, então isso aconteceu e a gente não pode ter uma incerteza em relação à eleição, porque ele já foi eleito”, disse.

O presidente do BC complementou o raciocínio dizendo que, por outro lado, em relação às políticas americanas, ainda pode haver incertezas. “Existe uma incerteza sobre a desaceleração (da atividade) dos Estados Unidos e, à medida que o tempo vai passando, vamos tendo menos incertezas”, pontuou.

Ele continuou dizendo que algumas assimetrias apontadas no balanço de riscos (da comunicação do BC) se materializaram. “A gente queria colocar isso, mas não queria fazer isso mudando o balanço de riscos porque tem risco que está se materializando, mas ele ainda existe, ainda que possa ter mudado em intensidade”, considerou.

Estadão Conteúdo

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