Lixo eletrônico: o desperdício silencioso

*Marcelo Souza

Presentes na maioria dos lares e empresas, os equipamentos eletroeletrônicos incluem desde utensílios básicos de cozinha até dispositivos de tecnologias de informação e comunicação, tais como telefones celulares e laptops. Cada produto tem um perfil de vida útil específico, o que significa que possuem diferentes quantidades de resíduos, valores econômicos e potenciais impactos na saúde e no meio ambiente, se reciclados de maneira inadequada. Quando o tempo de vida desse produto termina, ele se torna um resíduo eletroeletrônico (REEE).

Desde 2010 os REEEs aumentaram significativamente: isso se deve principalmente ao fato de que mais pessoas estão tendo acesso a celulares e internet. Por exemplo, o mundo conta com mais de 7,7 bilhões de assinaturas de telefone celular e, no Brasil, 83% dos indivíduos com dez anos ou mais possui telefone celular (NIC.br, 2019). Pode-se dizer que cada morador teve em média 3 aparelhos celulares nos últimos 10 anos, o que equivale a uma vida útil de mais ou menos 3 anos por aparelho.

A rápida obsolescência de dispositivos eletrônicos somado à constante evolução da tecnologia tem dado mais espaço para o descarte inadequado desses aparelhos, representando uma ameaça significativa ao meio ambiente e para a saúde humana. Os dispositivos eletrônicos contêm uma variedade de materiais tóxicos, como mercúrio, chumbo, cádmio e substâncias químicas perigosas. Quando esses produtos químicos entram em contato com o solo e a água, podem poluir o ambiente e prejudicar a fauna e flora local.

O que acontece é que muitos países desenvolvidos enviam seu lixo eletrônico para nações em desenvolvimento, onde é frequentemente processado e manuseado de maneira inadequada, causando danos ambientais e à saúde das pessoas envolvidas nesse processo. Além disso, os dispositivos eletrônicos contêm recursos preciosos, como ouro, prata e cobre, e quando esses aparelhos são descartados em aterros sanitários, esses recursos valiosos são perdidos.

Segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT) com dados de 2022, 97% dos REEE da América Latina não são descartados de forma sustentável, o que soma um valor perdido equivalente a US$ 1,7 bilhão por ano (pelo potencial de recuperação dos materiais preciosos que os compõem). Ainda, de acordo com dados do relatório sobre eletrônicos circulares apresentado no Fórum Econômico Mundial de Davos, de 2019, o lixo eletrônico a nível global tem um valor de pelo menos US$ 62,5 bilhões, o que corresponde ao Produto Interno Bruto (PIB) anual do Quênia.

Existem soluções sustentáveis para lidar com o lixo eletrônico. Isso inclui a reciclagem adequada de eletrônicos, a reutilização de componentes e a doação de dispositivos ainda funcionais para organizações que podem fornecê-los a comunidades carentes. Além disso, muitas empresas agora estão adotando programas de reciclagem e recondicionamento de dispositivos para reduzir o impacto ambiental.

Na minha experiência como empreendedor nesta área, com a reciclagem correta é possível recuperar cerca de 60% de metais preciosos (outro, prata, cobre); 15% de plásticos (que tem uma taxa de reciclagem bem abaixo da de metais devido a complexidade das misturas dos materiais); e 50% de vidro. Posto isso, vemos a importância da presença de empresas focadas no ecossistema de reciclagem e remanufatura de REEE. Desta forma é possível gerar valor a partir de algo que muitos veem apenas como lixo e ainda criar empregos formalizados e com condições justas de trabalhos, além de prevenir a exposição humana a toxicidade de alguns materiais presentes nos dispositivos eletrônicos.

*Marcelo Souza é especialista em economia circular, professor universitário e autor da antologia Reciclagem de A a Z. Também é presidente do Instituto Nacional de Economia Circular, CEO da Indústria Fox – Economia Circular

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