Lares alugados têm alta e abrigam 20,9% da população no Brasil, diz Censo

LEONARDO VIECELI E CLAYTON CASTELANI
RIO DE JANEIRO, RJ E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Uma parcela maior dos brasileiros está vivendo em domicílios alugados, indicam novos dados do Censo Demográfico divulgados nesta quinta-feira (12) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Conforme o órgão, 20,9% da população morava em imóveis do tipo em 2022, o equivalente a 42,2 milhões de habitantes. No levantamento anterior, de 2010, a proporção era menor, de 16,4%. À época, 31,2 milhões viviam de aluguel.

A contagem de 2022 foi a segunda consecutiva em que o percentual da população em imóveis alugados teve crescimento. O patamar de 20,9% é o maior de uma comparação do IBGE que reuniu dados dos últimos cinco recenseamentos, desde 1980.

Já a proporção que mora em imóveis próprios recuou pela segunda vez consecutiva, mas ainda é, com folga, a mais representativa.

Em 2022, 72,7% dos brasileiros residiam nesses endereços, ante 75,2% em 2010. Os percentuais consideram moradias próprias já pagas, herdadas, ganhas ou ainda em financiamento.

Bruno Perez, analista do IBGE, diz que os dados do Censo, isoladamente, não permitem apontar as causas do aumento da população em domicílios alugados. Porém, a procura por esses lares muitas vezes está associada a fluxos migratórios, segundo o pesquisador.

Cidades do Centro-Oeste, por exemplo, ficaram marcadas por atrair pessoas de outros locais nos últimos anos. A região é conhecida pelo potencial do agronegócio, que ganhou relevância na economia nacional.

O Centro-Oeste teve a maior proporção de habitantes em domicílios alugados: 26,7% em 2022. O percentual local era menor, de 21,5%, em 2010.

Sudeste (23,5%) e Sul (21%) também apresentaram proporções mais elevadas na comparação com o dado nacional em 2022 (20,9%). Norte (14,9%) e Nordeste (16,8%) ficaram abaixo.

“O que podemos afirmar com certeza é que [o aumento do aluguel] é um processo nacional, que ocorreu em todas as unidades da Federação e em quase todas as grandes cidades. Também é possível identificar que a ocorrência de domicílios alugados é maior nos municípios e unidades da Federação de maior rendimento médio”, diz Perez. Ele cita Distrito Federal, Santa Catarina e São Paulo como exemplos.

Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso (a 333 km de Cuiabá), tinha 52% da população em imóveis alugados em 2022. Era o único município do país com mais da metade dos habitantes nessa condição, segundo o IBGE.

Campo Novo do Parecis (47,5%), também em Mato Grosso (a 392 km da capital), veio na sequência. Já o menor percentual do país foi o da cidade piauiense de Santo Antônio dos Milagres (a 125 km de Teresina), 0,5%.

Em Lucas do Rio Verde, as promissoras safras de grãos atraíram grande contingente populacional em busca de oportunidades, o que gerou uma onda de procura por imóveis.

O crescimento foi vertiginoso. De apenas 6.693 habitantes em 1991, o local saltou para 83.798 em 2022, ou 1.152% a mais, segundo dados do Censo reunidos pela prefeitura.

Um levantamento divulgado pelo Ministério da Agricultura, com base em estatísticas do IBGE, mostrou que Lucas do Rio Verde é o 20º município mais rico da agricultura brasileira, com R$ 3,6 bilhões de valor de produção em 2023.

A lista é liderada por Sorriso, cidade vizinha, com R$ 8,3 bilhões.

No município de São Paulo, a proporção de habitantes em domicílios alugados foi de 27,1% em 2022, acima do dado nacional (20,9%). O percentual que havia sido registrado na capital paulista era menor em 2010 (22%).

Entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, o catarinense Balneário Camboriú (a 86 km de Florianópolis) teve a maior proporção de pessoas em domicílios alugados em 2022: 45,2%.

A cidade passa por boom do setor imobiliário, marcado pela construção de arranha-céus com apartamentos de luxo e preços milionários.

“Ainda não é possível fazer uma análise mais detalhada a partir do Censo 2022, pois ainda não temos os dados sobre rendimento. Mas sabemos por meio de outras pesquisas do IBGE que, de modo geral, a parcela de pessoas vivendo de aluguel está muito relacionada ao rendimento”, apontou Perez.

Em 2022, a proporção de habitantes em domicílios alugados em Santa Catarina (25,6%) só foi menor do que no Distrito Federal (30,1%), em Goiás (26,8%) e em Mato Grosso (26,2%). São Paulo (25,2%) completa a lista dos cinco primeiros.

O Piauí, por sua vez, teve o percentual mais baixo (9,8%). Em Roraima, estado que vem recebendo migrantes venezuelanos, a proporção de pessoas em lares alugados foi de 22,9% em 2022. Houve um salto ante 2010 (12,7%).

“De forma mais localizada, em algumas regiões é plausível supor que o aumento da participação dos domicílios alugados esteja associado a fluxos migratórios recentes -casos de Roraima e Mato Grosso, onde a proporção da população residindo em domicílios alugados aumentou em 10,2 pontos percentuais e 8,3 pontos percentuais desde 2010”, afirmou Perez.

ALUGUEL É MAIOR EM LARES DE MULHERES SEM CÔNJUGE E COM FILHOS

O aluguel era realidade em 35,8% dos lares do Brasil que tinham uma pessoa de 15 anos ou mais e pelo menos uma criança de 0 a 14 anos.

Tipicamente, essa composição domiciliar é formada por mulheres sem cônjuge e com um ou mais filhos, de acordo com o IBGE.

A segunda maior proporção foi verificada entre os domicílios unipessoais (27,8%), aqueles com apenas um morador.

LOCAÇÃO CRESCE ENTRE JOVENS E RECUA ENTRE IDOSOS

O Censo também traz um comparativo de faixas de idade. A parcela da população que vivia em domicílios alugados tem “crescimento expressivo” na passagem dos 15 a 19 anos (21,3%) para o grupo de 20 a 24 anos (27,8%), diz o IBGE. O percentual alcança o pico entre os brasileiros de 25 a 29 anos (30,3%).

“Essas faixas etárias coincidem com idades típicas de processos muitas vezes associados à saída do jovem da casa de seus pais, como ingresso no mercado de trabalho ou no ensino superior”, afirma o instituto.

Nas faixas de idade seguintes, a proporção que paga aluguel decai gradualmente, até atingir o menor patamar entre os idosos de 70 anos ou mais (9,2%).

O movimento se inverte quando a análise se volta para os imóveis próprios já pagos, herdados ou ganhos. A proporção de habitantes em domicílios com esse perfil aumenta entre os mais velhos.

Em 2022, 84,4% dos idosos de 70 anos ou mais moravam em lares próprios já pagos, herdados ou ganhos. É o maior percentual observado na pesquisa.

No recorte de cor ou raça, a maior parcela de moradores em domicílios alugados foi registrada entre os pretos, 22,4%. Pardos (20,9%), brancos (20,6%) e amarelos (20%) vieram na sequência.

O IBGE diz que a condição de moradia varia relativamente pouco nos perfis de cor ou raça, com exceção dos indígenas. Nesse grupo, a parcela de habitantes em situação de aluguel foi de 10,2%.

Ainda de acordo com o Censo 2022, a proporção de pessoas em imóveis próprios já pagos, herdados ou ganhos superou 50% em 5.240 municípios brasileiros.

A parcela em domicílios próprios que ainda estavam em pagamento não foi majoritária em nenhuma cidade. Essa categoria, no entanto, atingiu valores considerados elevados em locais como Extremoz (45,3%), no Rio Grande do Norte, Valparaíso de Goiás (41,4%), em Goiás, e Fazenda Rio Grande (40,7%), no Paraná.

São locais que tinham grandes empreendimentos do programa Minha Casa Minha Vida, segundo o IBGE.

Nas cidades com mais de 100 mil habitantes, a parcela total de pessoas em domicílios próprios variou de 91,9% em Cametá, no Pará, a 50,4% em Sorriso, em Mato Grosso.

Considerando os diferentes tamanhos das cidades, o maior percentual foi verificado em Guaribas (96,9%), no Piauí, e o menor, em Paraíso das Águas (41,8%), em Mato Grosso do Sul.

IMÓVEIS COM MAIS DE SEIS CÔMODOS ESTACIONAM

O IBGE também divulgou a evolução dos domicílios de acordo com o número de cômodos desde 1970.

Os lares menores, de até três cômodos, perderam participação continuamente em relação ao total, passando de 29,1% em 1970 para 9% em 2022.

Os domicílios de quatro cômodos também apresentaram declínio contínuo. O movimento, porém, foi menos acentuado, de 21,9% em 1970 para 15% em 2022.

No sentido contrário, moradias maiores, de cinco cômodos, aumentaram a participação. Cresceram de 19,4% em 1970 para 29,5% em 2022.

Entre os domicílios de seis cômodos ou mais, o IBGE identificou tendência de crescimento de 1970 (29,5%) a 2000 (45,7%) e relativa estabilidade nas décadas seguintes (46,6% em 2010 e 2022).

O provável motivo dessa interrupção, diz o instituto, é a queda do número médio de moradores por lar.

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