
Uso de braquiária, biofertilizantes e manejo inovador reduziram custos e impactos ambientais na cafeicultura de Sooretama, no Norte do Espírito Santo. Conheças os benefícios do capim braquiária nas lavouras de café
Muito antes do termo “sustentabilidade dos grãos” se popularizar entre os cafeicultores no Espírito Santo, o produtor Tiago Camiletti, de Córrego Patioba, em Sooretama, no Norte do estado, já apostava em um manejo inovador para suas lavouras de café conilon.
Há nove anos, ele iniciou uma transformação sustentável no cultivo, reduzindo o impacto ambiental e aumentando a eficiência da produção.
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O primeiro passo foi a obtenção, em 2015, da certificação 4C (Código Comum para a Comunidade Cafeeira), que assegura boas práticas na produção dos grãos.
No ano seguinte, Camiletti implementou uma técnica pouco convencional na época: o plantio de capim braquiária entre as fileiras de café. A prática, comum no cultivo do café arábica, trouxe benefícios também para o conilon.
Plantação de café conilon, em Sooretama, Espírito Santo,
TV Gazeta
Segundo o agricultor, inicialmente a técnica foi vista com desconfiança na região.
“Eu fui chamado de doido várias vezes, porque a cultura do produtor de café conilon é a de que o café não pode ter nenhum mato, nada. Mas a gente foi trabalhando ao longo dos anos, fomos adaptando, e hoje a gente sabe que não é uma competitividade e sim uma aliada do produtor”, disse Camiletti.
O produtor Anderson Boa Ferreira confirmou que houve um estranhamento no período de implementação do capim.
“Achei que era doideira tentar plantar braquiária, um mato no meio do café, achei que não ia dar resultado, só ia dar mais serviço ainda. Mas, na verdade, além de ser um ótimo adubo para o café, diminui um pouco a nossa mão de obra com a aplicação de herbicida”, avaliou Ferreira.
A iniciativa do Tiago virou objeto de pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), que comprovou a contribuição da prática e passou a estudar as suas vantagens ambientais e agronômicas.
Benefícios comprovados
Produtor de café melhora qualidade do solo e zera uso de agrotóxico com técnicas sustentáveis no Espírito Santo.
TV Gazeta
Segundo Camiletti, os estudos indicaram que a braquiária melhora a qualidade do solo, aumentando a matéria orgânica, favorecendo a microbiota e auxiliando na descompactação. Além disso, a cobertura vegetal reduz a necessidade de herbicidas, tornando-se uma aliada importante para os cafeicultores.
O produtor também adotou outras práticas inovadoras para aumentar a produtividade e agregar valor ao café. Entre as iniciativas, ele destaca:
🌿 Poda programada para melhor controle do crescimento das plantas;
🌱 Adensamento do plantio para otimizar o uso da área cultivada;
🍀 Uso de biofertilizantes na adubação, reduzindo a dependência de fertilizantes químicos;
🦠 Pulverização com produtos biológicos, substituindo defensivos agrícolas tradicionais.
O pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), José Altino, reforçou ainda que o cultivo da braquiária pode ser valioso em períodos, principalmente, nos períodos de seca
“Os benefícios, a princípio, não são tão fáceis de ver, mas quando a gente fala em deixar o solo com essa cobertura vegetal, nós estamos falando de um solo mais vivo, com uma biota mais rica e com isso você vai ter competidores com doenças, com pragas, você tem um maior equilíbrio ambiental. A braquiária é uma questão de sustentabilidade, nos períodos de seca ou de altas temperaturas ela contribui com a evaporação de ar dela, de água, fazendo com que o ambiente seja menos agressivo para o café”, indicou Altino.
Impacto econômico e ambiental
Adubo é produzido de forma artesanal em propriedade de café em Sooretama, Espírito Santo.
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A utilização da braquiária permitiu zerar o uso de glifosato e reduzir em 80% a aplicação de herbicidas químicos para controle de pragas. Já na adubação, aproximadamente 60% do fertilizante utilizado é orgânico, o que ajudou a reduzir os custos de produção em cerca de 30%.
Atualmente, o adubo é produzido de forma artesanal dentro dessas caixas d’água que ficam na propriedade, usando melaço de cana e ácidos resultantes da decomposição de vegetais.
“Com esse produto, a gente consegue melhorar muito a eficiência das nossas adubações, apresentando um resultado muito melhor”, apontou Camiletti.
As mudanças promovidas na propriedade de Córrego Patioba transformaram os 5,5 hectares da Fazenda São Sebastião. A redução dos custos de insumos e o aumento da qualidade do café permitiram ao produtor acessar melhores mercados, garantindo maior rentabilidade para sua produção.
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A experiência do produtor demonstra que a inovação e o compromisso com práticas agrícolas sustentáveis podem fazer a diferença no setor cafeeiro, tornando a produção mais eficiente e ambientalmente responsável.
“O que o meu bisavô fez nos anos passados foi necessário, o que o meu avô fez também foi necessário, e cabe a mim fazer o necessário também, e a gente consegue produzir muito mais agredindo muito menos, sendo mais sustentável e tendo uma agricultura regenerativa”, falou.
Maior produtor de café conilon do Brasil
Café conilon. Espírito Santo
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De acordo com o Incaper, o Espírito Santo é o maior produtor de café conilon do Brasil, responsável por aproximadamente 70% da produção nacional, e por até 20% da produção do café robusta do mundo.
O café conilon é a principal fonte de renda em 80% das propriedades rurais capixabas localizadas em terras quentes.
São 283 mil hectares plantados de conilon no estado, em 40 mil propriedades rurais distribuídas em 63 municípios, com 78 mil famílias produtoras, e gera 250 mil empregos diretos e indiretos.
A produção é responsável por 37% do Produto Interno Bruto (PIB) Agrícola do Espírito Santo. O estado é referência brasileira e mundial no desenvolvimento da cafeicultura do conilon, com uma produtividade média que já alcançou 45,94 sacas por hectare (sc/ha).
Os maiores produtores do Espírito Santo são os seguintes municípios: Rio Bananal, Vila Valério, Jaguaré, Vila Valério, Nova Venécia, Sooretama, Linhares, São Mateus, Pinheiros, Governador Lindenberg, Boa Esperança, Vila Pavão, São Gabriel da Palha, Colatina e Marilândia.
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