Dólar abre próximo da estabilidade após IPCA-15 indicar aceleração da inflação

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar abriu próximo da estabilidade nesta quinta-feira (24), com investidores repercutindo os dados de inflação medidos pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), divulgados há pouco pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Às 9h04, a moeda apresentava variação para baixo de 0,05%, cotada a R$ 5,6904. Na quarta-feira (23), fechou em queda de 0,10%, cotada a R$ 5,690, e a Bolsa caiu 0,55%, aos 129.233 pontos.

Considerado uma espécie de “prévia” da inflação oficial do país, o IPCA-15 acelerou a 0,54% em outubro, após marcar 0,13% em setembro. O resultado ficou acima da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,51% neste mês, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,43% a 0,60%.

Com o resultado de outubro, o IPCA-15 acelerou a 4,47% no acumulado de 12 meses, disse o IBGE. A taxa era de 4,12% até setembro.

A divulgação acontece em um momento de grande atenção aos próximos passos do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), que deixou a trajetória da taxa básica de juros do país em aberto.

O colegiado reiniciou o ciclo de altas na Selic na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e a levou ao patamar de 10,75% ao ano.

Desde então, os dirigentes têm reforçado que as próximas decisões estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação. O BC trabalha com uma meta inflacionária de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, e a taxa de juros é o principal instrumento da autarquia para controle de preços.

No Boletim Focus desta segunda, economistas consultados pelo BC passaram a projetar um IPCA exatamente no teto da meta, a 4,50%, depois de preverem 4,39% na semana passada. Foi o terceiro relatório consecutivo em que a expectativa para o aumento dos preços subiu, e a elevação de 0,11 ponto percentual entre um e outro foi a maior deste ano.

O dado indica que as expectativas de inflação estão desancoradas do centro do alvo do BC e, mais do que isso, que o nível atual de contração da economia, estabelecido para a Selic, pode não ser o suficiente para controlar a subida de preços.

Neste cenário, a expectativa dos investidores é que a Selic suba em 0,50 ponto na próxima reunião de política monetária, marcada para os dias 5 e 6 de novembro.

A projeção também vem acompanha de uma crescente desconfiança dos investidores em relação ao equilíbrio das contas públicas do país -um dos focos da pressão inflacionária, na análise de especialistas e do presidente do BC, Roberto Campos Neto.

O mercado espera ajustes na ponta da despesas, na expectativa por equilíbrio fiscal de longo prazo.
Planos de corte de gastos, anunciados na semana passada pela ministra Simone Tebet (Planejamento) e pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), devem ser detalhados após o segundo turno das eleições presidenciais, em 27 de outubro.

Na análise de Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital, “o mercado quer saber o que vai ser cortado, se será um corte temporário ou algo mais estrutural, e isso vem se refletindo na nossa curva de juros e no dólar, que seguem estressados”.

“Um número acima de R$ 40 bilhões em cortes estruturais pode refletir positivamente no nosso mercado. Já um número abaixo pode causar maior estresse na nossa curva de juros e no dólar.”

Campos Neto também tem reforçado que o equilíbrio fiscal é essencial para que a autarquia abaixe a taxa de juros.

“Sempre que o Brasil conseguiu baixar as taxas de juros e mantê-las baixas, isso foi acompanhado por choques positivos na área fiscal. Neste momento, está claro que, se o Brasil quiser taxas mais baixas, precisa de um choque”, disse nesta segunda, em evento em São Paulo.

O cenário no exterior também é adverso aos ativos brasileiros, sobretudo o dos Estados Unidos.

A expectativa pelo fim da corrida pela Casa Branca está instalada nos mercados globais. No próximo 5 de novembro, a disputa entre Donald Trump e Kamala Harris estará definida -assim como a agenda econômica que irá pautar os EUA pelos próximos quatro anos.

Nos últimos dias, as apostas de que o ex-presidente Donald Trump poderá ganhar a eleição têm aumentado de forma significativa na plataforma Polymarket, ferramenta utilizada pelos investidores para observar a dinâmica do pleito.

Agora, as chances de um retorno de Trump à Casa Branca eram de 64%, e as de uma vitória da atual vice-presidente marcavam 36%.

A possibilidade de uma vitória do candidato republicano fez o mercado projetar os efeitos das propostas dele na economia. Entre as promessas mais alardeadas, Trump diz que, caso eleito, irá aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA e em pelo menos 60% sobre as da China.

As propostas de aumento tarifário e corte de impostos são consideradas inflacionárias, o que, na política monetária, significa juros altos por mais tempo -algo positivo para o dólar.

As projeções para as eleições presidenciais se somaram às expectativas dos investidores sobre os próximos passos do Fed, que também se reúne nos dias 5 e 6 de novembro para decidir sobre os juros americanos.

Os investidores esperam cortes mais graduais a partir do próximo encontro. Dados recentes têm mostrado uma economia norte-americana mais forte do que o esperado anteriormente, com destaque para o mercado de trabalho e o consumo.

Na ferramenta Fed Watch, do CME, uma redução de 0,25 ponto percentual tinha 88,8% de probabilidade, e a manutenção da taxa na banda atual de 4,75% e 5% reunia os 11,2% restantes.

Juros altos por mais tempo no país elevam os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, o que torna o dólar mais atrativo para investidores estrangeiros.

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