Insegurança no Setor Comercial Sul afeta cotidiano de trabalhadores

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Mais de 1.500 salas e estabelecimentos comerciais fecharam no Setor Comercial Sul (SCS) ao longo dos anos. Cerca de 25 mil empregos também foram perdidos no local. Os dados são da Associação Comercial do Distrito Federal. Comerciantes e a população que passa diariamente pelo local, reclamam da falta de segurança e do descuido.

Segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh), o Setor Comercial Sul é ponto de circulação de mais de 150 mil pessoas diariamente. Quem passa por lá pode ver uma infinidade de vendedores ambulantes e pessoas em situação de rua que habitam as redondezas. É o que descreve Carmosa Servoro de Sousa, 60 anos, uma das poucas lojistas que ainda luta para manter o negócio no local. Uma reclamação da comerciante, é que os comércios irregulares estão tomando conta do SCS. “Esses camelôs estão lotando o Setor Comercial e estão tirando cliente de quem paga aluguel”.

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Carmosa Servoro de Sousa. Foto: Amanda Karolyne

A empresária destacou, ainda, que a questão da segurança na região poderia melhorar, porque afinal, o Setor Comercial Sul está no centro de Brasília, um espaço que precisa ser bem cuidado. Carmosa apontou que já teve os produtos de sua loja roubados por ali. “O movimento é fraco, a segurança é pouca e o aluguel da loja é alto”. Ela acrescentou ser exaustivo pagar tantas contas para manter o estabelecimento funcionando, mas não ter retorno, já que as pessoas têm medo de andar pelas lojas do SCS.

Carmosa contou que houve uma época em que trabalhou em um edifício do SCS que tinha 54 lojas. “Mas todas fecharam uns três anos atrás, porque as vendas são poucas. Além do que, nós não podemos ficar até mais tarde com a loja aberta por ter medo”. A empresária acredita que o comércio devia estar ‘bombando’ no Setor, mas está cada vez mais vazio.

Já o office boy Pablo Dario de Freitas Matos, 24 anos, tem uma visão um pouco diferente sobre o SCS. Pablo é uma das pessoas que sempre está de passagem pelos prédios, comércios e escritórios do Setor e para ele, hoje em dia é mais tranquilo andar por lá do que alguns anos atrás. “Eu trabalho pelo Setor Comercial há uns três anos e acredito que a segurança já foi pior. Agora, por exemplo, tem sempre uma ronda policial”. Mas Pablo não recomenda que as pessoas frequentem o espaço depois das 18 horas. “É complicado, de noite essas pessoas em situação de rua tomam de conta do espaço”. Mas de modo geral, Pablo considera que todo lugar precisa de mais estrutura e investimento em segurança.

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Pablo Dário de Freitas Matos. Foto: Amanda Karolyne

Lusinete Magalhães, 53 anos, era vendedora ambulante no Setor Comercial Sul e atualmente tem uma loja na região. “Tem muitos anos que eu vendia roupas no Setor, mas devido à pandemia de Covid-19, eu tive que me afastar. Voltei há uns três anos e agora estou com um estabelecimento fixo”. Ela não se sente tão insegura com as pessoas em situação de rua. “É algo incômodo, mas não tem nada que nós possamos fazer”.

O que Lusinete observa é o crescimento dos moradores de rua e a quantidade de lojas e salas vazias. “As empresas mudaram para o Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA) e outras para a Asa Norte. O que fez com que a clientela sumisse, já que os funcionários dessas empresas eram 50% da movimentação no comércio”. Para Lusinete, é essencial haver algum incentivo para melhorar o movimento do local. “Que tragam algum serviço para o SCS para chamar a população”, adicionou.

A advogada Andreza Ferreira, 26 anos, trabalha em um dos edifícios localizados nas quadras do Setor Comercial Sul e considera a região perigosa. “Tem bastante morador de rua, às vezes tem bastante briga entre eles, o que deixa uma sensação de insegurança nas pessoas”. Andreza afirmou que os donos do escritório em que ela trabalha já pensaram em se mudar para outro local. “Não saímos do SCS ainda por questão de logística. Mas corremos risco ao continuar por lá, porque às vezes somos abordadas por pessoas na rua”, comentou. Andreza declarou que tem medo de passar por ali, principalmente por ser mulher.

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Andreza Ferreira. Foto: Amanda Karolyne

Qualidade do comércio no SCS

Segundo o presidente da Associação, Fernando Brites, a deterioração do Setor Comercial Sul começou em 1995. “O local ficou entregue à própria sorte com um agravante do preço dos imóveis caindo e o valor do IPTU subindo. Existe aí uma equação matemática que é altamente perversa a quem tem imóvel por lá”. Por esses fatores, Brites acredita que não existe mais um comércio de qualidade no local. “Algumas empresas continuam lá, mas com um nível de qualidade muito inferior àquilo que já foi. Os lojistas que hoje estão por lá têm todo tipo de reclamação e pedidos para fazer”.

Brites afirma que os comerciantes que ainda resistem no SCS pedem o amparo do poder público, principalmente no que diz respeito à segurança. “Lá foi instalado o Centro de Atenção Psicossocial(CAPS), que traz para o SCS uma grande intranquilidade, porque não existe razão nenhuma dessas pessoas serem atendidas por lá, mas foi o que faltava para acabar com o espaço”.

Para Brites, os moradores de rua não têm culpa dessa situação. Mas tem que ser feita alguma coisa para que a assistência a essas pessoas seja feita em um lugar melhor para elas. “Nós temos uma sugestão de lei para transformar o SCS numa zona de processamento de exportação. Com isso, podemos conseguir recuperar algumas áreas”. Ele reconhece que o Governo do Distrito Federal fez um esforço de revitalizar o asfalto das ruas e as praças do Setor, mas Brites considera que é preciso ser feito mais pela região.

A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) informou em nota que acompanha sistematicamente as pessoas em situação de rua do DF, incluindo as que vivem no Setor Comercial Sul (SCS), por meio de 28 equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas) organizadas nas regiões administrativas. Essa atuação inclui evolução de atendimento, acolhimento e benefícios.

Além do encaminhamento para outras políticas públicas, como inserção no mercado de trabalho por meio de programas como o Renova DF, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico Trabalho e Renda (Sedet); questões de saúde, saúde mental, alcoolismo e drogadição por meio dos Consultórios de Rua da Secretaria de Saúde; moradia para as pessoas de baixa renda, por meio da Companhia do Desenvolvimento Habitacional (Codhab), entre outros. Todos os órgãos articulados por meio do Plano para a População de Rua do DF.

Segundo a Sedes, não existem dados ou estudos que comprovem que pessoas em situação de rua são delinquentes ou cometem delitos. Por isso a pasta destaca que é importante não generalizar para não estigmatizar ainda mais um público que já é muito vulnerável. A Sedes reforçou que não faz remoção compulsória de pessoas em situação de rua e que o papel da pasta é garantir direitos e proteção social para este público.

Saiba mais:

De acordo com a Secretaria de Estado de Proteção Da Ordem Urbanística do Distrito Federal (DF Legal), foi realizado um trabalho orientativo junto aos ambulantes do Setor Comercial Sul em julho deste ano. Os comerciantes foram orientados sobre a necessidade de obter a licença do Poder Público para atuar no local e a importância de deixar as calçadas livres para pedestres.

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