A final da Liga das Nações da Europa entre Espanha e Portugal foi tudo aquilo que um amante do bom futebol poderia desejar: altíssimo nível técnico, intensidade máxima, equilíbrio do começo ao fim. O placar empatado no tempo normal e na prorrogação, com Portugal vencendo nos pênaltis, diz muito sobre o tamanho do confronto. Mas há detalhes que vão além do placar — e que merecem ser destacados, especialmente por quem acompanha o futebol sul-americano.
Primeiro ponto: foi um jogo duro, mas limpo. E aqui está uma das grandes diferenças em relação ao que se vê por estas bandas. No futebol europeu, jogar duro não significa deslealdade. Significa competir. Significa disputar cada bola como se fosse a última, mas respeitando o adversário e as regras do jogo. Não vimos entradas criminosas, nem discussões intermináveis com o árbitro, nem a habitual tentativa de transformar cada falta em guerra. Foi um jogo físico, sim — mas honesto.
Segundo ponto: o gramado. Meu Deus do céu, que gramado! Um verdadeiro tapete, digno da grandeza da partida. Enquanto isso, no Brasil e em boa parte da América do Sul, seguimos convivendo com buracos, desníveis e “gramas de plástico”, como se fosse impossível alcançar o padrão europeu. Será que é falta de jardineiro? Não parece ser o caso, diante dos valores que circulam no nosso futebol. Será que é falta de prioridade? De conhecimento técnico? Falta de vontade política dos clubes? Talvez seja tudo isso junto. Mas uma coisa é certa: o espetáculo começa pelo palco. E o nosso palco anda deixando a desejar.
Olho no lance!
Durante o intervalo da partida, uma cena chamou atenção: direto da concentração da Seleção Brasileira, em São Paulo, o repórter mostrava os jogadores atentos, vidrados na TV para acompanhar a vitória de Portugal. Não era apenas interesse esportivo — era quase um estudo de caso. Afinal, muitos dos atletas em campo são colegas de clube dos brasileiros convocados por Carlo Ancelotti. E a pergunta que fica no ar é: quantos dos nossos titulares teriam espaço como titulares nessas duas seleções?
A resposta, embora incômoda, é reveladora. Talvez apenas três nomes da equipe que enfrentará o Paraguai na próxima terça-feira poderiam disputar posição entre os titulares de Portugal ou Espanha: o zagueiro Marquinhos, e os atacantes Raphinha e Vinícius Júnior. O restante dificilmente entraria em campo em uma dessas seleções europeias. Isso diz muito sobre o momento atual da Seleção Brasileira e a disparidade técnica que se consolidou.
E quantos desses espanhóis e portugueses seriam chamados por Ancelotti? Provavelmente todos – a maioria pra ser titular com a camisa amarela. Do lado português, nomes como Bruno Fernandes, Bernardo Silva, Rafael Leão, Nuno Mende e o próprio Cristiano Ronaldo, que apesar da idade, mostrou que tem estrela em jogos decisivos.
Na Espanha, a nova geração com Pedri, Dani Olmo e o jovem Lamine Yamal impõe um ritmo de jogo, uma tomada de decisão e um entendimento tático que atualmente não são são comuns entre os brasileiros.
A final foi um espetáculo, sem dúvidas. Mas, mais que um jogo, foi um espelho. E o reflexo que ele nos dá mostra que a Seleção Brasileira ainda precisa percorrer um longo caminho para se reencontrar com a elite do futebol mundial.