Feira central fortalecer a cultura e o comércio da Ceilândia 

CARLIANE GOMES
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O cheiro de comida no ar, barracas repletas de roupas, calçados, eletrônicos, temperos, artigos para casa e pratos típicos de diversas regiões do país. A Feira Central da Ceilândia atrai milhares de visitantes por semana e se consagra como ponto de encontro entre gerações, sotaques e histórias, um reflexo da força cultural da maior região administrativa do Distrito Federal.

A feira surgiu na década de 1970 e, desde então, passou por três locais diferentes dentro da cidade até se estabelecer no atual endereço, no centro da Ceilândia. Foi a partir de 1984, com o apoio do Governo do Distrito Federal (GDF), naquela época, que ganhou uma estrutura organizada, com galpões, calçamento e bancas fixas, possibilitando a profissionalização dos feirantes e a expansão do comércio local.

Segundo Jonathan Araújo, administrador da feira e presidente da Associação dos Feirantes, a feira nasceu para suprir a demanda da crescente população de trabalhadores que chegavam à região, oferecendo roupas, alimentos e outros produtos essenciais. Ele destaca que a feira se transformou em importante geradora de emprego e renda. Araújo afirma ainda que 463 feirantes, juntos, oferecem mais de mil empregos diretos e indiretos no local. O presidente ressalta ainda o papel cultural do espaço, afirmando que a Feira Central da Ceilândia é “um pedacinho do Nordeste que pulsa no coração de Ceilândia”, uma verdadeira mini cidade dentro da cidade, que acolhe e representa a diversidade de sua população. “A feira foi criada para vestir, calçar e alimentar uma população humilde que chegava para construir Brasília. Naquela época, o comércio era escasso e a feira surgiu para suprir essa necessidade,” explica Jonathan.

Shopping popular

Edna Castro, 79 anos, é uma das feirantes mais antigas da Feira Central, onde atua há mais de 35 anos vendendo roupas infantis. Ela chegou ao local em 1970, acompanhando o marido, Rivadavia Castro, um dos pioneiros do espaço, que faleceu há 17 anos. “Cheguei aqui com meu marido, que já vendia na feira, e desde então construímos nossa vida nesse espaço que é muito mais do que comércio para nós”. Para Edna, o local representa um verdadeiro ponto de encontro cultural e social da cidade. Segundo ela, a feira tem de tudo: comida típica, frutas, roupas, produtos para casa… É um lugar onde diferentes culturas se encontram e se misturam, trazendo uma riqueza muito grande para a comunidade”. Ela ressalta ainda o ambiente acolhedor e a diversidade presente no local, convidando quem ainda não conhece para visitar e prestigiar. “Quem vem acaba percebendo que aqui é como um shopping popular, com produtos de qualidade e preços acessíveis. A feira é um espaço de oportunidade, de trabalho e de convivência que valoriza a cultura e a história do nosso povo”.

Frequentar a Feira já faz parte da rotina de Álvaro dos Santos, 57 anos, empresário que mora no Setor de Indústria Gráfica (SIG). Ele aproveita o espaço não só para fazer compras, mas também para almoçar nas barracas e fazer compras. “Gosto de almoçar nas barracas tradicionais que ficam aqui, elas são bastante conhecidas e a comida é muito boa,” comenta Álvaro. A variedade de produtos é um dos pontos que mais chama a atenção do empresário. “Aqui tem peixe, galinha caipira, queijo, tem de tudo,” destaca. Quanto à diversidade cultural presente na feira, Álvaro afirma que faz questão de recomendar o espaço para quem ainda não conhece. “Quem nunca veio, que venha conhecer. É uma feira muito boa.”

Paulo Victor, 30 anos, é empresário no local há oito meses e mora na região há 15 anos. Antes de empreender, trabalhou como professor de física e matemática, mas decidiu mudar de carreira para seguir o sonho de ter o próprio negócio. Ele atua na manutenção e venda de acessórios para celulares e destaca que o local oferece uma grande diversidade de produtos. “Tem banca de roupa, de celulares… tudo que você quiser, você acha aqui”, afirma. Paulo ressalta ainda a forte presença da cultura nordestina no local, que, segundo ele, é um dos aspectos que mais caracterizam a feira. Sobre os preços praticados, comenta que há opções para todos os bolsos. “Tem bancas mais em conta, mas também tem outras mais caras. Basta procurar e andar um pouco.” 

Diversidade cultural

Um dos principais pontos de destaque do local é a diversidade cultural refletida em sua gastronomia, com opções que vão desde caldo e pastel até comidas típicas de outras regiões do país, além dos tradicionais doces nordestinos. Esses sabores atraem moradores e visitantes que buscam uma experiência autêntica e plural. Além da culinária, o espaço oferece uma variedade de produtos que passam por bancas de roupas coloridas, artigos de decoração, salões de beleza, pet shops e até bancas comercializando artigos para pesca. Essa variedade transforma o local em um verdadeiro ponto de encontro comercial, capaz de atender aos mais diferentes públicos. Também é possível encontrar produtos de pequenos agricultores e produtores locais, como temperos, queijos artesanais e hortaliças frescas, que valorizam a produção regional e a sustentabilidade.

De acordo com Dilson Resende, administrador regional de Ceilândia, no início da cidade, aquele espaço era onde as pessoas vendiam e compravam produtos. Com o tempo, a feira foi se consolidando e ganhou destaque principalmente pela culinária. “Hoje, ela é reconhecida nacionalmente como polo gastronômico, mas não é só isso, a feira oferece uma grande variedade de produtos e se aproxima do que seria um mercado central em Brasília”.

Iracema Fonseca, 61 anos, frequenta o local há 25 anos e prefere esse espaço a outros mercados da região. De acordo com a dona de casa, ela frequenta o espaço todas as semanas em busca de alimentos de alta quantidade e com preços acessíveis. “Aqui encontro tudo o que preciso, desde alimentos frescos até roupas e artigos para o dia a dia. Esse ambiente representa a mistura cultural da nossa cidade e valoriza o comércio local,” destaca.

Claudete Cirino, 50 anos, é empresária e tem uma longa relação com o principal centro comercial da região. Ela começou a trabalhar no espaço ainda adolescente, na banca do tio, que estava no local desde 1983. Após o falecimento dele, em 2000, Claudete e o filho do tio assumiram o negócio e continuam até hoje com o empreendimento familiar. Ela trabalha vendendo comidas típicas nordestinas, como buchada, sarapatel, carne de sol com mandioca, galinha caipira e baião de dois, pratos que, segundo Claudete, são os grandes destaques do local. “Aqui a cultura nordestina é muito forte, você encontra tudo o que precisa, desde queijos e farinhas até os temperos típicos. Não precisa ir até o Nordeste para buscar essas delícias”, conta.

Os preços, ela garante, são acessíveis. “Um caldo de mocotó, muito procurado especialmente nos dias frios, sai por 10 reais, e os pratos completos custam cerca de 20 reais”. Claudete reforça que o espaço é frequentado não só por nordestinos, mas por todos que apreciam a culinária regional. Além disso, ressalta que o local é um verdadeiro ponto de encontro cultural, onde convivem diferentes tradições e sabores que refletem a riqueza da cidade. Um lugar que representa muito mais que comércio, mas um espaço repleto de história e convivência. “Tudo que eu tenho eu devo à feira. Foi aqui que consegui formar minha filha, e agora meu filho também está terminando a faculdade”, conta a feirante, que trabalha há mais de 30 anos na Feira Central de Ceilândia.

Aposentado e morador de Águas Claras, Raul Rebello, 71 anos, costuma visitar o espaço com frequência, acompanhado de amigos que vêm de diversas regiões do DF, como Paranoá, Jardim Botânico e Bandeirante. Juntos, eles se reúnem para almoçar, conversar e aproveitar o ambiente descontraído. “O atendimento é bom, o ambiente é aberto, arejado. A gente se sente à vontade para conversar, tomar uma cervejinha e curtir o momento”, conta. Para ele, o local oferece uma experiência mais acolhedora e prazerosa do que bares fechados. “A comida é bem feita, o clima é tranquilo e a gente sempre se sente seguro por aqui.”

Raul também faz questão de deixar um recado para quem ainda não conhece ou tem algum receio: “As pessoas às vezes têm preconceito, acham que é perigoso, mas não é. Venho há muitos anos e sempre é tranquilo. Vale a pena vir e aproveitar.”

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