Mulheres em cargos de chefia no serviço público querem cotas para liderança

marina silva

LUANY GALDEANO
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

Mulheres em cargos de liderança no serviço público federal defendem cotas para ampliar a equidade de gênero em posições de chefia, segundo estudo encomendado pelo Movimento Pessoas à Frente, organização dedicada a gestão no funcionalismo.

Pouco mais da metade das 70 entrevistadas na pesquisa acreditam em ações afirmativas de gênero. Hoje, mulheres são cerca de 4 em cada 10 ocupantes de cargos comissionados de direção e assessoramento, 39 mil no total, de acordo com dados do painel estatístico do governo federal. Foram ouvidas 70 servidoras de carreira que hoje ocupam posições de chefia.

Jessika Moreira, diretora-executiva do Movimento, diz que ações afirmativas são etapa fundamental para garantir a equidade e devem ser adotadas também nas esferas estadual e municipal.

Mas ela afirma que só ampliar a presença de mulheres em posições de chefia não é suficiente para mitigar outros desafios que impactam a ascensão e permanência delas nesses cargos.

Para 72,8% das entrevistadas, há excesso de cobrança para mulheres em cargos de chefia, em um nível muito superior ao que é esperado dos homens na mesma posição. Além disso, 71,4% das participantes consideram que a dificuldade para conciliar a carreira com a maternidade é um obstáculo para permanecer no cargo.

“O governo deveria ser um ambiente seguro, onde as mulheres podem desempenhar todo o seu potencial, ter acesso e permanecer nos cargos de liderança, mas elas ainda encontram esses problemas”, diz a executiva.

O estudo foi realizado por Michelle Fernandez, professora de ciência política da UnB (Universidade de Brasília).

Jessika, posições de chefia exigem que o servidor tenha disponibilidade em tempo integral, algo incompatível com o cuidado de filhos e familiares -uma responsabilidade que costuma recair sobre a mulher.

Divulgado no ano passado, um relatório do Perfil das Lideranças no Governo Federal mostrou que apenas 38% dos cargos de liderança são ocupados por mães de crianças e adolescentes no setor público, número que sobe para 66% entre homens.

Segundo o estudo, 28,5% das líderes defendem a institucionalização de políticas para inclusão de mães.

Os dados apontam ainda que, para 48,5%, as relações interpessoais favorecem a indicação de homens para cargos de liderança e são um empecilho para a equidade de gênero.

Criar redes de networking específicas para mulheres seria uma forma de reduzir o impacto desses círculos masculinos, de acordo com Jessika. Isso permitiria que as líderes que já ocupam posições na alta hierarquia levem consigo outras servidoras para alcançar os mesmos postos.

Hoje, o setor já tem iniciativas do tipo, como a Rede de Mulheres Negras Líderes no Setor Público, da Enap (Escola Nacional de Administração Pública) junto ao Ministério da Igualdade Racial. Quase 86% das entrevistadas consideram que as relações interpessoais são uma estratégia para ascensão na carreira.

Outro desafio apontado no estudo é o desrespeito, que inclui comentários machistas e assédio. Cerca de 46% das participantes consideram que esse é um problema para a equidade de gênero.

Na opinião da diretora do Movimento Pessoas à Frente, as iniciativas existentes para combater o assédio no setor público ainda são insuficientes. Existem apenas ações isoladas, como o guia lilás da Controladoria-Geral da União, que orienta órgãos sobre como lidar com esses casos.

Apenas sete estados contam com leis que visam ampliar a proteção contra assédio sexual de servidores, segundo levantamento da República.org, voltada à gestão de pessoas no serviço público. Outro estudo da organização mostra que apenas 21% dos casos no Executivo foram punidos, sendo que 9,4% resultaram em demissão para o agressor.

Para Jessika, são necessárias ações concretas para que mulheres não só acessem cargos de liderança, mas permaneçam ali.

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