Quatro são baleados em operação contra facção em RJ

174956889068484d7a179cc 1749568890 3x2 lg

CRISTINA CAMARGO, YURI EIRAS E FRANCISCO LIMA NETO
SÃO PAULO, SP E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

A Polícia Civil do Rio de Janeiro realizou na manhã desta terça-feira (10) uma operação para cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra integrantes do TCP (Terceiro Comando Puro), grupo criminoso que atua na região chamada Complexo de Israel, na zona norte.

A polícia prendeu 20 pessoas e apreendeu oito fuzis, duas pistolas, granadas e coquetéis molotov, além de drogas.

Moradores relataram um tiroteio intenso no início da manhã, por volta das 6h. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram motoristas e passageiros de ônibus e BRT agachados no chão e atrás de muretas nas vias expressas.

Quatro pessoas foram levadas a hospitais na Baixada Fluminense durante a operação.

Uma delas, Marcelo Silva Marques, 54, é motorista de uma linha de ônibus que passava pela avenida Brasil no momento do tiroteio. Outro baleado foi Manoel Américo da Silva, 60, passageiro de um ônibus que estava na Linha Vermelha.

Marques foi levado ao Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias. Ele foi baleado no braço e tem quadro estável.

Silva foi atingido por um tiro no ombro esquerdo. Ele foi levado ao Hospital Geral de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, onde foi operado e teve alta no início da tarde desta terça.

Segundo o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, as vítimas foram atingidas longe do centro da operação.

Outras duas pessoas deram entrada no Hospital Adão Pereira Nunes com perfurações de armas de fogo, durante o horário da operação. Jerry Henrique, de 47 anos, foi atendido após ser atingido no pé esquerdo. Já João André dos Santos, 63 anos, foi atingido no cotovelo esquerdo, no Parque Lafaiete, em Duque de Caxias. Segundo a direção do hospital, ambos também estão lúcidos e orientados.

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra momentos de tensão de passageiros de um ônibus que trafegava por uma via expressa. “Vai embora, vai rápido”, diz um dos passageiros ao motorista. Outro passageiro tenta manter a calma. “Tem muro aqui para proteger a gente. Vamos continuar abaixados, beleza? A gente vai passar.”

A avenida Brasil foi fechada nos dois sentidos na altura da Penha. O bloqueio durou das 6h até por volta das 7h40. A Linha Vermelha também foi interditada.

A Prefeitura do Rio colocou a cidade em estágio 2 de atenção, numa escala que vai até 5. O estágio 2 é acionado quando há “risco de ocorrências de alto impacto na cidade”, segundo o município.

A operação afetou a circulação de trens do ramal Saracuruna, entre as estações Central do Brasil e Penha e entre as estações Duque de Caxias e Gramacho, que ficaram com intervalo médio de 30 minutos, segundo a SuperVia.

Os serviços do BRT ficaram interrompidos no corredor Transbrasil devido à operação policial, segundo o BRT Mobi Rio.

Um colégio estadual e 21 escolas municipais da região foram impactadas, com atividades suspensas no turno da manhã ou totalmente fechadas. Quatro unidades de saúde fecharam por causa do tiroteio.

De acordo com o Rio Ônibus, sindicato das empresas de ônibus, 50 linhas tiveram itinerário prejudicado. A maioria faz o trajeto da zona norte ao centro, maior fluxo da parte da manhã.

A operação foi liderada pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes, com apoio da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) e de delegacias da capital, da Baixada Fluminense e interior.

Segundo a Polícia Civil, a ação é resultado de sete meses de investigações. Quarenta e quatro suspeitos de envolvimento com o tráfico no Complexo de Israel que não tinham mandados anteriores foram identificados. Outros 180 mandados de busca e apreensão foram expedidos para a operação.

O grupo alvo da ação é liderado por Malaquias Santa Rosa, o “Peixão”, considerado um dos maiores traficantes do estado, e que atua nas comunidades de Vigário Geral, Parada de Lucas, Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau.

Apesar de líder, Peixão não foi alvo da operação desta terça, segundo o secretário de Segurança, Victor Santos. “Ele não era alvo dessa operação, mas sim pessoas que se escondiam nas sombras.”

Segundo a polícia, a facção usa barricadas para controlar a região e drones para monitorar as forças de segurança. Também promove toque de recolher e monopoliza os serviços públicos, além de estimular a intolerância religiosa.

Agentes da secretaria de Ordem Pública da prefeitura fizeram a demolição de uma falsa igreja que funcionava, segundo investigação, como abrigo para traficantes.

O imóvel tinha quatro pavimentos e a igreja funcionava no térreo, segundo a polícia. Os pavimentos superiores eram usados como esconderijo e proteção dos suspeitos. Agentes e policiais civis encontraram seteiras — espécie de buracos na parede usados para posicionar fuzis durante a chegada de equipes policiais ou grupos criminosos rivais.

O prédio, construído irregularmente, segundo a prefeitura, estava localizado na rua Bulhões Marcial, principal via de Vigário Geral, bairro dominado pelo TCP. A rua fica ao lado da avenida Brasil. De acordo com agentes que estiveram no local, a laje do imóvel dava visão privilegiada da movimentação de carros nas redondezas.

Também foi encontrado um imóvel em construção com estrutura luxuosa. A suspeita da polícia é que a casa pertença ao tráfico de drogas, uma espécie de novo resort em construção, meses após a demolição de outro.

“O grande sucesso da operação é mostrar que por trás de um líder de comunidade, um líder de facção, há toda uma estrutura de pessoas que viabilizam aquela atividade criminosa”, afirmou Victor Santos.

Peixão, que associou seu domínio a símbolos cristãos e judaicos, como a estrela de Davi e a bandeira de Israel, é acusado de expulsar pais de santo e ordenar a destruição de centros de umbanda e candomblé.

Entre as acusações contra Peixão estão a intimidação de moradores, expulsão de rivais, ataques a agentes de segurança e ações coordenadas para impedir operações policiais.

Em março, uma estrela de Davi de neon que ficava no alto de uma caixa d’água em uma das entradas da Cidade Alta foi retirada em uma operação.

A Polícia Civil diz que a investigação que culminou na ação desta terça mostrou a criação de um núcleo do TCP especializado em abater helicópteros policiais.

“Tinha uma equipe especializada em tentar abater helicópteros. Ela ficava em pontos estratégicos da comunidade, sob cobertura de muros de concreto e com seteiras, numa posição privilegiada para atirar nas aeronaves”, disse Curi, secretário de Polícia Civil, durante entrevista coletiva.

Outros grupos do TCP atuam no “monitoramento de viaturas, queima de ônibus e organização de protestos simulados com o objetivo de obstruir o trabalho policial”.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.