Quando o poderio do crime se cruza e desafia os poderes constituídos

Irismar Cruz Machado, a Rainha do Garimpo, na Terra Indígena Yanomami (Foto: site Metrópoles)

Embora não se trate de um tema necessariamente recente, somente agora a imprensa nacional está descobrindo o que se passa em Roraima quando se trata de ações praticadas por facções criminosas, especialmente uma facção venezuelana, e a máfia que tem agido a partir do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. Mesmo que sejam fatos distintos, eles acabam se cruzando de alguma forma.

Nos últimos dias, tem sido divulgadas várias matérias sobre o poder do El Tren de Aragua, a temida facção venezuelana com tentáculos em vários países da América do Sul, a qual vem dominando o tráfico de droga em alguns bairros importantes de Boa Vista, Capital de Roraima, com acertos de conta a qualquer hora do dia e da noite em locais movimentados, coincidentemente onde rondas ostensivas são falhas.

Outro fato que tem ganhado destaque na mídia nacional (em especial o site Metrópoles) é a ação de uma família em que mãe e filho comandam garimpos ilegais na Terra Yanomami com o controle de uma milícia de mercenários e capangas armados com fuzis e equipamentos de guerras que impõem o terror a garimpeiros rivais e a indígenas ou quem ouse a não atender às suas ordens.

Cabeças do grupo criminoso, a mãe se chama Irismar Cruz Machado, a Rainha do Garimpo, e o filho é Pablo Severo Machado, conhecido como o Príncipe do Garimpo. Eles são donos do Garimpo da Iris, às margens do Rio Uraricoera, onde não apenas exploram ilegalmente a extração de ouro e cassiterita, como também praticam extorsão a garimpeiros sob fortes ameaças de seu bando.

Para se ter uma ideia do incrível poderio, a família é apontada como mandante do que ficou conhecido como Massacre de Palimiú, em maio de 2021, quando seu bando atacou a tiros e bombas os indígenas da comunidade de Palimiú como retaliação às ações dos Yanomami de bloquear a região para impedir o avanço do garimpo ilegal.

O poder de fogo é tão grande da Rainha do Garimpo que até mesmo integrantes da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), que também age no garimpo ilegal, temem enfrentar o grupo de seguranças da família, que é chamado de “The Expendables” (inspirado no filme Os Mercenários), os quais impõem ordem e terror com fuzis e munições de uso restrito.

É aqui onde os fatos se cruzam, pois a criminalidade que se vê em Boa Vista e outros municípios que circundam as áreas de garimpo ilegal na Terra Yanomami é reflexo dessa guerrilha mantida nas frentes garimpeiras, onde prevalecem os tráficos de droga, de armas e munições. A facção venezuelana também age em sociedade com a facção brasileira tanto no garimpo ilegal quanto na disputa pelo tráfico de droga na Capital.

Esse cenário de guerra e terror que se vê em Roraima, nos dias de hoje, é o que restou do “liberou geral” do garimpo ilegal na Terra Yanomami no governo passado. Com muito dinheiro em jogo, na casa dos bilhões, o garimpo ilegal contaminou a política, a polícia e outros setores da sociedade, conforme vêm mostrando as seguidas operações da Polícia Federal.

Enquanto esse poderio criminoso não for freado e completamente sufocado, Roraima continuará sob o risco de se tornar um narcoestado, com autoridades e familiares envolvidas e/ou investigadas em grandes escândalos, incluindo policiais militares. E tudo isso vinha sendo bem disfarçado até a imprensa nacional descobrir detalhes das operações da PF.  

Tem muito mais a vir à tona…

*Colunista

[email protected]

O post Quando o poderio do crime se cruza e desafia os poderes constituídos apareceu primeiro em Folh BV.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.