Manicure perde consulta psicológica preparatória para bariátrica após motociclistas cancelarem corridas: ‘Gordofobia’


Marília Pereira da Cruz tinha uma consulta com um psicólogo antes da cirurgia bariátrica. Manicure alega ter sofrido gordofobia após cinco negativas dos motociclistas. Mulher alegou gordofobia após ter corrida cancelada por cinco motociclistas de app em Guarujá (SP)
Arquivo pessoal
Marília Pereira da Cruz, a manicure que alega ter sofrido gordofobia ao receber cinco recusas de corridas por motociclistas de aplicativo, perdeu uma consulta psicológica que antecede a cirurgia bariátrica. O caso aconteceu em Guarujá, no litoral de São Paulo.
✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp.
Ao g1, a manicure afirmou que um dos motociclistas chegou a compartilhar com um grupo de condutores uma mensagem em que ela “avisava” ser “gordinha”, acrescentando a frase: “Pelo menos foi sincera”. A mulher contou ainda que outros quatro recusaram corridas após a encontrarem na rua.
Marília disse ter sofrido um princípio de infarto há aproximadamente oito meses. Ela passou por exames e descobriu estar com pressão alta, além de sofrer com problemas na tireoide [glândula responsável pelo funcionamento de vários órgãos], anemia [falta de glóbulos vermelhos no corpo] e pré-diabetes [alto nível de glicose no sangue].
Diante do quadro clínico, um médico do Ambulatório de Referência em Especialidades e Saúde da Mulher da cidade a encaminhou para o processo da bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Não foi uma decisão minha, foi por saúde”, explicou ela.
A bariátrica está em análise e ainda não foi aprovada para Marília. No entanto, ela explicou que está passando por consultas com uma equipe multidisciplinar. Para não atrasar o processo, a manicure não poderia ter perdido o atendimento psicológico.
“O psicólogo está me ajudando muito na parte da minha saúde mental”, afirmou Marília. Segundo ela, as negativas dos motociclistas se tornaram novo assunto da terapia.
Mulher perdeu consulta psicológica de processo para fazer cirurgia bariátrica após ter corrida cancelada por cinco motociclistas de app em Guarujá (SP)
Arquivo pessoal
Psicologia e a cirurgia
Ao g1, o médico endoscopista bariátrico, Eduardo Grecco, explicou que, em casos do tipo, o primeiro passo para o paciente é uma consulta médica para encontrar o melhor tratamento, seja clínico, endoscópico ou cirúrgico.
Caso a orientação seja o procedimento cirúrgico, segundo o profissional, o paciente não deve ir direto para a operação. Um acompanhamento com uma equipe multidisciplinar é iniciado para os especialistas decidirem se ele está apto para este tipo de tratamento.
De acordo com Eduardo, os pacientes nestas condições costumam ter compulsão alimentar e ansiedade. Por este motivo, o acompanhamento psicológico é importante antes e depois da cirurgia.
“Ela [psicóloga] vai conversar com o paciente e dar a liberação se está com a compulsão controlada ou não. Se entende a diferença entre fome e vontade de comer. Então, o preparo psicológico do paciente vai ser muito importante”, explicou o médico.
O caso
Mulher avisou motociclista de aplicativo que era ‘gordinha’ e ele mandou em um grupo da categoria em Guarujá (SP)
Arquivo pessoal
Marília revelou ter o costume de chamar motociclistas de aplicativo para ir da própria casa, no bairro Morrinhos, até o consultório da psicóloga, no bairro Balneário Cidade Atlântica. Ela afirmou que, apesar disso, nunca tinha enfrentado problemas com o cancelamento de corridas.
A manicure afirmou que, no primeiro momento, não entendeu o motivo dos cancelamentos, mas depois imaginou que poderia ser alvo de injúria por conta do próprio peso.
Diante da possibilidade, a mulher enviou uma mensagem para um dos motociclistas “avisando” que era “gordinha”. O homem cancelou a corrida de imediato e compartilhou com um grupo de condutores uma mensagem em que ela “avisava” ser “gordinha”, acrescentando a frase: “Pelo menos foi sincera”.
“[N]o último, falei: ‘Vou ficar atrás do muro’. Quando ele chegou até a minha casa, olhou de cima a baixo e falou: ‘É entrega?'”, lembrou Marília. A mulher afirmou que era passageira, mas o homem disse que não a levaria na moto e foi embora.
“Isso mexeu muito comigo”, desabafou Marília. “Nunca passei por isso, mas tenho certeza de que se trata de gordofobia”.
Marília chegou a pedir um carro por aplicativo após as recusas dos motociclistas. Apesar disso, ela não pôde pagar o valor da corrida e perdeu a consulta com a psicóloga.
Empresa
Antes de acionar o advogado, Marília entrou em contato com a 99, sendo orientada a bloquear os motociclistas de aplicativo.
“Eles não estão só fazendo comigo, então eu vou bloquear e eles vão continuar [com outras pessoas]”, afirmou a manicure.
A empresa, por meio de nota enviada à equipe de reportagem, declarou lamentar e repudiar qualquer tipo de discriminação, seja baseada na aparência física, gênero ou raça.
Assim que o relato foi registrado, ainda de acordo com a 99, uma equipe foi mobilizada para apurações internas e realizou contato com a passageira para oferecer “todo o suporte e acolhimento necessários”.
A companhia reforçou que o respeito mútuo é “obrigatório para a utilização do serviço e investe continuamente em treinamento e conscientização dos motociclistas parceiros por meio de iniciativas como a do Guia da Comunidade 99, que traz orientações sobre como agir e quais comportamentos não são aceitos”.
Justiça
A manicure acionou o advogado Marcus Vinícius Ferreira Santos. Ao g1, ele explicou que atuará em duas frentes: no âmbito criminal contra os motociclistas e no cível, movendo uma ação contra a empresa de aplicativo.
“Tendo em vista que a conduta por eles [motociclistas] perpetrada configura o crime de injúria”, afirmou o advogado. “Entendemos que ela [empresa] tem responsabilidade e, assim, será pleiteada uma indenização por danos morais”.
VÍDEOS: g1 em 1 minuto Santos
Adicionar aos favoritos o Link permanente.