Comandantes da ação que matou jovem em festa junina no RJ foram exonerados

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS)

O coronel Aristheu de Goés Lopes, do Bope (Batalhão de Operações Especiais), e o coronel André Luiz de Souza Batista, do COE (Comando de Operações Especiais), foram exonerados dos cargos neste domingo (08) após uma operação policial que deixou um morto e cinco feridos durante uma festa junina no Morro Santo Amaro, no Rio de Janeiro.

Os dois comandantes foram os responsáveis por autorizar a ação. A decisão de exoneração foi anunciada neste domingo (08) pelo governador Cláudio Castro (PL) nas redes sociais e confirmada pela Polícia Militar em nota.

Coronéis não teriam avaliado os riscos à comunidade para uma operação emergencial. Ao Bom Dia Rio, o Secretário de Estado de Polícia Militar, Marcelo de Menezes, afirmou nesta segunda-feira (09) que era preciso ter avaliado a viabilidade de dia e horário, além dos possíveis eventos que ocorriam no local.

Policiais envolvidos também foram afastados. Sem especificar quantos, a PM disse que eles não poderão atuar em serviços nas ruas até que tudo seja esclarecido. ”Os policiais que participaram da operação já foram ouvidos, bem como as armas utilizadas na ação também já foram disponibilizadas à perícia”, explicou.

“Avaliamos que os responsáveis pela operação não observaram os protocolos e procedimentos operacionais da corporação. Por conta disso, nós decidimos afastar os oficiais e todos os policiais da rua envolvidos para que haja lisura nas investigações”, disse Marcelo de Menezes.

AGENTE BALEOU JOVEM E O MUDOU DE LUGAR, DIZ MÃE

Mônica Guimarães Mendes diz que Herus, de 24 anos, foi escondido após ser baleado. ”Meu filho foi alvejado na barriga, colocou a mão e caiu em frente à padaria. O policial o arrastou pela escada, jogou o corpo dele e gritou que ele era vigia [do tráfico de drogas]”, afirmou durante um protesto.

“Ele foi criado com tanto amor. Eu vigiei meu filho, tomei conta, fui atrás para ele não entrar para essa vida, porque eu não queria perder meu filho, não queria enterrá-lo. E a polícia, que era para proteger, tirou a vida dele e ainda não deixaram a gente socorrer”, disse Mônica Guimarães Mendes.

A mãe e outras testemunhas falam que os policiais impediram socorro à vítima. ”Eles viram que fizeram besteira e arrastaram o garoto até o fim do beco. Deixaram ele no beco estirado e não deixaram ninguém passar, omitindo socorro. Enquanto isso, eu tava fazendo compressão no pescoço de outro morador que foi atingido com um tiro. Tentaram esconder o Herus”, relatou Elias Santos, morador do Morro Santo Amaro.

ENTENDA O CASO
O office boy Herus Guimarães Mendes morreu após ser baleado com dois tiros no abdômen. Ele foi atingido durante uma operação policial na noite de sexta-feira. Segundo a PM, os agentes receberam a informação de que criminosos se preparavam para atacar facções rivais na comunidade e, por isso, intervieram.
A ação policial aconteceu no meio da rua e, de acordo com Elias, haviam pelo menos duas mil pessoas no local. “Eles chegaram pela entrada principal e lateral da comunidade. O local estava completamente lotado e pelo menos 80% das pessoas eram crianças ou adolescentes”, conta.
Outras cinco pessoas foram feridas. Até neste domingo (08), três delas tinham estado de saúde estável e não havia informações oficiais sobre o quadro das outras duas. O UOL entrou em contato nesta segunda-feira (09) com o Hospital Municipal Souza Aguiar e aguarda atualizações.
Câmeras corporais registraram a ação, que é investigada pela Corregedoria. Segundo a PMERJ, houve confronto entre policiais e criminosos, cinco pessoas ficaram feridas e uma morreu. “O comando do Bope também instaurou um procedimento apuratório para analisar as circunstâncias dos fatos”, diz o órgão, em nota.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.