Esgoto tratado em Manaus: desafios e avanços na expansão para áreas periféricas e vulneráveis


Desde 2018, a Águas de Manaus tem aumentado a cobertura de esgoto tratado de 18% para 31%, com projetos voltados para áreas periféricas e vulneráveis, o que tem contribuído para a melhoria da saúde pública e redução de doenças relacionadas ao saneamento. Obras para tratamento de esgoto em Manaus
Divulgação
Em uma cidade marcada pela complexidade de suas áreas periféricas e pelo crescimento desordenado, a Águas de Manaus tem enfrentado um grande desafio: ampliar a cobertura de esgoto tratado em áreas de difícil acesso e alta vulnerabilidade social.
Desde que assumiu a gestão dos serviços de água e esgoto, em 2018, a empresa avançou de 18% para 31% na cobertura de esgoto tratado, com uma série de inovações e soluções adaptadas às necessidades da população mais carente.
O gerente de Responsabilidade Social da Águas de Manaus, Semy Ferraz, compartilhou, em entrevista ao g1, detalhes sobre o progresso do sistema, seus impactos na saúde pública, e as estratégias adotadas para enfrentar os obstáculos logísticos e financeiros na implementação do esgoto tratado.
Ferraz explica que quando a concessionária assumiu os serviços, a cobertura de esgoto estava em um número muito abaixo da média nacional. Atualmente, a empresa possui planejamentos audaciosos de ampliar ainda mais a rede, especialmente nas regiões periféricas e nas comunidades mais vulneráveis.
“Ao longo desses anos, desenvolvemos soluções inovadoras, como os projetos pilotos em comunidades como os becos e palafitas. Um exemplo importante é o projeto no Beco do Nonato, onde conseguimos atender aproximadamente mil famílias e encaminhar o esgoto para uma estação de tratamento”, contou.
Essas iniciativas não só ampliam a cobertura, mas também atendem as particularidades de áreas como as palafitas, uma das maiores dificuldades logísticas enfrentadas pela empresa.
Embora a expansão do esgoto ainda esteja em seus estágios iniciais, a Águas de Manaus já começa a observar os impactos na saúde pública. Ferraz explica que, no setor de abastecimento de água, houve uma redução significativa de doenças, com destaque para a hepatite A e doenças diarreicas.
“Entre 2019 e 2023, observamos uma redução de 76% nos casos de hepatite A e uma diminuição de 31% nos casos de doenças diarreicas”, relata Ferraz.
Apesar disso, ele alerta que, para que os benefícios na saúde sejam ainda mais expressivos, a cobertura de esgoto precisa alcançar pelo menos 80%.
“Em outras cidades do mundo, quando a cobertura de esgoto atinge essa marca, a redução de doenças hídricas e respiratórias é drástica. Precisamos avançar, e estamos trabalhando para isso”, enfatiza.
A capital amazonense, com sua geografia única e crescimento desordenado, apresenta desafios logísticos e financeiros na expansão do sistema de esgoto. A ocupação irregular, como nas áreas de palafitas, demanda soluções criativas e investimentos constantes.
“Embora a cidade tenha um processo de ocupação desordenado, o que torna a implantação do sistema mais difícil e cara, não há nada que inviabilize essa expansão. Já conseguimos implementar projetos pilotos em regiões como os becos, rip raps e Palafitas”, explica Ferraz.
Além disso, a empresa está desenvolvendo um plano de investimentos de R$ 2 bilhões, por meio do programa Trata Bem Manaus, que visa equilibrar os custos da obra com as tarifas e garantir a viabilidade financeira da expansão.
Resistência Comunitária
Um dos maiores desafios que a Águas de Manaus enfrenta é a resistência de algumas comunidades à adesão ao sistema de esgoto. Muitas vezes, a desconfiança sobre a eficácia do tratamento e o desconhecimento sobre os benefícios para a saúde e o meio ambiente dificultam a adesão.
“Nosso maior desafio é convencer as pessoas de que o esgoto será tratado corretamente e que isso trará benefícios reais para a saúde e o meio ambiente. Para isso, desenvolvemos uma estratégia de sensibilização com escolas, líderes comunitários e visitas às estações de tratamento”, afirma Ferraz.
A educação ambiental nas escolas e o envolvimento das lideranças locais são fundamentais para mudar a mentalidade da população. “É preciso mostrar que o esgoto tratado não só melhora a saúde, mas também ajuda a manter os igarapés limpos e evita doenças”, destaca.
Para garantir a sustentabilidade do sistema a longo prazo, a Águas de Manaus tem investido em capacitação e manutenção contínua das infraestruturas de esgoto. Ferraz explica que, embora o custo de operação de esgoto seja mais elevado do que o de abastecimento de água, a empresa tem um plano financeiro robusto que permite cobrir os custos operacionais.
“As tarifas são calculadas para garantir a sustentabilidade do sistema. Temos também a tarifa social, que oferece descontos de até 50% para famílias de baixa renda e uma tarifa reduzida de apenas R$ 10 para os mais carentes”, explica.
Segundo ele, a adesão da população é crucial para o equilíbrio financeiro do sistema, e a empresa está comprometida em tornar a tarifa acessível a todos.
Ferraz afirmou que, embora a Águas de Manaus tenha um papel central no processo de expansão do sistema de esgoto, a solução para o problema do saneamento básico em Manaus depende do engajamento coletivo.
“A nossa missão não será cumprida sozinha. Precisamos do apoio da sociedade, das lideranças comunitárias, do Ministério Público, da Prefeitura e de todos os órgãos envolvidos”, afirma.
O programa Trata Bem Manaus, lançado em janeiro de 2024, é o maior exemplo dessa união de forças. “Nosso objetivo é mobilizar a sociedade e garantir a participação de todos, para que possamos alcançar uma cidade mais saudável, com igarapés limpos e um sistema de esgoto eficiente”, conclui Ferraz.
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