O Governo do Distrito Federal (GDF) realizou, nesta segunda-feira (9), nova remoção de famílias que voltaram a ocupar o Setor de Inflamáveis (SIN), no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA). Eles retornaram após a desocupação da área ao lado de empresas de armazenamento de combustíveis, no mês passado, quando as autoridades previram risco para os moradores e à região nos arredores.
Desde de 2021, autoridades vêm alertando para os riscos de explosões no local por conta da proximidade das residências com as empresas e os tanques de combustíveis. Ligações de energia precária, estruturas de madeira e a constante incineração de materiais recicláveis próximo às empresas de gás, combustíveis e outros materiais extremamente inflamáveis, aumentam a chances de um acidente de grandes proporções, segundo relatórios do próprio Poder Executivo.
Em reunião do grupo de trabalho do GDF, um representante da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) alertou sobre disparos de arma de fogo contra as estruturas de armazenamento.
Outro problema observado no local é a proximidade das estruturas da linha do trem, além do grande número de crianças que moram no local e brincam perto da estrutura férrea.
Críticas
A falta de perspectiva para os moradores causou protestos de opositores ao governo local. Pré-candidato ao Palácio do Buriti, o ex-interventor da Segurança Pública do Distrito Federal Ricardo Cappelli (PSB) criticou a falta de planejamento habitacional da gestão Ibaneis Rocha (MDB).
“Estive lá e conversei com as pessoas. Elas dizem que topam sair, mas precisam de uma alternativa, porque não têm para onde ir. Eles estão lá há bastante tempo. Será que não teve um planejamento para garantir a eles o direito à moradia, o que não está sendo garantido agora”, critica Cappelli.
O ex-interventor no período pós-tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 questiona, ainda, a criação de um novo bairro há poucos metros do Setor de Inflamáveis. “O governo diz que ali é perigoso, mas está autorizando a construção de um bairro, a 700 metros, no Jóquei. Isso é um desrespeito às pessoas que moram ali, pois o governo está jogando as pessoas na rua, com crianças, idosos.”
“A solução é uma política habitacional. O orçamento do Distrito Federal, deste ano, será de R$ 73 bilhões. Para onde está indo esse dinheiro? Os moradores topam sair”, cobra. “Precisamos saber quem deixou as pessoas irem morar lá, pois o GDF não enfrenta a grilagem de terra. Derruba casa de pessoas que vêm para Brasília sonhando com uma vida melhor, mas não prendem os grileiros. Ninguém constrói do dia para a noite. Quando começaram por quê não impediram?”
“É uma covardia deixar o grileiro grilar e depois sair derrubando a casa das pessoas. Quem tem dinheiro não arrisca construir em área irregular, mas quem é pobre sim”, conclui Cappelli.
Operação
A operação desta segunda-feira foi iniciada por volta das 10h, com a participação de diversos órgãos de governo. De acordo com um representante dos moradores, cerca de 20 famílias, das mais de 40 retiradas em maio, ergueram novas edificações precárias.
Em acordo com com os agentes do GDF, os próprios moradores retiraram seus pertences de dentro dos barracos de lona e madeira e desmontaram as estruturas. O que restou, foi desmontado com o auxílio de máquinas.
Segundo informações prestadas pelos moradores, o retorno ao local foi necessário, uma vez que o governo não os transferiu para outra área, conforme combinado entre as partes. Outro argumento é que os alojamentos públicos não comportam as famílias de forma satisfatória e o auxílio-aluguel é insuficiente para os padrões do Distrito Federal.
“As pessoas não tinham para onde ir. Elas estavam aqui ao relento e não construíram. Os barracos só foram erguidos porque elas estavam sob chuva e sol, até que fossem levadas para outro lugar”, afirmou uma moradora.
De acordo com uma representante dos moradores, as famílias foram informadas que seriam levadas para a região conhecida como Tamanduá, no Recanto das Emas. Entretanto, ninguém foi levado. Outra sugestão dos moradores foi uma transferência para São Sebastião. O local já conta com moradias prontas, porém elas fazem parte do programa Morar Bem – Minha Casa, Minha Vida.
Em nota, a Secretaria de Proteção à Ordem Urbanística (DF Legal) informou que a nova operação no Setor de Inflamáveis foi realizada para evitar a reocupação da área de risco desobstruída no mês passado, onde 50 edificações irregulares foram desfeitas. Ainda de acordo com a pasta, as famílias receberam ofertas de apoio, como aluguel social, abrigo temporário e moradia no Núcleo Rural Tamanduá. A operação atual se limitou à área já desobstruída, com órgãos de assistência presentes oferecendo benefícios.