Polícia pede prisão preventiva de motorista que atropelou e matou estudante no litoral de SP


Caetano Ribeiro Aurungo, de 21 anos, morreu após ser atropelado pelo motorista, que avançou o sinal vermelho em Santos (SP). Motorista de carro atropelou e matou Caetano Ribeiro Aurungo (à direita) em Santos (SP)
Ariane Andrade e Redes sociais
A Polícia Civil pediu à Justiça a prisão preventiva de João Pedro Donatone, o motorista de 19 anos que atropelou e matou o motociclista Caetano Ribeiro, de 21, ao avançar um sinal vermelho em Santos, no litoral de São Paulo. O pedido foi feito após a corporação analisar as imagens do caso, concluindo que o jovem agiu com dolo eventual – quando o autor “assume o risco” de matar.
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O acidente ocorreu na madrugada de sábado (19), no cruzamento entre as ruas Álvaro Alvim e Conselheiro Lafayette, no bairro Embaré. João Pedro Donatone dirigia o carro e não ficou ferido. O motociclista Caetano Ribeiro Aurungo, no entanto, morreu no local após o choque.
Segundo a Polícia Civil, o motorista apresentava indicativos para o consumo de álcool e foi preso em flagrante por homicídio culposo – quando não há intenção de matar – na direção de veículo automotor. No entanto, ele foi liberado em audiência de custódia sob pagamento de fiança.
Vídeo mostra momento em que carro avança sinal vermelho e atropela motociclista
Durante a investigação da Polícia Civil, equipes do 3º Distrito Policial (DP) coletaram imagens de monitoramento da região na hora do acidente para comprovar quem passou no semáforo vermelho.
Câmeras de segurança de um prédio, localizado na esquina entre as duas ruas, flagraram o acidente em dois ângulos diferentes, um em cada via. Nas imagens capturadas da Rua Álvaro Alvim, é possível ver que o sinal estava vermelho para o carro.
Por conta disso, a delegada Liliane Doretto, do 3° DP de Santos revelou, em entrevista à TV Tribuna, emissora afiliada da Globo, que a tipificação do crime foi alterada de “homicídio culposo” para “homicídio qualificado com dolo eventual na direção de veículo automotor”.
A decisão foi tomada após a corporação concluir que o carro conduzido por João Pedro causou o acidente, não respeitando a sinalização, o que também caracterizou o dolo eventual — quando o autor não busca diretamente o resultado, mas está indiferente ou assume o risco.
“Ele assumiu o risco. É como se fosse uma roleta-russa. Ele passou em alta velocidade, no semáforo vermelho, colheu [atingiu] uma vítima, o motociclista, sem que ele tivesse, no mínimo, a chance de se defender”, disse a delegada.
Com a alteração da tipificação, a delegada ressaltou que o jovem seria indiciado por homicídio doloso, com base no Código Penal. Além disso, a agente contou ter representado por um pedido de prisão preventiva contra o suspeito à Justiça.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que “diligências estão em andamento visando o total esclarecimento dos fatos”. O g1 entrou em contato com o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), que disse não confirmar tais pedidos para não atrapalhar as investigações.
Carro avançou com o carro no sinal vermelho em cruzamento de ruas no bairro Embaré, em Santos (SP)
Reprodução
Motorista solto
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu liberdade provisória a João Pedro Donatone. Conforme apurado pelo g1, a Justiça determinou uma fiança de 30 salários-mínimos, que corresponde a mais de R$ 42 mil.
Segundo a decisão, ele deverá comparecer em juízo bimestralmente e justificar as atividades. A primeira apresentação deverá ocorrer ainda nesta semana, quando expira o prazo para pagamento da fiança. Ele tem cinco dias úteis a partir da decisão, publicada no sábado (19), para fazer o pagamento.
O juiz ainda definiu que João Pedro deverá comparecer a todos os atos de eventual processo instaurado e não poderá mudar de endereço sem avisar a Justiça. O TJ-SP também suspendeu o direito de João Pedro dirigir por pelo menos 180 dias. Ele, inclusive, deverá entregar em juízo a Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Defesa do motorista
Caso aconteceu no cruzamento entre as ruas Álvaro Alvim e Conselheiro Lafayette, no bairro Embaré, em Santos
Ariane Andrade
Em nota, os advogados Genivaldo Silva e Santos Carvalho, que representam o motorista João Pedro Donatone no caso, afirmaram que “não houve atropelamento” na ocorrência, mas sim uma colisão entre o carro e a motocicleta.
“O que pode ser verificado pelos danos no carro, que se encontram todos na parte lateral direita e não na parte dianteira”, apontaram os advogados. Eles acrescentaram que o condutor do veículo “não estava embriagado” e que isto foi constatado em exame do Instituto Médico Legal (IML).
Por fim, os advogados ressaltaram que as “circunstâncias em que o acidente ocorreu” ainda estão sendo apuradas pelas autoridades.
Família da vítima
A família de Caetano garantiu que irá lutar para que o suspeito responda pelo crime. Segundo a avó Vanda Freire Aurungo, testemunhas do acidente disseram que o motorista chegou a tentar fugir após o atropelamento. “Conseguiram pegá-lo porque ele bateu o carro. […] Ele falou que era mais uma morte. Ele não parece estar muito preocupado com o próximo”, afirmou.
Vanda afirmou que pretende acompanhar as investigações do caso. “Vou acompanhar todo o andamento para poder fazer Justiça, porque ele era o meu príncipe, o meu neto, ele morava comigo desde que nasceu, então eu não vou deixar isso para lá”, finalizou Vanda.
Vanda Freire Aurungo tinha a guarda do neto Caetano Ribeiro Aurungo
Arquivo Pessoal
Quem era Caetano?
Caetano deixou dois irmãos caçulas, sendo uma menina de 14 anos e um menino de 11. O trio morava com os avós paternos no bairro Aparecida. Vanda contou ao g1 que possuía a guarda dos três netos, apesar de todos terem contato com os pais biológicos.
O pai de Caetano morreu no dia 14 de agosto após adoecer. No entanto, semanas antes de ficar doente, o pai do jovem havia voltado a morar na casa da mãe e, consequentemente, ter mais convívio com Caetano.
“Eles conversaram, desabafaram um com o outro e o Caetano estava até feliz com essa situação. Ele comentou isso comigo essa semana que passou, falou que estava contente de ter essa aproximação com o pai, aí aconteceu isso do pai adoecer e falecer […]. Ele ficou muito mal, acho que esperava uma aproximação, que aconteceu, mas não teve continuidade”, afirmou Vanda.
Vanda perdeu o filho e o neto em dois meses
Arquivo Pessoal
Vanda é auxiliar de secretaria na Universidade Santa Cecília, onde Caetano cursava Engenharia da Computação. Ela disse que o neto sonhava em ter uma profissão e ser independente, mas acabou trancando a faculdade semanas antes de morrer.
Ela descreve o neto como um jovem caseiro, tranquilo e que tinha como principal hobby jogar no computador com os amigos. “Um menino bom, tranquilo mesmo, ele era uma pessoa incrível, calado, fechado, mas uma pessoa incrível”, relembrou. Segundo Vanda, o sonho dele era se sustentar e ser independente.
Caetano Ribeiro Aurungo morava com os irmãos caçulas e os avós paternos em Santos (SP)
Arquivo Pessoal
Antes do acidente
Segundo a avó, Caetano foi atropelado enquanto estava a caminho da casa de um amigo. Momentos antes, ele estava na própria residência jogando com os colegas pelo computar. Vanda disse que chegou a chamar atenção do neto, pois ele avisou que sairia por volta de 2h de sábado.
“Falei: ‘Caetano, você está de brincadeira, essa hora’. Mas eles [amigos] faziam isso sempre. […]. Ele tomou banho, pegou a moto e saiu. Isso devia ser umas 3h e pouquinho. Com certeza, ele estava indo para a casa do amigo, porque todos eles estavam reunidos lá”, disse.
Vanda disse que o grupo de amigos era a mesma turma da infância, que não costumava frequentar baladas, mas confraternizar nas próprias casas. “Eles se ajudavam, conversavam. Quando um estava mal, os outros iam para casa daquele um. E eles tinham uma troca muito bonita, tanto que no velório, os amigos dele chegaram todos chorando”, relembrou a auxiliar de secretaria.
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