Os dados do Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na última sexta-feira (6), revelam uma transformação no perfil religioso da população do Distrito Federal. Segundo o levantamento, a proporção de católicos apostólicos romanos no DF caiu de 57,2% em 2010 para 49,7% em 2022, uma redução de 7,5 pontos percentuais.
Essa mudança reforça a perda da maioria católica na capital federal, cenário já antecipado pela Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios Ampliada (PDAD-A) de 2024, realizada pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPE-DF), que apontou 46,8% dos brasilienses se declarando católicos.
A PDAD-A trouxe pela primeira vez dados detalhados por Região Administrativa, mostrando que a maior concentração de católicos está na Candangolândia (57,2%), Lago Sul (56,5%), Park Way (54,6%), Cruzeiro (54,3%) e Taguatinga (53,9%). Por outro lado, regiões como Varjão (34,2%), Paranoá (34,9%), SCIA/Estrutural (35,4%), Sol Nascente e Pôr do Sol (36,8%) e Fercal (37,3%) têm os menores percentuais de católicos.
Cresce a presença evangélica
Em contraponto à redução católica, o percentual de evangélicos no DF aumentou de 26,1% em 2010 para 29,2% em 2022, conforme o Censo do IBGE. Esse crescimento é semelhante ao registrado pela PDAD-A de 2024, que indicou 28,3% de evangélicos. Algumas regiões têm concentração ainda maior de evangélicos, como Água Quente, com 41%. No SCIA/Estrutural e no Paranoá, os evangélicos superam ou empatam com os católicos: no SCIA/Estrutural, 40,8% se declararam evangélicos contra 35,4% católicos; no Paranoá, evangélicos somam 35,2% e católicos 34,9%. Riacho Fundo II (38,1%), Recanto das Emas (35,8%) e Paranoá (36,2%) também destacam-se pela alta presença evangélica.
Outro grupo que aumentou sua representatividade no Distrito Federal são os que declaram não ter religião. O IBGE mostrou que essa parcela subiu de 9,2% em 2010 para 11,3% em 2022, colocando o DF como a sexta Unidade da Federação com maior proporção de pessoas sem religião. Já a PDAD-A de 2024 registrou um percentual ainda maior: 17,7% dos brasilienses dizem não ter religião. A região do Varjão lidera com 36,5%, seguida por Samambaia (35,5%), Fercal (25,6%), Arapoanga (24,2%) e Lago Norte (23,5%).
Outras religiões
No quesito religiões afro-brasileiras, como umbanda e candomblé, o Censo do IBGE indicou crescimento de 0,7 pontos percentuais entre 2010 e 2022, passando de 0,2% para 0,9%. A PDAD-A confirmou a presença desses grupos, que representam 0,7% da população no DF, com maior concentração no Plano Piloto (1,4%). Já os espíritas tiveram leve declínio, passando de 3,7% para 3,3%, com maior presença no Sudoeste/Octogonal (9,4%), Lago Norte (8,5%) e Plano Piloto (8,2%).
Católico desde o nascimento, o professor Wendel Santana, 36 anos, estava junto com sua tia Francisca da Paz, a passeio na Catedral Metropolitana – Nossa Senhora Aparecida. Ao ser abordado pelo Jornal de Brasília, ele diz que observa com preocupação a diminuição do número de fiéis católicos no DF. Para ele, a queda está menos relacionada à perda de fé e mais à ausência de ações evangelizadoras em áreas mais vulneráveis. “A comunidade evangélica acessa esses lugares, tem mais espaço nesses lugares e contribui bastante para esse aumento de fiéis”, afirmou.
Wendel também chama atenção para o fato de que, apesar do crescimento das igrejas evangélicas, os dados indicam uma desaceleração em todas as tradições religiosas. “A gente tem que verificar a queda de várias taxas, tanto no catolicismo quanto também um certo freio no crescimento evangélico”, pontua.
A ascensão evangélica no Distrito Federal pode ter ganhado impulso com a presença política do ex-presidente Jair Bolsonaro, avalia o professor Wendel Santana. No entanto, ele ressalta que essa não deveria ser a motivação para alguém se vincular a uma religião. “Infelizmente, essas questões relacionadas à política e religião não deveriam ser levadas em conta para a pessoa aderir ou não a uma crença”, afirma o professor. Ainda assim, ele reconhece que a atuação política de Bolsonaro, apoiado por setores evangélicos, pode ter contribuído para o avanço do segmento no DF. “Acredito que pode ter sido, sim, favorável em relação à posição do ex-presidente”, disse o educador, que atua na rede pública de ensino de Brasília.