Organizador de concurso é detido por não pagar hotel de candidatas a miss e evento é cancelado: ‘Sonhos destruídos’


Desfile do concurso com crianças e adolescentes em Fortaleza não aconteceu, mesmo mães de algumas candidatas tendo gasto até R$ 4 mil pela participação. Empresário é detido após denúncia de participantes de evento de miss em Fortaleza
Um concurso de beleza terminou em confusão e denúncias neste domingo (15) em Fortaleza. Depois de enfrentarem diversos problemas na organização, familiares, candidatos e profissionais envolvidos tiveram uma surpresa: o organizador foi conduzido à delegacia após deixar de pagar R$ 2,9 mil ao hotel onde todos estavam hospedados para o evento. O desfile final do concurso Miss e Mister Ceará Franquias nunca aconteceu.
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Eram cerca de 35 participantes, incluindo crianças e adolescentes de idades entre 3 e 19 anos vindas de diversas cidades, como Fortaleza, Pacatuba e Quixadá. Em comum, eles tinham o sonho da premiação final: o valor da inscrição para representar o Ceará para um concurso nacional de beleza e brindes conseguidos em parceria.
Quem pagou pelas inscrições no concurso estadual teria direito à hospedagem, refeições e atividades durante o sábado (14) e o domingo (15). Houve também venda de ingressos, no valor de R$ 25 reais, para quem quisesse assistir o desfile.
Segundo testemunhas, o organizador, conhecido como Paulo Vitor Pereira Nunes, deixou de pagar vários profissionais, pedia dinheiro constantemente aos familiares dos candidatos e deixou de pagar a segunda parte que devia ao hotel, no Centro de Fortaleza.
Organizador de concurso é detido por não pagar hotel de candidatas a miss e evento é cancelado
Reprodução
Ele foi levado pela Polícia na tarde do domingo (15), quando os participantes estavam se preparando para o desfile final, que fecharia as atividades do concurso. Depois de voltar da delegacia, ele pagou os R$ 2,9 mil que faltavam para pagar o hotel. Após esse episódio, familiares e profissionais relatam dificuldade em conseguir contato com Paulo.
Confusão na saída do hotel
Familiares, preparadores e candidatos ficaram hospedados no estabelecimento graças a um primeiro pagamento efetuado. Outros episódios já desgastavam os participantes antes que o desfile final fosse cancelado. Um exemplo foi a alimentação, que havia sido prometida pelo organizador como incluída no evento.
De acordo com a influenciadora Paula Rocha, modelo plus size convidada para ser apresentadora do evento, os participantes não tiveram almoço e, para o jantar, foram levados a uma pizzaria sem direito a consumir bebidas. Outras irregularidades estavam nas mudanças de horários das atividades.
A empresária Jailena Lima, mãe de uma participante de 16 anos, conta que o organizador teria feito as crianças e adolescentes andarem a pé durante a madrugada para fazer uma sessão de fotos nas estruturas do Centro Cultural Dragão do Mar, a cerca de 1 quilômetro da hospedagem. Crianças e adolescentes ainda ficaram ensaiando durante a madrugada para o desfile do dia seguinte.
Na tarde do domingo (15), a chegada da Polícia Militar para levar o organizador antes do desfile instaurou uma cena de desespero na recepção do hotel, com crianças e adolescentes abalados e familiares revoltados com a situação.
“O coordenador e dono do concurso pediu de cada candidata R$ 1,5 mil e, no final das contas, não pagou o hotel. Ele deu um ‘sinal’ de entrada, segundo o pessoal do hotel, e o restante ele não deu. E não comunicou à gente que não tinha pago. E o hotel pressionando ele pra pagar. E na última hora pra começar o concurso, todo mundo maquiada, todo mundo produzida com vestido de festa, com trajes caríssimos que alugaram, com o gasto imenso que fizeram, a gente teve a informação de que o coordenador estava sendo preso”, relembrou Paula Rocha.
Na ocasião, funcionários do estabelecimento não permitiram que os participantes fossem até os quartos para retirar seus pertences ou tirassem os carros do estacionamento. Os familiares e profissionais acionaram a Polícia mais uma vez para mediar a situação.
João Lorenzo, que é Mister Cidadania Gay Ceará 2024, era um dos convidados para integrar o júri do concurso. Ele conta que só conseguiu sair do hotel por volta das 23 horas, pois era um dos hóspedes que estava sendo impedido de sair do local por conta da confusão pela falta de pagamento.
O g1 entrou em contato com o hotel, que informou que o problema já havia sido resolvido no domingo (15) e que não se manifestaria sobre os detalhes da situação nem sobre valores ou quantidades de quartos reservados para a realização do evento.
A reportagem do g1 também fez contato com Paulo Vitor Pereira. Por meio de mensagem, ele respondeu que não estava em condições psicológicas de falar sobre o caso.
Valores e sonhos envolvidos
O mesmo concurso já havia sido realizado em Fortaleza em 2023. O evento tinha transcorrido sem problemas, o que fez com que Paula Rocha confiasse no concurso e até estimulasse outras pessoas a participarem. Depois do ocorrido, ela faz questão de denunciar a situação e de esclarecer que não compactua com as atitudes do organizador.
“Teve pessoas que se prepararam durante um ano com gastos horrendos com os trajes de várias etapas do concurso, preparação de passarela…”, enumera Paula.
Para que a filha participasse pela primeira vez, Jailena Lima estima que tenha gasto cerca de R$ 4 mil, envolvendo as inscrições para o concurso, os trajes, camisas e atividades propostas por Paulo Vitor antes do evento.
Durante a etapa de confinamento no hotel, a filha de Jailena chegou a ligar para ela avisando que ficaria sem almoço. Foi o pai da adolescente quem foi até o hotel levando uma refeição para ela. Enquanto isso, ela diz que Paulo Vitor entrava em contato com ela pedindo ajuda de até R$ 600 para suprir o que estava faltando.
“Foram várias pessoas, não era só a gente. Ele chegou a pedir R$ 1,8 mil pra uma mãe. Foram dias de muita humilhação, constrangimento… Eu não tô atrás de ressarcimento, do que eu tenho direito. Eu tô falando em nome daquelas crianças que eu tive que abraçar e olhar nos olhos e ver tanta gente de origem humilde que não sabe o que fazer, tanta gente que foi enganada”, partilha Jailena.
A empresária registrou um boletim de ocorrência, na noite do domingo (15), denunciando Paulo Vitor pelo crime de estelionato. Ao ir para a delegacia, ela levou duas crianças que ficariam desamparadas, pois a mãe delas não chegaria a tempo do município de Pacatuba para buscá-las.
Jailena conta, ainda, que várias mães de participantes continuam em contato para conversar sobre o que passaram. A partir desses relatos, ela soube que uma das crianças teria sido internada após um quadro de taquicardia. O organizador saiu do grupo por onde se comunicava com as mães e bloqueou o contato de várias delas.
Segundo João Lorenzo, que estaria no júri do concurso e ajudou na maquiagem de participantes, é difícil precisar os valores que o organizador levou de cada pessoa. Isso porque ele estava constantemente mandando mensagens para pedir ajudas e transferências em dinheiro, com valores diferentes para cada um, antes e durante o evento.
“Isso me deixa com o coração partido porque tem pessoas que estavam ali que ficam com os sonhos destruídos. São pais e mães que não vão mais querer que os seus filhos façam parte de concursos de beleza”, lamenta João Lorenzo.
O g1 procurou a Secretaria da Segurança Pública para perguntar sobre outros boletins de ocorrência contra o organizador e sobre as ocorrências policiais do domingo (15) envolvendo o concurso. Não houve resposta até a publicação desta reportagem.
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