‘Desconfie de profissionais que prometem a cirurgia plástica dos sonhos’, alerta especialista

As recentes denúncias de erros em cirurgias plásticas, realizadas por um médico de Florianópolis, acendem o alerta sobre os riscos dos procedimentos e como deve ser feita a escolha do profissional que fará a operação.

Em entrevista ao ND Mais, o vice-presidente da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) explica o que deve ser considerado pelo paciente e como as redes sociais podem atrapalhar esse processo.

Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica alerta que redes sociais não podem ser decisivas na hora de escolher um especialista (imagem ilustrativa)

Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica alerta que redes sociais não podem ser decisivas na hora de escolher um especialista (imagem ilustrativa) – Foto: Freepik/ Reprodução/ ND

Segundo o cirurgião plástico Marcelo Sampaio, as redes sociais mudaram a forma como as pessoas escolhem um médico. “No passado, sempre se procurava um médico a partir da indicação de amigo, familiar e quem já tivesse feito cirurgia, ou seja, um médico de confiança. Acontece que agora existem as mídias sociais e isso se tornou o grande indicador médico, a grande referência”, afirma.

Para o profissional, o paciente não pode se deixar levar por tudo o que vê nas redes sociais. Apesar de o CFM (Conselho Federal de Medicina) permitir que sejam feitas publicidades médicas nas mídias, é preciso estar ciente sobre o que é permitido e proibido pelo órgão fiscalizador.

“A mídia social constrói autoridades e alguns médicos realmente são, mas outros têm apenas um número enorme de seguidores e, geralmente, são os que aparecem primeiro. É neste momento que a pessoa precisa checar a veracidade daquelas informações”, alerta Marcelo Sampaio.

A resolução 2.336/2023 estabelece que o profissional pode utilizar as redes sociais para mostrar resultados comprováveis de tratamentos e procedimentos, desde que não identifique o paciente. Em contrapartida,  não pode adotar “tom pejorativo, desrespeitoso, sensacionalista ou incompatível com os compromissos éticos exigidos pela medicina”.

Paciente teve lesões permanentes após cirurgia plástica – Foto: Arquivo pessoal/ Reprodução/ ND

Checagem de currículo é fundamental para garantir segurança, diz SBCP

Assim como as redes sociais podem facilitar a promoção de profissionais fraudulentos, elas também auxiliam na checagem das informações desses supostos médicos, evitando cair nas mãos de médicos desqualificados. “A internet permite algumas facilidades e uma rápida pesquisa pode dizer se aquilo ali é verdade, ou não”, destaca Sampaio.

O vice-presidente da SBCP também afirma que procedimentos com preços muito atrativos, ou combinações de múltiplas cirurgias por valores mais acessíveis, são sinais de que o cirurgião não é confiável.

“Preços que estão fora do mercado ou cirurgias parceladas em 50 vezes são indícios de que aquele profissional não é idôneo. Existem regras para divulgação de serviços médicos e isso vai contra o que diz o Conselho”, explica.

Conforme o artigo 9º, inciso VI do Manual da Publicidade Médica, publicado em março de 2024 pelo Conselho Federal de Medicina, é permitido ao profissional realizar a “divulgação dos valores e formas de pagamento de consultas, desde que não caracterizem pacotes ou consórcios”.

O inciso VIII reforça que, ao médico, é “proibido vincular promoções a vendas casadas, premiações e outros que desvirtuem o objetivo final da medicina”.

Também é proibido ao médico, “reportar em suas redes próprias, ou nas de terceiros, insinuações de haver feito descobertas milagrosas”. “Desconfie de profissionais que prometem a cirurgia dos seus sonhos, reforça Marcelo Sampaio.

SBCP oferece capacitações e atualizações para médicos especialistas em cirurgia plástica (imagem ilustrativa)

SBCP oferece capacitações e atualizações para médicos especialistas em cirurgia plástica (imagem ilustrativa) – Foto: Freepik/ Reprodução/ ND

Todo procedimento estético oferece riscos, alerta especialista

A realização de uma cirurgia plástica, assim como de qualquer outro procedimento invasivo, oferece riscos ao paciente. “Toda cirurgia está sujeita a complicações. Qual é o papel de uma sociedade de cirurgia plástica e um médico bem informado? É realizar uma cirurgia segura para que se aproxime de zero, a chance uma intercorrência”, explica Sampaio.

O Conselho Federal de Medicina permite a realização de diferentes procedimentos em uma mesma operação, como uma lipoaspiração e a colocação de próteses de silicone, por exemplo. Mas os cuidados em procedimentos como este, em que o tempo de cirurgia será maior, precisam ser redobrados.

“Existem protocolos para garantir a segurança do paciente. No caso da lipoaspiração, ela não deve ultrapassar o volume retirado de 7% do peso corporal e não deve ultrapassar 40% da superfície corporal. A cirurgia, ou a combinação de cirurgias, deve respeitar esses critérios”, explica Sampaio.

Segundo o cirurgião plástico, os problemas acontecem quando os protocolos não são seguidos antes, durante ou depois das cirurgias. “Quando você vai verificar, são relações multifatoriais: pacientes mal avaliados, indicação incorreta de procedimento, cirurgia muito extensa, volumes que excedem a segurança, condições de assepsia e rigidez do pós-operatório. É sempre é uma série de fatores que levam ao erro”, destaca.

No dia 14 de outubro, um cirurgião plástico, com atuação em Florianópolis, foi indiciado por causar lesões gravíssimas e permanentes em pacientes da capital catarinense. Segundo a investigação, Marcelo Evandro dos Santos cometeu erros que causaram deformidades permanentes em Letícia Mello, que passou por uma cirurgia com o médico no início de 2024.

Paciente de Florianópolis teve que reconstruir parte do corpo após danos irreversíveis causados em cirurgias plásticas

Paciente de Florianópolis teve que reconstruir parte do corpo após danos irreversíveis causados em cirurgias plásticas – Foto: Arquivo pessoal/ Reprodução/ ND

O que faz a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica?

Um médico que deseja atuar como cirurgião plástico precisa, além da formação em medicina e da residência em cirurgia geral, também realizar uma capacitação em cirurgia plástica. Após cumprir todos os requisitos, o profissional passa por uma prova e, se aprovado, será certificado junto à SBCP.

“A função da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica é oferecer para esses especialistas cursos de formação, em todos os estados brasileiros. São mais de 20 congressos, jornadas e simpósios por ano, para garantir que esse profissional esteja sempre atualizado”, afirma Sampaio.

Além de estabelecer protocolos de segurança e qualificar o profissional em cirurgia plástica, a SBCP também presta um importante serviço à população.

“O paciente que está em dúvida sobre um profissional pode entrar no site e procurar se o médico está devidamente registrado na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Lá, pode buscar por estado, por cidade ou pelo nome do médico. Estas informações asseguram se o médico é especialista ou não”, finaliza o vice-presidente da SBCP.

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