“Sextou” com S de superstição

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Para os supersticiosos, a sexta-feira 13 é um dia de alerta. Já para os fãs de filmes de terror, é a desculpa perfeita para revisitar clássicos que exploram os mistérios e mitos por trás dessa data marcante do calendário. A equipe do Jornal de Brasília conversou com especialistas e também com a população para descobrir o que realmente assusta ou fascina as pessoas quando o assunto é a famosa triscaidecafobia — o medo do número 13.

O medo específico da “sexta-feira 13” é identificado como parascavedecatriafobia ou frigatriscaidecafobia. Este fatídico dia é tido por muitos como o dia do azar. E existe ainda o medo da terça-feira 13, que é chamado de trezidavomartiofobia. Mas este não é tão popular quanto o primeiro. 

Na numerologia, o número 12 é visto como completo, tendo em vista que são 12 meses no ano, 12 apóstolos, 12 signos do zodíaco, 12 deuses do Olimpo e por aí vai. Quando o 13 já é considerado um número irregular, traz má sorte. 

A publicitária Paula Batista, de 26 anos, não se assusta e considera que a sexta-feira 13 é uma data especial. “Eu adoro, fico muito feliz quando tem alguma sexta-feira 13”, afirma. Fã de Taylor Swift, ela associa o número 13 à cantora, que tem uma relação forte com o número, tendo nascido no dia 13 de dezembro. “Muita sexta-feira 13 já teve a empolgação de lançamento de alguma música dela, algum álbum.” Para Paula, o número 13 é sinônimo de sorte e boas lembranças. “Depois de tanto tempo acompanhando a Taylor, sempre que eu vejo esse símbolo, penso com olhar positivo.”

Mesmo sem seguir superstições rígidas, Paula costuma marcar a data de forma simbólica. Ela gosta de ouvir “The Lucky One”, faixa 13 do álbum Red, que combina muito com a temática que vem com a data porque o título fala de sorte. Além disso, costuma compartilhar nas redes mensagens desmistificando mitos, como a ideia de que gatos pretos trazem azar. A relação com a data é de acolhimento e celebração. 

Nascida em uma sexta 13, a professora Cristiane Costa do Rosário, de 25 anos, conta que a data, durante muito tempo carregou um certo peso. “Quando eu era mais nova, eu atribuía a data do meu aniversário à minha má sorte”, comentou. Ela nasceu no dia 13 de agosto de 1999, no final do milênio e ouviu ao longo da infância que o mundo poderia acabar em breve, o que intensificava a sensação de ter nascido “num péssimo dia”. Mas com o tempo, a percepção mudou: “Depois eu pensei que não era um péssimo dia. É o dia do meu aniversário”.

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Na fofo comemorando o Halloween de 2024, Cristiane Costa do Rosário, nascida numa sexta 13. – Foto: Arquivo pessoal

Agora Cristiane ressignificou a data e sonha em comemorar com uma festa mística. “A temática sexta-feira 13 é muito boa. Meu sonho é fazer uma festa bem macabra, bem sombria”, afirmou. Apesar de já ter tentado em 2021, ano em que completou 22 anos, um número que ela acredita ser muito legal e simbólico também. Na época, a comemoração não saiu por questões financeiras. Mesmo assim, o desejo permaneceu. Apaixonada pela estética gótica e fã de memes da data, ela confessa que tem medo de filmes de terror, mas adora o clima. “Sou doida por ter um gato preto também, por causa disso”.

Para Vinícius Souza Gomes, 21 anos, auxiliar administrativo, a sexta-feira 13 ainda carrega certo misticismo. Ele costuma evitar sair muito tarde, especialmente por volta das três da manhã, e menciona o personagem Jason, dos filmes de terror da franquia Sexta-Feira 13, como parte desse imaginário sombrio. “Falam que às vezes aparece alguém ali perto do Parque da Cidade”, salientou, lembrando da lenda urbana da capital sobre supostas aparições do próprio Jason, a história é uma adaptação local do mito do assassino mascarado.

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Foto: Amanda Karolyne/Jornal de Brasília

Fã de filmes de terror, Vinícius admite que assiste com frequência produções como as da Samara, mesmo que essas obras o assustam um pouco. Para esta sexta-feira 13, porém, não pretende fazer nada de especial: “Só vou ficar em casa mesmo, mas pode ser que eu saia com a minha esposa”, finalizou. Ele lembrou que apesar de ser sexta 13, o dia anterior foi Dia dos Namorados e esse fim de semana é para comemorar com a mulher que ele ama. 

As crenças e origens 

Diversas culturas têm a superstição em comum, com mitos datados antes de Cristo. Segundo a neuropsicóloga Valéria Gomes, a crença de que a sexta-feira 13 traz azar tem raízes históricas e culturais profundas. Ela combina o simbolismo negativo do número 13, que é visto como um número “fora da ordem”, após o 12, que simboliza completude em várias culturas, com a sexta-feira, dia associado a eventos trágicos na tradição cristã, como a crucificação de Jesus. “Do ponto de vista psicológico, o ser humano tende a buscar padrões e explicações para o desconhecido ou incontrolável. Superstições como essa ajudam a dar sentido ao acaso e à incerteza da vida, funcionando como mecanismos de enfrentamento psíquico”, frisou. 

Ainda de acordo com a especialista, do ponto de vista psicológico, o medo de datas ou números específicos pode ser explicado por fenômenos como o viés de confirmação. “As pessoas tendem a lembrar mais dos eventos negativos que ocorreram numa sexta-feira 13 do que dos positivos, reforçando a crença. Além disso, estamos sujeitos a processos de condicionamento social e cultural, nos quais aprendemos desde cedo que determinadas datas “dão azar”, internalizando esses significados mesmo sem uma base racional”. Ela pontuou que esse tipo de medo é, muitas vezes, sustentado mais por uma expectativa ansiosa do que por experiências concretas. “E ainda existem os filmes de terror, bruxas e outros que reforçam essas ideias”, citou. 

Valéria também explicou ao JBr que a triscaidecafobia é, em grande parte, uma construção cultural aprendida socialmente. No entanto, ela destacou que em casos extremos, essa condição pode ser vivenciada como uma fobia real, quando o medo é intenso, persistente e interfere significativamente na vida da pessoa. Nesses casos, a psicologa afirma que a triscaidecafobia pode ser enquadrada dentro do espectro das fobias específicas e recomenda o tratamento clínico.

A psicologa afirmou que a ansiedade tem um papel central na construção dessas crenças supersticiosas, e que elas funcionam, muitas vezes, como formas de reduzir a ansiedade diante da incerteza. “Quando a mente ansiosa busca controle sobre eventos imprevisíveis, recorrer a rituais ou evitar certos dias ou números pode gerar uma sensação ilusória de segurança. Com o tempo, esse comportamento é reforçado: a pessoa sente que ‘evitou o azar’ ao seguir a superstição, fortalecendo a crença e mantendo o ciclo ansioso”. 

A crença em superstições é comum e nem sempre patológica, mas Valéria ressaltou que é importante observar quando a crença deixa de ser uma curiosidade cultural e passa a gerar sofrimento psíquico. Principalmente quando essa superstição levar a pessoa a evitar compromissos que por ventura, caiam numa sexta 13. 

Saiba mais:

  • Em Portugal, muitas cidades e vilas celebram a sexta-feira 13. A maior festa acontece no castelo de Montalegre, Trás-os-Montes. Em Montalegre, todas as sextas-feiras 13 há uma grande festa, onde não faltam as bruxas, os bruxos, feitiços, teatro e a famosa queimada.
  • Devido a preconceitos e lendas da Idade Média, felinos de pelo escuro eram tidos pela população como bruxas transformadas em animais. Outro mito dizia que cruzar com um gato preto numa sexta 13 é considerado um mau agouro. Por isso, é comum que em datas como o Dia das Bruxas ou nas sextas-feiras 13, os índices de denúncias de maus tratos a gatos pretos aumentem muito em ONGs de proteção animal.
  • Existe uma crença de que convidar 13 pessoas para um jantar é uma “desgraça”, pelo simples fato de que os conjuntos de mesa são constituídos por 12 copos, 12 talheres e 12 pratos. Em um dos mitos nórdicos que abordam a temática, a deusa do amor e da beleza era Friga (que deu origem a frigadag, sexta-feira). Quando as tribos nórdicas e alemãs se converteram ao cristianismo, Friga foi transformada em bruxa e para se vingar, ela passou a se reunir todas as sextas com outras 11 bruxas e o demônio, formando um grupo de 13 membros que ficavam rogando pragas aos humanos.
  • Na mitologia grega, um dos mitos conta que a deusa Héstia cedeu seu lugar entre os deuses do Olimpo a Dionísio. Dessa forma, não seriam 13 olimpíadas, mas sim os doze como os conhecemos.
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