
Kamilly Nogueira, de 15 anos, também recebeu um “mimo” de um “admirador” e passou mal depois de comer. O bilhete é parecido com o recebido por Ana Luiza Neves, que morreu no dia 31 de maio após comer um bolo. Sobrevivente de bolo envenenado também recebeu bilhete de falso admirador secreto
A adolescente Ana Luiza Neves, de 17 anos, moradora de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, não foi a primeira vítima da autora do crime. A estudante Kamilly Nogueira, que tem a mesma idade das outras meninas, também recebeu um bolo de um “admirador”. O caso aconteceu 15 antes da morte da adolescente.
Ao saber de Ana Luíza, a família de Kamilly procurou a polícia. “Eu estava no meu momento de trabalho na loja e aí chegou um motoboy e ele falou que tinha uma entrega para mim, só que precisava de um código”, conta a adolescente. (Veja vídeo acima.)
Um perfil fake de um menino que trocava mensagens com Kamilly disse que tinha enviado a encomenda. “Se chegar algum presente aí é para você”, dizia a mensagem. “Eu tirei uma foto dessa encomenda e fui comer. Mandei uma mensagem para o meu irmão para ele poder me buscar”, continua a menina, lembrando que logo depois de comer o bolo, começou a passar mal.
“Eu fui perdendo minhas forças, fui sentindo calafrio, ficando gelada”, narra Kamilly, que foi levada ao hospital logo em seguida.
Perfil fake mandou mensagem para Kamilly
Reprodução
“Nós corremos com ela para o hospital e já cheguei gritando: ‘minha filha foi envenenada'”, explica a mãe de Kamilly, Kátia Miranda.
Exames detectaram uma substância anormal no organismo, mas não foi possível identificá-la, porque o bolo já havia sido consumido. “A gente jogou o pote fora. O lixeiro já tinha levado”, disse Kátia.
Na época, sem provas, a família não registrou ocorrência. Mas ao saber do caso de Ana Luiza, decidiu falar. “A partir do momento que uma jovem perdeu a vida, eu falei: Ká, não podemos ficar caladas. Foi uma vida.”
Os bilhetes para Kamilly e para Ana Luíza são parecidos. Os bolos foram comprados na mesma loja e depois envenenados.
Bilhetes recebidos por Kamilly e Ana Luiza são parecidos.
Reprodução/TV Globo
Veneno vendido pela internet
O trióxido de arsênio é uma substância química altamente tóxica, utilizada na indústria e no tratamento de doenças como leucemia. Mas seu nome também está entre os mais antigos da história da toxicologia. “Foi uma das primeiras substâncias utilizadas em crimes de envenenamento”, explicou Rafael Lanara, farmacêutico bioquímico e presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia.
Apesar disso, a venda do arsênio não é controlada no Brasil. “Infelizmente o arsênio não é uma substância controlada. Não é proibido”, afirmou Lanara. A jovem que envenenou Ana e Kamilly comprou o produto pela internet.
“O arsênio deveria ser controlado. Frente a esses casos que estão aumentando, é de suma importância que a gente tenha controle da venda desse produto, principalmente pela internet, ”, alertou Rafael Lanara. O pai de Ana também questiona: “Como é que ela comprou essa substância tão perigosa?”
Centros de intoxicação de várias regiões do país têm registrado casos semelhantes com arsênio e também com o chumbinho — que é proibido.
Houve casos envolvendo alimentos como açaí, baião-de-dois e ovos de Páscoa. No Rio Grande do Sul, quatro pessoas morreram após consumir um bolo envenenado com a mesma substância. Dois projetos de lei foram apresentados para regulamentar a venda.
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