BRUNO RIBEIRO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Aliados de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) têm observado com irritação o aumento da presença de Nikolas Ferreira (PL-MG) nas redes sociais de parlamentares ligados ao bolsonarismo.
Na avaliação do grupo, políticos impulsionados por Eduardo no passado deveriam agora estar engajados na defesa de suas ações durante o autoexílio nos EUA. Mas, em vez disso, passaram a se aproximar de Nikolas, outro puxador de votos.
Do exterior, Eduardo tenta que o governo Donald Trump imponha sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), relator da ação sobre a trama golpista que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em conversas de WhatsApp, Eduardo foi aconselhado a procurar diretamente os parlamentares que deixaram de mencioná-lo em seus perfis. Por ora, contudo, não tomou nenhuma iniciativa.
Entre os alvos de descontentamento estão o presidente do PL do Rio de Janeiro, Rafael Sotiê; a presidente do PL Mulher de Santa Catarina, Ana Campagnolo; o deputado federal André Fernandes (PL-CE) e o vereador de Maceió Leonardo Dias (PL).
Com forte presença digital, eles faziam parte da engrenagem política montada por Eduardo -uma rede capilarizada que unia diferentes regiões e poderia ser mobilizada em torno de uma candidatura ao Planalto.
Em comum, todos fizeram campanhas com ajuda de vídeos, fotos e lives ao lado do deputado, eleito por São Paulo com pouco mais de 741 mil votos.
Eduardo afirmou à revista Veja que poderia ser uma opção à Presidência no lugar do pai, que está inelegível até 2030 e é réu no caso da tentativa de golpe. Ao buscar as sanções contra Moraes, Eduardo se tornou alvo de inquérito também relatado pelo ministro. O presidente Lula (PT) disse que sua ação era uma “prática terrorista”.
Nada disso aparece nas redes de parte dos bolsonaristas, que, por outro lado, compartilham postagens de Nikolas, fotos com o parlamentar e ataques ao governo pautados pelo mineiro.
A ida de Eduardo ao exterior não foi debatida com seu partido. Nos bastidores, integrantes do PL se disseram contrariados com a decisão, por avaliarem que perderam um defensor importante de Bolsonaro no Congresso e que, fora do país, ele poderia ficar isolado.
Na cúpula do partido, parte dos dirigentes, incluindo o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, tem defendido outras alternativas a Bolsonaro para a Presidência, como a ex-primeira-dama Michelle. Oficialmente, Eduardo voltará para tentar o Senado por São Paulo.
Segundo membros do PL, os prejuízos da ausência ficaram mais claros durante o congresso de comunicação do PL, em Fortaleza. Rafael Sotiê foi mestre de cerimônias e citou Eduardo no palco, mas afirmou que “a distância física faz toda a diferença” nesse tipo de reunião.
“O Eduardo é uma referência incontestável para toda a nossa geração. Foi ele quem abriu caminhos, inclusive para mim”, disse o vereador carioca. “Hoje, o que acontece é que ele está fora do Brasil, e isso naturalmente cria certo distanciamento na rotina política.”
“No entanto, sua liderança permanece. Ao mesmo tempo, a gente segue fortalecendo a base. O encontro da juventude do PL, que organizei no Rio em maio, mostrou que existem jovens conservadores cada vez mais preparados e engajados. Nosso papel agora é somar, não dividir. Não existe time Eduardo ou time Nikolas. Somos todos time Bolsonaro”, afirmou.
Com quase 18 milhões de seguidores no Instagram e 8 milhões no TikTok, Nikolas já havia provocado ressentimento entre integrantes do núcleo duro do bolsonarismo. Ele também é considerado, no entorno de Eduardo, um dos políticos que ascenderam com o apoio dele.
A rivalidade é alimentada, em parte, pelo sucesso do voo próprio do mineiro. É com os vídeos dele, e não dos Bolsonaros, que o governo Lula se preocupa quando toma alguma medida que pode ser vista como impopular, como o caso recente do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), na visão de aliados.
O primeiro ruído público entre Nikolas e o clã Bolsonaro ocorreu nas eleições municipais, quando o deputado se aproximou do influenciador Pablo Marçal (PRTB), adversário de Ricardo Nunes (MDB), apoiado pelo ex-presidente em São Paulo.
Às vésperas do primeiro turno, com Marçal crescendo nas pesquisas, a movimentação de Nikolas gerou críticas de bolsonaristas, embora o influenciador não tenha avançado para o segundo turno.
Em março, um novo mal-estar surgiu quando Bolsonaro convocou apoiadores para uma manifestação no Rio de Janeiro. O ato buscava impulsionar, no Congresso, o projeto de anistia aos presos do 8 de Janeiro, o que poderia beneficiar o ex-presidente.
A avaliação era que levar pautas como o impeachment de Lula às ruas poderia soar uma nova provocação ao STF. Nikolas, contudo, publicou “Fora, Lula” nas redes sociais ao tratar da manifestação, ainda em janeiro.
Bolsonaro gravou um vídeo desautorizando o gesto, sem citar o mineiro. No protesto seguinte, contudo, em abril, em São Paulo, com Eduardo já no exterior, Nikolas foi chamado para discursar, entre outras estrelas do bolsonarismo.
A reportagem procurou Nikolas, mas sua assessoria não respondeu. Também não houve retorno da equipe de Ana Caroline Campagnolo. André Fernandes e Leonardo Dias não foram localizados.