Segurança alimentar do DF ainda enfrenta desafios

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Por Camila Coimbra
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A segurança alimentar no Distrito Federal tem apresentado avanços nos últimos anos, mas ainda enfrenta desafios, principalmente em regiões mais vulneráveis. De acordo com o Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), cerca de 21% dos domicílios na capital apresentam algum grau de insegurança alimentar. A situação afeta de forma mais severa lares chefiados por mulheres negras, mães solos e famílias com crianças pequenas ou pessoas com deficiência.

O suplemento Segurança Alimentar no Distrito Federal: Um Panorama Sociodemográfico, divulgado em dezembro, revela que a insegurança alimentar é mais grave em regiões como Sol Nascente, Ceilândia, Itapoã e Varjão. No Sol Nascente, 12,7% das moradias convivem com a incerteza quanto à quantidade e qualidade de alimentos. Para conter esses números, o governo inaugurou, em 2023, o segundo restaurante comunitário na região, tornando o Sol Nascente a única área administrativa com duas unidades do tipo.

A pesquisa do IPEDF destaca que a insegurança alimentar é mais prevalente em lares com crianças. Enquanto 17% das casas com apenas adultos enfrentam dificuldades, esse número aumenta para 23,2% quando há pelo menos uma criança ou adolescente. Em domicílios com três ou mais jovens, a situação se agrava: quase metade (47,2%) vive em algum nível de insegurança alimentar.

O estudo também trouxe dados alarmantes sobre grupos específicos. Em domicílios com pessoas com deficiência (PCDs), 41,9% apresentam algum grau de insegurança alimentar, sendo 11,2% em situação grave, caracterizada pela fome. Além disso, famílias que destinam mais de 30% da renda ao aluguel também apresentam alta prevalência de insegurança alimentar, atingindo 43%.
Os dados também mostram que famílias chefiadas por mulheres negras são as mais impactadas. Entre as mães solos negras com filhos de até 6 anos, 41,5% enfrentam redução na quantidade e qualidade dos alimentos. Em contraste, lares liderados por homens não negros apresentam uma prevalência de apenas 11,5%.

A subsecretária de Segurança Alimentar e Nutricional da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes-DF), Vanderlea Cremonini, destacou a importância da política intersetorial de segurança alimentar no Distrito Federal. Segundo ela, diversas frentes do governo estão mobilizadas para reduzir os índices de insegurança alimentar, abrangendo iniciativas que vão desde a geração de emprego e renda até a distribuição de merenda escolar.

“As escolas desempenham um papel crucial, especialmente no atendimento às crianças, que são um dos grupos mais impactados pela insegurança alimentar. Além disso, contamos com o apoio da Secretaria de Agricultura, que fomenta a agricultura familiar e contribui com a entrega de alimentos e insumos para produção local”, explicou Cremonini.

Entre os principais programas, a subsecretária destacou o Cartão Prato Cheio, que beneficia 100 mil famílias com um auxílio mensal de R$ 250. Para acessar o programa, o cidadão deve buscar uma unidade de assistência social, como CRAS ou CREAS, onde passará por uma análise com base na Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). Após aprovação, o benefício é concedido por nove meses, período em que se espera que o beneficiário adquira autonomia.

Outro programa essencial é o dos restaurantes comunitários, que oferecem refeições saudáveis a preços acessíveis. Atualmente, o DF conta com 18 unidades espalhadas por diversas regiões administrativas. Desde 2019, o valor do almoço foi reduzido de R$ 3 para R$ 1, e agora há também café da manhã e jantar em 11 dessas unidades, com preços de R$ 0,50 cada. “Estamos ampliando o serviço para que todos os restaurantes ofereçam as três refeições diárias, de domingo a domingo, inclusive feriados”, informou Cremonini.

Além disso, a Sedes-DF disponibiliza cestas básicas emergenciais para famílias em situação crítica. Essas cestas contêm alimentos minimamente processados e uma cesta verde com produtos da agricultura familiar, totalizando 45 quilos de alimentos, suficientes para suprir as necessidades de uma família por até 20 dias.

Para pessoas em situação de rua, a política inclui refeições gratuitas nos Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centros POP), que oferecem quatro refeições diárias. Essas pessoas também têm acesso gratuito às refeições nos restaurantes comunitários, mediante cadastro nas unidades de assistência social.

Vanderlea reforçou que a alimentação é um direito constitucional e um elemento essencial para o desenvolvimento humano. “A segurança alimentar é básica e superior a muitos outros direitos, pois garante as condições mínimas para que a pessoa possa estudar, trabalhar e conquistar autonomia. Nosso objetivo é não deixar ninguém para trás”, concluiu.

Nos últimos anos, o número de restaurantes comunitários foi ampliado: de 14 unidades em 2022 para 18 em 2024. Há ainda a previsão de inaugurar mais um restaurante em Ceilândia até 2026, ampliando ainda mais o alcance da política de segurança alimentar no DF.

Esses estabelecimentos são estratégicos para atender regiões com maior vulnerabilidade. Unidades localizadas em áreas como Arniqueira, Paranoá e Samambaia oferecem até três refeições por dia. Em outras regiões, como Ceilândia e Sol Nascente, além do almoço, também são servidos café da manhã e jantar, ampliando o alcance das ações.

“Nosso compromisso é garantir que todos tenham acesso à alimentação digna. A fome afeta diretamente a saúde, o aprendizado e a dignidade das pessoas. Estamos empenhados em não deixar ninguém para trás”, enfatizou a subsecretária Vanderléa Cremonini.
Restaurantes comunitários no DF

Os restaurantes comunitários desempenham um papel crucial no combate à fome e à insegurança alimentar, oferecendo refeições a preços simbólicos:

Unidades que servem café da manhã, almoço e jantar: Arniqueira, Brazlândia, Itapoã, Paranoá, Planaltina, Recanto das Emas, Samambaia Expansão, São Sebastião, Sobradinho, Sol Nascente/Pôr do Sol e Varjão.
Unidades que servem café da manhã e almoço: Ceilândia, Estrutural, Samambaia e Sol Nascente.

Unidades que servem somente o almoço: Gama, Riacho Fundo II, Santa Maria.

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