Quem foi Hildegarda? Santa se dedicou aos estudos de plantas medicinais, vida saudável e espiritualidade


Freira beneditina contribuiu com a ciência ao descrever funções de 485 plantas diferentes. Ensinamentos são aplicados atualmente para uma rotina equilibrada. Santa Hildegarda de Bingen foi uma primeiras a explorar a medicina natural no Ocidente medieval
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Nascida em 1098 no castelo de Böckelheim, na região do Reno, Santa Hildegarda de Bingen foi uma visionária à frente de seu tempo e uma das primeiras a explorar a medicina natural no Ocidente medieval. Freira beneditina, filósofa e mística, ela combinou ciência e espiritualidade ao registrar propriedades medicinais de plantas, práticas de alimentação saudável e cuidados com o corpo e a alma. Suas obras não apenas moldaram o pensamento medicinal da época, mas continuam a inspirar práticas de cura natural e bem-estar até os dias de hoje.
Um exemplo disso é a Dra. Maine Fernandes Oliveira, nutricionista, naturóloga e especialista em Bases da Medicina Integrativa pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. Em 2012, durante seus estudos sobre os precursores da terapia floral, ela foi apresentada aos ensinamentos de Hildegarda de Bingen. A Santa destacou-se pelo seu interesse nas propriedades terapêuticas do orvalho, oferecendo uma visão energética sobre o reino vegetal e seu impacto na saúde.
Para Maine, os ensinamentos de Hildegarda estão alinhados com seu princípio fundamental de que uma boa saúde física depende da harmonia entre os corpos emocional, mental e espiritual.
Pé de alecrim
Marcelo Moraes/EPTV
Atualmente, a nutricionista orienta seus pacientes com base em alguns conhecimentos de Santa Hildegarda. Segundo ela, os cinco pilares da medicina são: nutrir a alma, cuidar da qualidade dos alimentos, viver de forma equilibrada, fortalecer a imunidade e realizar desintoxicações regulares.
Maine explica que, de acordo com os princípios da Santa, quem mantém equilíbrio no que come e bebe terá sangue de boa qualidade e um corpo saudável. Ela ainda ressalta que a digestão não começa na boca, com a mastigação, mas sim na cozinha, ao temperar e cozinhar os alimentos com cuidado e atenção aos condimentos.
“Procuro no dia a dia compartilhar com meus interagentes a importância de se fazer escolhas certas sobre aquilo que é o melhor para nosso corpo e nossa alma, para em seguida, usufruir desta escolha com uma justa moderação, ou seja, nem muito, nem pouco, mas somente o que convém. Isso vale tanto para nossa alimentação como para nossa vida”, pontua.
Pioneirismo na medicina natural
Hildegarda de Bingen descreveu as funções de 485 plantas diferentes.
montsec / iNaturalist
Hildegarda de Bingen descreveu as funções de 485 plantas e conseguiu misturar o mundo espiritual, a prece e a medicina de maneira única para seu tempo. Algumas das principais plantas indicadas por ela e que hoje em dia Maine recomenda aos pacientes são: funcho, feno grego, verbena, lavanda e salvia.
Outro ponto que ela aborda em seus ensinamentos é a importância de uma rotina matinal para reduzir inflamações. Ao despertar, recomenda expor-se à luz solar abrindo a janela e respirando profundamente, o que ajuda a regular o ciclo hormonal. Também sugere olhar para áreas verdes, como forma de abrir os olhos e a mente. Em seguida, orações e agradecimentos são recomendados, pois a gratidão, segundo ela, nos coloca no fluxo da abundância.
Praticar exercícios é indicado para ativar a energia interior, assim como ingerir uma colher de chá de funcho, que ajuda na digestão e combate odores desagradáveis. Além disso, começar o dia com alimentos quentes é visto como essencial para o bem-estar.
Homem e natureza
Ornitólogo Luciano Lima é clicado enquanto observa aves
Eduardo Lacerda/ TG
“O holismo é uma maneira de ver o mundo, o homem e a vida em si como entidades únicas, completas e intimamente associadas. Unir o homem ao Universo (natureza) onde está inserido, visa a integração dos seus aspectos físicos, emocionais e mentais para a promoção, prevenção e manutenção de saúde”, revela a nutricionista.
De acordo com Maine, em um mundo caracterizado pela busca de um sentido existencial mais profundo, onde os valores mais simples são restaurados, cresce a necessidade de reaproximação com a natureza.
Além disso, a profissional explica que a maior dificuldade com os pacientes é fazê-los compreender que são corresponsáveis por sua própria melhora.
Religiosidade e ciência
De acordo com o Padre Antônio Alves, da Paróquia São Marcos em Campinas (SP), Santa Hildegarda é reconhecida na igreja como uma das primeiras santas da história, em um período em que era incomum para as mulheres terem acesso aos estudos e à pesquisa.
Ele ainda afirma que Hildegarda contribui não somente para a Igreja Católica, mas também para o desenvolvimento da sociedade e das ciências. “É algo gratificante para nós”.
“Desde criança, Santa Hildegarda demonstrava uma admiração extraordinária e sobrenatural pela natureza, pelas plantas e pelas flores. Ela tinha um olhar especial para o mundo natural, e foi assim que começou a catalogar as plantas. Hoje, é reconhecida como doutora da Igreja, em grande parte devido à sua significativa contribuição para a evangelização”, explica o Padre Antônio.
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Mário Gomes
Segundo o Padre Antônio, a Igreja Católica sempre considera qualquer inspiração ou qualidade especial nas pessoas como um dom divino. Assim, a capacidade de Santa Hildegarda em identificar e compreender as propriedades das plantas é vista como um presente de Deus.
“Fé e ciência não são duas coisas inseparáveis ou contrárias, elas podem e devem caminhar juntas. Eu diria que a Santa Hildegrada vai nos apresentar justamente isso, no seu modo de ver e lidar com as coisas: Deus, que através da fé, inspira, e essa sabedoria divina pode ajudar no progresso da ciência, medicina, indústria farmacêutica e claro, na fé”, finaliza.

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