Perto de se aposentar, Milton Leite quer eleger afilhado de escola de samba para presidência da Câmara Municipal de SP em 2025


Silvão Leite é atual presidente da agremiação ‘Estrela do 3° Milênio’, do Grajaú. Em janeiro, ele assume seu 1º mandato como vereador. Oposição e a própria base do prefeito criticam a indicação de Milton Leite e pedem alguém mais experiente para comandar o Legislativo. O presidente atual da Câmara, Milton Leite (União Brasil), com seu afilhado político Silvão Leite, da escola de samba Estrela do 3° Milênio.
Reprodução/Instagram
Prestes a se aposentar da política, o atual presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Milton Leite (União Brasil), trabalha nos bastidores para fazer seu principal afilhado político como novo presidente do Poder Legislativo da capital paulista.
A eleição da Câmara acontece no dia da posse dos 55 novos vereadores, em 1° de janeiro de 2025.
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Nos bastidores, os vereadores comentam que o escolhido por Leite para a disputar o cargo é o vereador eleito Silvão Leite (União Brasil), seu principal apadrinhado e atual presidente da escola de Samba Estrela do 3° Milênio, da região do Grajaú, extremo Sul da capital paulista.
Publicamente, Leite nega e diz que o União Brasil ainda não decidiu um nome e que trabalha para ter um consenso dentro do partido (veja mais abaixo).
Com o nome de batismo de Silvio Antônio Azevedo, Silvão Leite foi eleito no pleito de outubro adotando o sobrenome do padrinho e exercerá mandato na Câmara Municipal pela 1ª vez, após ter conquistado quase 64 mil votos na eleição deste ano.
Apesar de não fazer parte oficialmente da família Leite, o sambista adotou o sobrenome nas urnas para justamente atrair os votos dele na região onde os dois atuam, o extremo Sul de SP.
Junto com ele, Milton Leite também ajudou a eleger mais dois para o Poder Legislativo da capital: Silvinho, ex-subprefeito de M’Boi Mirim, e a pastora Sandra Alves, todos do União Brasil, partido presidido pela família Leite em São Paulo.
Sem experiência política nenhuma, Silvão é considerado pela oposição apenas como “alguém que vai ocupar o 2° cargo político mais importante da cidade a serviço do padrinho”.
Antes e depois: o vereador eleito Silvão Leite como presidente da escola de samba do Grajaú e agora como parlamentar eleito que participa em silêncio das reuniões e sessões.
Montagem/g1/Reprodução/Instagram
Desde a eleição, vários parlamentares têm narrado que Silvão frequenta as sessões e comissões da casa silenciosamente. Ele observa todos os movimentos em silêncio, sem fazer intervenções e se apresenta para um ou outro parlamentar que vai puxar assunto.
Essa presença em plenário de um vereador que ainda não assumiu o mandato é considerada incomum entre os parlamentares que estão há anos no Poder Legislativo.
Os opositores afirmam que Leite tem o discurso de que vai deixar os holofotes e voltar para a sua construtora pessoal, mas dá sinais de que tem total interesse em continuar influenciando os rumos da política na maior cidade da América Latina.
“Essa possível indicação do Silvão sinaliza que o Milton Leite vai sair, mas quer deixar negócios ainda pendentes na Câmara… Se ele for realmente o indicado, é uma desmoralização para a base do governo Nunes. Porque, nesses últimos quatro anos, a base entregou os votos que o prefeito queria nos projetos mais absurdos. É impossível, no meio de tanta gente, não ter alguém mais experiente para chegar à Presidência”, afirmou a vereadora Luana Alves, do PSOL.
Os vereadores eleitos e reeleitos para 2025: Luana Alves (PSOL), Márcio Kenji (Podemos) e Alessandro Guedes (PT).
Montagem/g1/Rede Câmara
Críticas da futura base
Por causa da total inexperiência política de Silvão, Milton Leite tem esbarrado em críticas sobre o sucessor dentro da própria base futura e atual do governo Nunes na Câmara.
Os próprios aliados defendem que o presidente seja alguém com mais experiência política e história dentro do Legislativo. Nunca um parlamentar de 1° mandato foi eleito logo de cara para a Presidência da Casa.
Os futuros vereadores argumentam que, na próxima legislatura, vários parlamentares considerados mais histriônicos e populistas de redes sociais assumirão seus mandatos.
Isso significa que deve haver mais confrontos e bate-boca público no plenário, o que exigirá traquejo e pulso firme da Presidência e dos demais membros da Mesa Diretora para evitar mais desgastes à imagem já arranhada do Legislativo na sociedade paulistana.
“O critério político [para ser presidente] tinha que ser baseado em experiência, no mínimo. Uma pessoa que acabou de ser eleito na primeira legislatura tem inexperiência no trabalho político. Numa cidade como São Paulo, com mais de 11 milhões de habitantes, a Câmara não pode estar a mercê de uma pessoa inexperiente”, afirmou o futuro vereador Marcio Kenji Ito, do Podemos, partido da base do prefeito.
“O presidente deve ser alguém competente, probo, dentro da legalidade, da constitucionalidade e de um trabalho em prol da população. Por isso, defendo que alguém mais experiente seja indicado para a Presidência da Câmara”, completou.
A opinião é compartilhada pelo atual 1º Secretário da Casa, o vereador Alessandro Guedes (PT).
“Diante de uma legislatura tão heterogênea como a que foi eleita em outubro, seria importante alguém que tivesse experiência na Casa para poder conduzi-la. Mas esse é um problema do governo. A base tem que olhar para dentro e decidir quem tem condição de atender os interesses do governo diante desse novo cenário”, afirmou o petista.
Acordo PT – União Brasil
Guedes ressalta, entretanto, que o PT tem um acordo público com o União Brasil de ajudar a eleger o nome que o partido indicar para a presidência no próximo ano, independentemente de quem seja o indicado.
“Como maior bancada da casa, nós entendemos que o PT tem que ter garantida a manutenção da 1ª secretaria da próxima Mesa Diretora. Esse é o acordo público com o União Brasil. Não cabe ao PT, que perdeu a eleição pra prefeito, decidir esse nome da base. Mas será um desafio uma nova Câmara heterogênea ser conduzida por alguém sem experiência anterior na política”, disse Guedes.
Enquanto o PT se alia a Milton Leite, o PSOL se reúne na semana que vem para decidir se vai lançar candidata próprio para a presidência em 1º de janeiro e quem será esse nome.
Segundo Luana Alves, a tendência do partido é que um nome seja escolhido para se contrapor aos acordos selados até entre o aliado PT com a base de Ricardo Nunes.
Acordo pré-eleitoral
Ricardo Teixeira e Silvão Leite, afilhado do Milton Leite, vereadores do União Brasil que disputam indicação para a presidência da Câmara em 2025.
Montagem/g1/Rede Câmara
Segundo os bastidores, pelo acordo feito entre os partidos que apoiaram a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) na prefeitura, o União Brasil também tem o direito de continuar presidindo o Poder Legislativo.
A candidatura natural seria do ex-secretário de Transportes de Mobilidade, Ricardo Teixeira (União Brasil), que é o preferido do prefeito para o cargo, por já ter sido secretário municipal e ter muitos anos de vereança.
Ele conta com total confiança do prefeito, mas tem encontrado a resistência dos aliados de Milton Leite, que é presidente estadual do União Brasil e exerce plenos poderes na legenda.
Para garantir a eleição do afilhado, Milton Leite trabalha para que Ricardo Teixeira volte ao posto de secretário municipal, segundo fontes da própria base e até da oposição.
O que diz Milton Leite
O presidente da Câmara Municipal de SP, Milton Leite (DEM)
Afonso Braga/Rede Câmara
Por meio de nota enviada ao g1, Milton Leite reafirmou afirmou que “o acordo para a presidência da Câmara é de que o nome seja do União Brasil”.
“Dentro deste quadro, todos os vereadores eleitos pelo partido têm condições de disputar a cadeira. Este é um assunto que está sendo tratado internamente”, disse.
Em conversa com a GloboNews, Leite admitiu, entretanto, que há uma disputa interna pela indicação.
“Apoiarei qualquer candidato do União, desde que seja do União, conforme acordo prévio. Nós ainda não decidimos quem será o candidato. Há uma pequena disputa interna e, no momento, estamos tentando conciliar”, disse.
“A Câmara é uma coisa e o União Brasil é outra. Nós temos mais seis parlamentares que têm que ser respeitados, senão, perco o voto deles. Essa conciliação tem que ser feita. Não é um consumo externo do União. É interno. E, por hora, o Ricardo Teixeira não é a maioria tranquila dentro do União Brasil. Então, qualquer que seja o candidato, nós vamos ter que construir”, argumentou a futuro ex-vereador.
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