

Supostas mensagens de Mauro Cid vieram à tona e colocam em risco a delação premiada – Foto: Ton Molina/STF/Edição/ND
Mensagens atribuídas ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, acendeu um novo alerta – e fez Jair Bolsonaro (PL) correr às redes sociais nesta sexta-feira (13) para pedir a anulação do acordo de delação premiada firmado por Cid com a Polícia Federal.
Reveladas pela revista Veja, as mensagens mostram conversas entre Cid e um interlocutor próximo de Bolsonaro. Nelas, Cid detalha depoimentos com a PF, reclama de pressões e acusa o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de já ter “sentenças prontas”.
Em um dos trechos das mensagens de Mauro Cid, ele chega a dizer que ele próprio, Bolsonaro, o general Heleno e Braga Netto pegariam a pena máxima. Sustentando a tese do advogado de Bolsonaro, as falas colocam em xeque a validade do acordo de colaboração.

Mauro Cid teria dito que ele, Bolsonaro e aliados estariam com as “sentenças prontas” – Foto: Agência Brasil/Reprodução
Segundo a revista, as supostas mensagens de Mauro Cid teriam ocorrido entre janeiro e março de 2024, cinco meses após a formalização do acordo de colaboração.
O que está em jogo
Ao aceitar colaborar com a Justiça, Mauro Cid assumiu uma série de compromissos: falar a verdade, manter sigilo sobre o conteúdo das delações, não ter contato com outros investigados e não usar redes sociais. E é justamente aí que o caso se complica.
Durante interrogatório no STF, nesta semana, o advogado de Bolsonaro perguntou a Cid se ele havia usado perfis de terceiros para comentar sua delação. O militar negou e disse que “nunca usa perfil em rede social”.

Bolsonaro acompanhou o interrogatório do ex-ajudante de ordens no STF; depois, foram divulgadas mensagens de Mauro Cid – Foto: Ton Molina/STF
A negativa, porém, pode virar dor de cabeça: segundo a Veja, foi justamente por meio do perfil da esposa que Cid trocou mensagens comprometedoras.
Nos diálogos, Cid escreve que o delegado responsável pelos inquéritos “sabia te conduzir para onde queria chegar”. O interlocutor pergunta: “Colocando muita coisa na sua boca?” – e ele responde: “Tentava”. Em outro momento, Cid afirma que, mesmo com boas petições, Moraes “nem vai ler”, já que “a sentença está pronta”.
Ele também relata que conversas entre comandantes das Forças Armadas teriam sido interpretadas como golpistas, mas que, na sua visão, eram apenas diálogos sobre a situação do país – e que Bolsonaro “não faria nada”.
Bolsonaro reage sobre as mensagens de Mauro Cid
Por conta das mensagens de Mauro Cid, Bolsonaro voltou a negar qualquer plano golpista e afirmou que tudo não passa de uma “farsa fabricada em cima de mentiras”. Nas redes sociais, ele pediu que a delação de Cid fosse anulada e defendeu a libertação imediata de Braga Netto e outros aliados investigados.
Segundo o ex-presidente, o caso é um “processo político disfarçado de ação penal” e teria como objetivo silenciar opositores e perseguir adversários. “Isso precisa acabar”, escreveu.
E agora?
As mensagens de Mauro Cid podem colocar em risco o acordo de delação de Mauro Cid. Se for comprovado que ele quebrou as regras do pacto – como mentir ou revelar conteúdos sigilosos -, ele perde os benefícios que recebeu em troca da colaboração.
O cenário reacende a tensão entre a defesa de Bolsonaro e a delação que, até aqui, vinha sendo uma das peças-chave da investigação sobre os bastidores da tentativa de impedir a posse de Lula.

Mensagens de Mauro Cid podem colocar em risco o acordo de delação – Foto: Lula Marques/Agência Brasil
Se a delação for anulada, Mauro Cid pode acabar no mesmo barco que os principais réus do chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe – com risco de pegar mais de 30 anos de prisão. Pelo acordo que ele assinou, a promessa era bem diferente: perdão judicial ou, no máximo, uma pena abaixo de dois anos.