Dólar sobe a R$ 5,54, na contramão do exterior, após ação de Motta contra o aumento do IOF

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VITOR HUGO BATISTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Após renovar o menor valor de fechamento do ano na véspera, o dólar encerrou com um avanço de 0,07% nesta quinta-feira (12), a R$ 5,542, na contramão do exterior. No ano, porém, a divisa acumula queda de 10,30%.

Pesou sobre a cotação a decisão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de pautar urgência para suspender o novo decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) publicado na noite de quarta-feira (11) pelo presidente Lula (PT).

Já a Bolsa se valorizou 0,48%, a 137.799 pontos, com a subida de ações dos bancos e da Petrobras, em meio à fraqueza de commodities como petróleo e minério de ferro no exterior.

O dólar abriu o dia em leve queda, com o mercado doméstico avaliando a MP (Medida Provisória) enviada pelo governo ao Congresso para aumentar impostos e o acordo comercial entre EUA e China. Na mínima do dia, às 9h57, chegou a recuar 0,25%, a R$ 5,524.

Às 11h40, porém, Motta publicou em seu perfil no X que “o clima na Câmara não é favorável para o aumento de impostos com objetivo arrecadatório para resolver nossos problemas fiscais”. A partir das 11h53, a moeda começou a subir e registrou a máxima cotação da sessão, de R$ 5,558, às 13h47 -um avanço de 0,36%.

A valorização da divisa dos EUA ante o real foi na contramão da queda do dólar no restante do mundo, com os mercados globais repercutindo as novas ameaças tarifárias do presidente Donald Trump e as tensões geopolíticas no Oriente Médio.O índice DXY, que mede a força da divisa dos EUA frente a uma cesta de seis moedas, caía 0,71%, a 97,93, ao fim do pregão.

No entanto, o recuo do dólar não se sustentou no Brasil em função do desconforto do mercado com as medidas fiscais da véspera.

“Se fosse só pelo exterior, teríamos dólar para baixo hoje. Mas aqui os agentes não gostaram das medidas que vão substituir o aumento do IOF”, disse o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik. “Não houve cortes de despesas, e mesmo os aumentos de impostos serão difíceis de passar no Congresso.”.

Começando pela ponta doméstica, houve cautela do mercado quanto à MP editada pelo governo para compensar os recuos no decreto do IOF.

O texto da MP foi publicado no Diário Oficial por volta das 21h desta quarta-feira (11) e chega ao Congresso sob fortes críticas de parlamentares e do setor empresarial e com partidos da base aliada abertamente contrários -posição externada antes mesmo da medida provisória ser editada.

A tensão já havia escalado na manhã de quarta-feira, quando Motta afirmou que as medidas apresentadas pelo governo devem ter “reação muito ruim” no Congresso. Ele também afirmou não servir a projeto político de ninguém. A publicação no X contribuiu para o pessimismo dos investidores com o cenário fiscal do governo.

“Parece que eles lançam uma nova medida sem que ela tenha sido previamente negociada a fundo, não só com o Congresso, mas também com a sociedade civil e diversos setores muito impactados, como o imobiliário e o do agronegócio”, disse Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos.

A expectativa do governo é buscar apoio e liberar emendas parlamentares até a data de votação da MP, enquanto negocia com o Congresso. A medida entra em vigor imediatamente, mas grande parte de seus efeitos passam a valer em 2026, e o texto precisa ser referendado pelos parlamentares.

Na perspectiva de Duarte, apesar das críticas, a proposta deve ser aprovada devido à dinâmica política em Brasília, onde o Executivo vai garantir a liberação de emendas parlamentares para pressionar o Congresso a aceitar o aumento da carga tributária.

“A medida deve acabar passando. Teremos novamente um aumento da carga tributária, de forma descoordenada e sem prévio cálculo dos impactos.”

Na ponta internacional, o principal catalisador foi a persistente falta de clareza em relação à política comercial global.

No episódio mais recente das tarifas, o presidente dos EUA alertou que poderá elevar em breve as tarifas automotivas, argumentando que isso poderia estimular as montadoras a acelerar os investimentos no país.

“Talvez eu aumente essa tarifa em um futuro não muito distante”, afirmou o republicano em um evento na Casa Branca nesta quinta. “Quanto mais alta for, maior será a probabilidade de eles construírem uma fábrica aqui.”

Trump disse ainda que enviará cartas a parceiros comerciais nas próximas semanas com novas tarifas, diante do fim da pausa de 90 dias sobre as chamadas tarifas “recíprocas”, prevista para o mês que vem.

Mais cedo, e antes das falas de Trump, os mercados estavam otimistas diante do acordo comercial firmado entre as duas maiores economias do mundo na noite de terça-feira para retomar uma trégua tarifária acordada no mês passado.

As recentes negociações comerciais com a China, no entanto, não conseguiram desmantelar as tarifas existentes ou resolver desequilíbrios comerciais estruturais de longa data.

A ligação telefônica entre Trump e o líder chinês Xi Jinping na última quinta-feira foi o primeiro passo para resolver o impasse comercial. Nesta semana, negociadores dos dois países se reuniram por dois dias em Londres para novas conversas que, segundo Washington, deram peso ao acordo de Genebra para aliviar as tarifas retaliatórias bilaterais.

Autoridades de ambos os países concordaram em manter as bases do consenso de Genebra, anunciado em 12 de maio.

De acordo com Trump, o acordo prevê a redução das tarifas de produtos chineses para os EUA para 55%, enquanto os produtos norte-americanos terão cobrança de 10% para entrar no país asiático.

O vice-ministro do Comércio da China, Li Chenggang, e o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, disseram que os dois países concordaram com uma estrutura de acordo para resolver imbróglios sobre o controle de exportações dos EUA e o domínio chinês sobre as terras raras, materiais essenciais para fabricar uma série de tecnologias avançadas.

Li Chenggang afirmou que o entendimento aumenta a confiança na relação entre as duas partes. Já Lutnick disse que as negociações visaram o equilíbrio.

“A China sempre manteve sua palavra e apresentou resultados”, afirmou Lin Jian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores. “Agora que se chegou a um consenso, os dois lados devem cumpri-lo.”

Por outro lado, ainda na cena internacional, os mercados seguiram cautelosos após Trump dizer que alguns funcionários dos EUA estavam sendo retirados do Oriente Médio em meio às crescentes tensões com o Irã.

A repórteres em um evento na Casa Branca nesta quinta, o republicano argumentou que a retirada ocorre porque a região pode ser “um lugar perigoso e veremos o que acontece”.

“É uma movimentação esquisita dos Estados Unidos. Começaram a retirar americanos do Iraque. Há boatos de que algum tipo de ataque poderia acontecer nos próximos dias na região. Ninguém sabe onde, ninguém sabe por que, ninguém sabe como. Mas apenas isso foi o suficiente para estressar, por exemplo, o petróleo”, afirmou Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos.

Trump disse ainda que adoraria evitar um conflito com os iranianos, acrescentando que um ataque de Israel poderia acontecer, mas que não gostaria de dizer que é iminente.

O mercado também repercutiu os números de inflação medida pelo CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, que vieram abaixo do esperado.

O avanço foi de 0,1%, depois de alta de 0,2% em abril. No acumulado de 12 meses, o índice avançou 2,4%, ante 2,3% da leitura anterior. Economistas consultados pela Reuters previam alta de 0,2% na base mensal e de 2,5% na anual.

O governo dos EUA informou mais cedo que a inflação ao produtor também registrou resultado abaixo do esperado, com ganho de 0,1% em maio em relação ao mês anterior, ante expectativa de avanço de 0,2%.

Os dados sinalizam que as tarifas do presidente Donald Trump não estão atingindo os preços ao consumidor e ao produtor tão rapidamente quanto se antecipava, e fomenta as apostas de cortes de juros pelo Fed, provocando a queda dos rendimentos dos Treasuries e pressionando a divisa norte-americana.

“Ou seja, a inflação está controlada, de fato, nos Estados Unidos, o que leva a crer de que haverá corte ou pode haver corte talvez já na próxima quarta”, disse Correia, da Dom Investimentos.

Operadores estão precificando 100% de chance de duas reduções de juros neste ano, com o primeiro corte possivelmente em setembro. Antes dos dados, a probabilidade de uma segunda redução era alta, mas não estava totalmente precificada.

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