Inflação dos alimentos em Roraima: Quando a geografia e a logística pesam no bolso do consumidor

(Foto: Divulgação)

A inflação dos alimentos — um dos componentes mais sensíveis do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — tem sido um desafio crescente para as famílias roraimenses. Embora a inflação seja um tema de debate nacional, em Roraima ela assume características próprias, agravadas por fatores logísticos, climáticos e estruturais.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até maio de 2024, a inflação acumulada no grupo de alimentos e bebidas em Boa Vista já ultrapassava 6,8%, índice acima da média nacional no mesmo período. Produtos essenciais como arroz, feijão, leite e carnes puxaram a alta, pressionando principalmente as famílias de baixa renda. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF/IBGE), essas famílias destinam cerca de 25% de sua renda apenas para alimentação, percentual superior ao observado em muitos outros estados.

As causas da inflação de alimentos são multifatoriais, envolvendo desde a atuação (ou omissão) do governo até variáveis como demanda externa, eventos climáticos, quebra de safra, taxa de câmbio e aumento dos custos de produção. Um dos principais agravantes em Roraima é a dependência quase total de alimentos trazidos de outros estados. Boa parte da mercadoria chega por via rodoviária, enfrentando a longa distância pela BR-174 e seus buracos e pelos riscos logísticos da BR-319, que nem asfalto tem. As condições logísticas, com seus gargalos como buracos, podem encarecer o custo dos produtos.

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Além disso, a baixa produção agrícola local, o clima com forte sazonalidade e a falta de infraestrutura de armazenamento e distribuição acentuam o problema. Políticas públicas de incentivo à produção agrícola estadual, como o fortalecimento da agricultura familiar em hortifrútis e investimentos em logística, têm avançado em ritmo ainda insuficiente para mudar o quadro de curto prazo.

Outro fator que pesa é a política cambial nacional. A desvalorização do real frente ao dólar encarece insumos agrícolas, como fertilizantes e defensivos, o que impacta diretamente os produtores, sejam locais ou de outros estados, refletindo no preço final pago pelo consumidor roraimense.

É importante destacar que os efeitos da inflação alimentar não são apenas econômicos, mas também sociais. A insegurança alimentar em Roraima já atinge milhares de pessoas, com reflexos diretos na saúde e na qualidade de vida da população.

O combate à inflação dos alimentos em Roraima exige mais do que medidas paliativas. É preciso uma política de Estado contínua, com foco em produção local, segurança logística e redução da dependência de mercados distantes. Sem isso, o peso da geografia e das falhas estruturais continuará recaindo sobre quem menos pode pagar: o consumidor de baixa renda.

Colunista: Gustavo Menezes Domingues com a participação de Emilio Bernardon.

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