Técnico que discordou do PL sobre urnas diz que cogitou deixar o país por medo

Urnas foram analisadas pela empresa do técnico, que discordou de tese sobre fraude apresentada pelo presidente do PLReprodução/TRE-RN

O relatório da investigação da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 aponta que um dos técnicos que participou da análise das urnas eletrônicas, requerida pelo Partido Liberal, cogitou deixar o país por discordar da conclusão de que o sistema eleitoral não era confiável.

Eder Balbino teve receio de que seu nome se associasse ao questionamento das urnas, que era amplamente promovido por Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados aos seus apoiadores.

A tese apresentada pelo PL, com a qual Balbino discordou, era de que máquinas feitas antes de 2020 eram menos confiáveis e mais suscetíveis a fraude.

“Estou inseguro se devo permanecer no Brasil esses dias ou sair. Minha esposa está sentindo bastante, assim como minhas quatro crianças”, desabafou, em mensagem enviada em 20 de novembro de 2022 ao engenheiro Carlos Rocha, presidente do Instituto Voto Legal.

Estudo contratado pelo PL

O PL contratou presidente Carlos Rocha para realizar a análise das urnas. Ele, por sua vez, subcontratou a empresa de Balbino, a Gaia, para catalogar as urnas em um banco de dados e analisar seus resultados.

O valor pago a Balbino, a quem o presidente do PL e também indiciado no inquérito do golpe, Valdemar Costa Neto, chamou de “gênio lá de Uberlândia”, foi de R$ 13 mil pelo trabalho.

Em 17 de novembro de 2022, ele deixou claro a seu sócio na empresa, Calebe Aires Camargo Garcia, que não concordava com a tese. “Talvez seja bom eles [PL e Instituto Voto] também saberem o que aconteceu, de não concordarmos com o relatório”, afirmou.

Dias depois, entretanto, Valdemar Costa Neto deu uma entrevista coletiva ao lado de Rocha em que anunciou que estava questionando o relatório eleitoral com base no estudo das urnas.

Desconfiança das urnas fazia parte de plano golpista, diz PF

Segundo o relatório da PF, haviam seis núcleos de atuação principais no plano de golpe de Estado. Um deles era, justamente, o de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral, que usava notícias falsas para induzir os apoiadores do ex-presidente a questionarem as urnas e, posteriormente, o resultado das eleições em uma eventual vitória da chapa opositora.

Os outros núcleos, segundo a PF, eram:

  • Núcleo Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao Golpe de Estado;
  • Núcleo Jurídico;
  • Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas;
  • Núcleo de Inteligência Paralela;
  • Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas.
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