Embraer faz 1ª venda do Super Tucano no padrão Otan

avião

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Poucos dias depois de abocanhar seu sexto cliente da Otan para o avião de transporte KC-390, a Embraer anunciou nesta segunda (16) sua primeira venda do avião de treinamento e ataque leve Super Tucano configurado para o padrão da aliança militar ocidental.

Portugal irá comprar 12 unidades do chamado A-29N, N de Nato, a sigla inglesa do clube de 32 nações lideradas pelos Estados Unidos.

O negócio deverá somar, segundo estimativa do mercado, o equivalente a R$ 1,2 bilhão. Ele era dado como certo há um ano, quando foi assinado um memorando da empresa paulista com a fabricante paulista -que anunciou um investimento de R$ 540 milhões para montar o caça em Portugal.

Ele já tem algumas de suas partes feitas pela Ogma, empresa aeronáutica da qual a Embraer detém 65%.

Ela já faz parte do KC-390 e está sendo preparada para dar manutenção aos mesmos instrumentos padrão Otan instalados no A-29N.

O padrão incorpora aviônicos avançados e sistemas como Link 16, que padroniza a troca segura de informações entre qualquer aeronave pertencente à aliança. Essas capacidades já estão disponíveis nas versões do cargueiro, a C-390 de transporte multimissão e a KC-390, que inclui reabastecimento aéreo.

O primeiro cliente de exportação do KC-390 foi justamente Portugal, que já recebeu 2 dos 5 aviões encomendados.

Na Otan, também vão operar o modelo a Hungria, Holanda, República Tcheca, Suécia e, como foi anunciado na semana passada, a Eslováquia. Além disso, os austríacos, que não são da Otan mas trabalham em consonância com a aliança, também escolheram o cargueiro.

O grande ponto de venda do Super Tucano, considerado por analistas o melhor caça leve turboélice do mundo, é sua versatilidade e baixo custo de operação.

Isso pode torná-lo não só atrativo para países europeus atrás da renovação de aviões de treinamento como o Alpha Jet ou o Pilatus, mas também aviões de ataque baratos.

A hora-voo de um Super Tucano fica na casa dos US$ 1.000 (R$ 6.100 hoje), ante cerca de US$ 35 mil (R$ 213 mil) de um caça americano de quinta geração F-35, que está se tornando o padrão na linha de frente dos países da Otan.

Os clientes potenciais mais óbvios são justamente aqueles que escolheram o KC-390, até pela relação já azeitada com a fabricante brasileira. A Holanda figura no topo da lista dos interessados.

Na nova versão, o Super Tucano pode disparar praticamente toda a gama de mísseis e bombas, desde que compatíveis com seu peso operacional, de aviões mais sofisticados. Por óbvio, ele não concorre com aviões de caça a jato da aliança, como o F-35 ou o Eurofighter Typhoon, mas pode fazer muitos serviços associados aos venerandos F-16.

O modelo é um dos sucessos da Embraer, introduzido na Força Aérea Brasileira em 2004 para substituir o Tucano, outro avião com boa aceitação no mercado. Na Otan, a França chegou a operar 50 desses modelos mais antigos, mas já os aposentou, como aeronave de treinamento.

O avião tem 20 clientes no mundo todo, e seu maior operador é o Brasil, com 81 unidades em uso segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (Londres). Foram vendidos mais de 260 aparelhos, que acumularam 570 mil horas de voo, 60 mil delas em combate real.

Antes de virar padrão Otan, o Super Tucano foi comprado pelos Estados Unidos em dois lotes que somaram 26 aeronaves. Só que elas não foram operadas pelos americanos, e sim doadas para a incipiente Força Aérea do Afeganistão.

Quando o grupo Talibã retomou o poder no país, em 2023, havia 23 desses caças por lá. Ao menos 14 foram levados para o Uzbequistão, com alguns deles sendo repatriados para os EUA, mas um número incerto está sem operação no país asiático.

Nesse sentido, as primeiras vendas do Super Tucano para a Otan foram essas para os americanos, em 2011 e 2017, mas o avião nunca serviu à aliança. Agora, o jogo é outro, com a Embraer ampliando seu espaço a partir de nichos identificados no maior grupo militar do planeta, que tem ampliado seu gasto devido ao novo ambiente de insegurança disparado pela Guerra da Ucrânia.

Além disso, Donald Trump reassume a Presidência dos EUA em janeiro com seu tradicional discurso de cobrar os europeus a gastarem mais com sua defesa, sempre colocando a carta da impensável saída da Otan na mesa.

No seu primeiro mandato (2017-2021), a pressão deu certo, e a invasão de Vladimir Putin em 2022 mudou tudo de vez: se em 2014 apenas 3 dos então 28 membros cumpriam a meta de despender ao menos 2% do PIB com defesa, dez anos depois 23 dos agora 32 integrantes o farão.

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