Da lição de português para editora: Fã de HQs, aluno com distrofia muscular lança quadrinhos de ficção científica em Santa Bárbara


Com apoio de escola e família, Nichollas Teixeira realizou o sonho de ver sua história em quadrinhos publicada. Gabriel Guimarães e Nichollas Teixeira, ilustrador e autor de “Invasão Alienígena”, respectivamente.
Arquivo Pessoal
Nichollas Teixeira, um jovem de 17 anos, de Santa Bárbara d’Oeste (SP), lançou a História em Quadrinhos (HQ) de ficção científica “Invasão Alienígena”. A publicação da obra marca a superação dos desafios impostos pela doença com que convive: a Distrofia Muscular de Duchenne (saiba mais, abaixo).
O garoto tem gostos típicos de alguém da sua idade, como assistir a séries e filmes e jogar videogame. Mas, ele sempre gostou de ler, principalmente Histórias em Quadrinhos (HQs). A produção começou com uma lição de português.
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Nichollas é aluno da Escola Estadual “”Professor Eduardo Silva” e, por conta de sua condição, a professora Daniele Ricardo Ferreira leciona para ele de forma domiciliar. As lições correspondem aos conteúdos do ensino médio, mas são adaptadas à realidade de Nichollas, por meio do uso de recursos visuais, por exemplo.
Lançamento do livro na Escola Estadual Professor Eduardo Silva com Gabriel Guimarães e a professora Danielle Ricardo Ferreira
Arquivo Pessoal
Da ‘sala de aula’ para editora
Foi nas aulas de língua portuguesa da 1ª série do ensino médio que a produção teve início. O gênero ficção científica faz parte do currículo da disciplina, e, sabendo do interesse do aluno pela escrita, Daniele propôs que ele escrevesse um texto.
Ela conta que o aluno ficou empolgado e sugeriu, inclusive, que o texto fosse ilustrado, demonstrando sua sede por conhecimento. Na história, estão contidas referências a outros conteúdos já estudados por ele.
Atualmente, Nichollas não escreve mais e, portanto, a dinâmica da produção precisou ser adaptada. A professora o apoiou no processo, atuando na orientação e interferindo pouco na construção da narrativa.
“Eu sou as mãos dele”, disse a professora.
Gabriel Guimarães, Nichollas Teixeira — na tela da TV — e a ‘Adoninha’, o mascote da editora
Arquivo Pessoal
Buscando surpreender seu aluno, a educadora entrou em contato com a Editora Adonis, em busca de um ilustrador que desse vida à história. Valéria Mestre, uma das sócias da empresa, se interessou pelo projeto e conduziu a iniciativa filantrópica que uniu a resiliência de Nichollas ao propósito de Gabriel Guimarães, um jovem com o sonho de ser ilustrador.
A HQ pode ser adquirida no site da Editora Adonis, por R$ 42,99. Todo o valor arrecadado com as vendas será destinado ao tratamento médico de Nichollas e à promoção de seu bem-estar.
Nichollas, que nem imaginava que a escrita de um trabalho escolar se tornaria um livro publicado, hoje comemora a realização desse sonho. Ele conta que os próximos passos em sua carreira de escritor incluem a publicação da continuação das aventuras da heroína Super-Ice. E nós esperamos acompanhar sua história de superação.
“Independente da forma como você esteja, nunca desiste de seus sonhos”, incentiva o jovem.
Seus pais, Enádia Christine Leal Guedes e Anderson Pedro Fazenda Teixeira, estão orgulhosos da conquista e do sucesso alcançado. Além disso, relatam que, após o lançamento da obra, Nichollas se sente mais confiante, motivado e valorizado pois a novidade o fez concentrar-se nos pontos positivos, em vez dos desafios impostos pela doença.
“Ele está mais maduro, estudioso e participativo. (O lançamento) foi totalmente positivo para ele”, conta o pai de Nichollas.
O jovem recebe atendimento do SAD (Serviço de Atendimento Domiciliar), uma iniciativa mantida pela Prefeitura de Santa Bárbara d’Oeste que oferece, gratuitamente, assistência multidisciplinar domiciliar e humanizada.
O tratamento é considerado fundamental para garantir qualidade de vida ao paciente, segundo o médico neurologista e professor da Unicamp, Marcondes Cavalcante França Junior, consultado pelo g1 para esclarecer questões sobre a Distrofia Muscular de Duchenne.
O que é a Distrofia Muscular de Duchenne?
A Distrofia Muscular de Duchenne é uma doença neuromuscular genética, considerada rara, ligada ao cromossomo X, sendo, por isso, mais comum em indivíduos do sexo masculino.
Ela é causada por uma mutação no gene DMD, responsável pela produção da proteína distrofina, que atua como um amortecedor durante a contração das fibras musculares. O organismo dos portadores da síndrome deixa de produzir essa proteína, o que resulta na degeneração dos músculos.
Os sintomas são motores, como fraqueza muscular, dificuldade de locomoção e alterações ao subir escadas ou pular. Eles costumam aparecer a partir dos três anos de idade, com progressão gradual.
É comum que os portadores vivam até a terceira década de vida, falecendo em decorrência de complicações respiratórias e cardíacas.
O diagnóstico geralmente ocorre a partir da observação de comportamentos pelas famílias ou professores, que levam à investigação. Também pode ser constatado por meio do exame de sangue CPK (creatinofosfoquinase), que detecta a presença da enzima essencial à produção de energia nos músculos.
Atualmente, os pediatras têm incluído esse exame nos check-ups de rotina, o que permite um diagnóstico precoce. Dr. Marcondes afirma que o Hospital das Clínicas da Unicamp já recebe crianças sem sintomas aparentes, mas com resultado positivo no exame.
Ainda não há tratamentos comprovadamente curativos para a doença. Os corticosteroides ajudam a retardar o declínio da força e da função muscular e, por isso, são frequentemente utilizados.
O neurologista também explica que há medicamentos em desenvolvimento baseados em terapia gênica, que visam corrigir a mutação genética da Distrofia de Duchenne.
Esses remédios são produzidos a partir da retirada do DNA de um vírus benigno, chamado adeno-associado, substituído pelo DNA que permite a produção da proteína ausente. O medicamento é injetado na veia e se espalha pelo corpo da criança.
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Além dos medicamentos, o especialista reforça que os cuidados não medicamentosos são essenciais para garantir qualidade de vida aos pacientes. O acompanhamento multidisciplinar, com fisioterapia, terapia ocupacional, nutrição e outras abordagens, ajuda a evitar deformidades, como a escoliose.
“Mesmo que esses remédios modernos cheguem, não vai ter um grande resultado, se junto com isso, não tiver um cuidado multidisciplinar”, conclui o médico.
*Sob supervisão de Claudia Assencio e Yasmin Moscoski
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