
O segundo dia de depoimentos no julgamento que apura a tentativa de golpe de Estado relacionada aos ataques de 8 de janeiro de 2023 foi marcado pela fala do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e dos generais Braga Netto e Augusto Heleno.
Ele negou envolvimento em qualquer plano para romper a ordem constitucional e disse que os atos registrados em Brasília foram ações isoladas, sem articulação militar ou financeira.
“Golpe de Estado não são meia dúzia de pessoas, dois ou três generais e meia dúzia de coronéis”, afirmou Bolsonaro, comparando o episódio com o golpe militar de 1964.
Ele disse ainda que não houve mobilização institucional ou planejamento concreto para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Questionado sobre informações de que teria sido alertado sobre planos que envolviam violência ou assassinato de autoridades, como o próprio Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro afirmou que nunca recebeu esse tipo de proposta.
“Se tivesse proposto, seria rechaçado e eu tomaria as providências de imediato”, declarou.
O ex-presidente voltou a defender a adoção do voto impresso e criticou o sistema eleitoral eletrônico, tema que já fazia parte de seu discurso antes das eleições de 2018.
Ele citou Paraguai e Venezuela como países que utilizam mecanismos de auditoria mais robustos, segundo sua avaliação.
Outros depoimentos

Durante o mesmo dia, outros ex-integrantes do governo prestaram depoimento. O general Walter Braga Netto, ex-ministro-chefe da Casa Civil, negou conhecer ou participar de qualquer plano de ruptura institucional.
Questionado sobre o chamado “Plano Verde e Amarelo”, Braga Netto disse que nunca teve acesso ao documento e que os encontros com o tenente-coronel Mauro Cid eram de natureza operacional.
O general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, confirmou que recebeu o hacker Walter Delgatti após pedido de Bolsonaro, mas afirmou que o encontro não teve consequências práticas.
Ele também negou ter interferido em relatórios sobre as urnas eletrônicas e disse não ter identificado fraudes. Nogueira declarou ainda que sugeriu visitas dos comandantes militares ao então presidente por preocupação com o estado emocional de Bolsonaro.
Já Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, disse que não havia indícios de fraude eleitoral dentro da pasta.
Ele afirmou que deixou orientações para que os acampamentos em frente aos quartéis fossem desmobilizados, mas que a execução dessas medidas não ocorreu por ele estar fora do país na data dos ataques.
Militares ouvidos ao longo do dia também negaram a existência de conspiração ou adesão institucional das Forças Armadas a qualquer plano de golpe. O almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, declarou que não disponibilizou tropas para Bolsonaro.
O general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), optou por responder às perguntas por meio de seu advogado e não apresentou esclarecimentos diretos.
Estratégia
O segundo dia de depoimentos revelou uma estratégia comum de defesa com foco na negação de envolvimento em atos golpistas. No entanto, as falas apresentaram contradições e omissões em pontos específicos, principalmente quanto à articulação entre os investigados.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) sustenta que houve uma tentativa coordenada de romper com o Estado democrático de Direito, baseada em evidências reunidas pela Polícia Federal.