O que é e onde fica o Complexo de Israel, alvo de operação com tiroteio que parou o Rio de Janeiro


O Complexo de Israel é dominado com mão de ferro pelo traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, chefe do TCP. Cartaz de procurado do Peixão da Cidade Alta, traficante que chefia o Complexo de Israel, conjunto de favelas ocupado pela PM
Montagem g1/
O Complexo de Israel é um conjunto de favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro dominadas pelo Terceiro Comando Puro (TCP), facção criminosa do tráfico de drogas que só perde para o Comando Vermelho (CV) em área territorial subjugada.
Nesta quinta-feira (24), PMs de 3 batalhões foram para 3 comunidades do complexo: Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-pau. O objetivo era reprimir o roubo de carros e de cargas.
Bandidos resistiram com muitos tiros. A Avenida Brasil ficou 2 horas com pistas fechadas. Moradores do entorno, passageiros e motoristas que passavam pela via expressa ficaram no meio do fogo cruzado, e pelo menos 6 pessoas foram baleadas — duas morreram: um motorista de aplicativo que estava trabalhando e um passageiro de um ônibus.
De acordo com a polícia, a união dessas cinco comunidades forma o Complexo de Israel
Reprodução
O Complexo de Israel é dominado com mão de ferro pelo traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, chefe do TCP. Além das 3 favelas que foram alvo nesta quinta, pertencem ao conjunto Vigário Geral e Parada de Lucas.
Peixão, por exemplo, determinou a instalação de câmeras pelas comunidades, mandou construir pontes entre as favelas e teve problemas com uma igreja católica da região que culminaram no fechamento do templo religioso.
Ele possui 35 anotações criminais por acusações por tráfico de drogas, homicídios, desaparecimento, tortura, sequestros e roubo de cargas.
Recentemente, em incursões pelo Complexo de Israel, a polícia conseguiu encontrar dois imóveis de Peixão, com diversos itens de luxo que impressionaram os agentes.
Casa de Peixão, procurado por tráfico, tem lago artificial e academia
Uma das casas, em Parada de Lucas, contava com área de lazer ampla com piscina, academia de ginástica com equipamentos modernos de musculação e até um lago privado para a criação de carpas.
“Você consegue ver, a partir desta casa luxuosa, a prosperidade financeira que ele tinha através de suas atividades criminosas ilícitas. Uma casa que poderia ser equivalente a um resort na Região Sul Fluminense”, afirmou na ocasião o delegado Fábio Asty, titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC).
Segundo a Polícia Civil, Peixão estaria em uma das casas, mas conseguiu escapar antes da chegada dos policiais.
Polícia encontra casas de Peixão no Complexo de Israel
Reprodução
Leia também:
Traficantes usam pandemia para criar ‘Complexo de Israel’
Bandidos erguem ponte para circular entre favelas e evitar a polícia
25 pessoas desapareceram em Cordovil, Brás de Pina e Parada de Lucas
Peixão pregava em uma igreja evangélica de Duque de Caxias
Reprodução
Polêmicas religiosas
Em meados de 2016, Álvaro era chamado de Alvinho e estava obcecado com uma ideia: “Libertar o povo da Alta”, como é chamada a Cidade Alta. Durante meses, só pensava num jeito de tomar o controle daquele conjunto habitacional em Cordovil, Zona Norte do Rio, vizinho a Parada de Lucas, favela que o traficante já controlava com assistencialismo e mão de ferro.
Alvinho foi criado pela mãe, umbandista, que recebia santo (o Erê) vestida de branco, comia pipoca e doces de criança na esquina da Avenida Brasil.
Passou a adotar um discurso de “povo escolhido”. Mandou colocar a Estrela de Davi no topo da Cidade Alta e desenhou as bandeiras de Israel por toda parte. Seu bando passou a ser chamado de Tropa do Aarão.
Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, apontado como chefe do tráfico em cinco favelas da Zona Norte do Rio
Reprodução
A influência evangélica fez também com que as favelas fossem desenhadas com passagens bíblicas. Na esteira disso, veio a intolerância religiosa. Terreiros foram proibidos, e imagens de santa retiradas.
O traficante já foi investigado por ordenar ataques a terreiros de religiões de matriz africana, através da atuação do Bonde de Jesus em Duque de Caxias, onde nasceu. Ele mesmo pregava em uma igreja evangélica no município, como contou o g1 em 2019.
Peixão também já foi condenado pela Justiça por determinar a destruição de templos religiosos de matriz africana.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.