Acordo sobre Mariana (MG) enfraquece demanda por indenizações no Reino Unido, diz Vale

NICOLA PAMPLONA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

A Vale entende que o acordo assinado na manhã desta sexta-feira (25) para reparação da tragédia de Mariana (MG) enfraquece a demanda por indenizações em ação no Reino Unido, cujo julgamento foi iniciado esta semana.

“O acordo aqui no Brasil desconstrói os argumentos dos advogados no Reino Unido sobre o problema não estar sendo resolvido no Brasil”, disse nesta sexta o vice-presidente de Assuntos Corporativos da mineradora, Alexandre D’Ambrosio. “Isso cai por terra.”

O acordo, assinado com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio do Planalto, soma R$ 170 bilhões, dos quais R$ 38 bilhões já foram desembolsados. A maior parcela, de R$ 100 bilhões, será paga em 20 anos.

A ação no Reino Unido envolve mais de 620 mil pessoas, 46 governos locais e cerca de 2.000 empresas, que buscam indenização da BHP, sócia da Vale Samarco, empresa que operava a mina cuja barragem se rompeu em 2015, deixando 19 mortos e um rastro de destruição.

Acordo de Mariana foi negociado no governo Bolsonaro antes de pacto sob Lula; relembre O valor estimado da indenização pedida é de 36 bilhões de libras (R$ 266 bilhões) -o que seria o maior valor da história da Justiça britânica e uma das maiores do mundo, segundo a BBC.

“A compensação já foi coberta pelo acordo brasileiro”, afirmou D’Ambrosio, em conferência com analistas para detalhar o resultado financeiro da Vale no terceiro trimestre de 2024. “Portanto, no nosso entendimento, a posição dos réus será muito mais bem defendida.”

Outro argumento é que a conclusão das negociações com autoridades brasileiras, sob supervisão da Justiça, reforça a alegação de que o Brasil é a jurisdição correta para discutir o assunto.

O acordo assinado nesta sexta já teve impacto no resultado trimestral, com a elevação em US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões) nas provisões para o pagamento dos valores negociados. O valor provisionado agora é de US$ 4,7 bilhões (R$ 26 bilhões). :

No quarto trimestre, a Vale prevê desembolsar R$ 3,7 bilhões com o acordo. Em 2025, serão R$ 11 bilhões e os valores vão caindo ao longo dos anos.

Na conferência com analistas, o presidente da Vale, Gustavo Pimenta, afirmou que o acordo marca um capítulo importante para a história da companhia. “O acordo reforça nosso compromisso para com as pessoas, as comunidades e o meio ambiente.”

Ele assumiu com a missão de melhorar o relacionamento da empresa com seus públicos de interesse, entre eles governos e comunidades próximas às suas atividades, após um conturbado processo de sucessão que ganhou contornos políticos.

Nos últimos meses, o governo questionou a demora na assinatura do acordo como argumento para criticar a privatização da empresa. Nesta sexta, Lula voltou a tocar no tema, dizendo que “é muito difícil negociar com uma ‘corporation’, que a gente não sabe quem é o dono”.

Pimenta afirmou que melhorar o relacionamento é um dos três pilares da estratégia futura da companhia, ao lado de melhorar o portfólio de produtos e a eficiência das operações. Nesse sentido, afirma, a Vale quer “construir relações longevas e de confiança”.

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