São Paulo, 27 – O Starship, maior foguete já construído pela SpaceX de Elon Musk, realizou nesta terça-feira, 27, mais um teste de voo – e registrou mais uma falha no processo – durante a terceira tentativa do ano, com os dois lançamentos anteriores resultando em explosão da nave no espaço. Esse é, no total, o nono teste do foguete, que decolou às 20h36, horário de Brasília, saindo da base de lançamento da empresa nos EUA.
O foguete partiu das instalações da companhia em Boca Chica, no Texas, e desta vez, não realizou a manobra “de ré” com o seu propulsor, que é uma recuperação do motor para reutilização. Essa também é a primeira vez em que o Super Heavy usado foi um reaproveitamento – o motor do lançamento desta terça é o mesmo do sétimo teste.
Com pouco menos de 30 minutos de voo, o foguete perdeu o controle de altitude de voo e começou a fazer “manobras” rotativas no espaço. A nave, porém, não explodiu no espaço e seguiu para a reentrada na atmosfera, com pouso no Oceano Índico A central de comando perdeu contato com o foguete cerca de 45 minutos após o lançamento.
Como foi o lançamento
No início do voo, o propulsor se separou do Starship às 20h39, com pouco menos de 3 minutos de voo e cerca de 60 km de altura. O Heavy Booster caiu no Mar do Caribe cerca de 20h43 – desta vez, sem tentativa planejada de recaptura do motor – cerca de 7 minutos após o lançamento. O pouso na água, porém, foi turbulento e causou a perda da conexão entre a torre de comando e o motor. Ainda não se sabem os danos causados no Heavy Booster
Com cerca de 29 minutos, o foguete reportou um a perda de controle no sistema de altitude, desestabilizando a nave em órbita. A partir de então, foi possível ver imagens do Starship girando no espaço. O voo continuou na trajetória até o Oceano Índico para a reentrada na atmosfera, mas o teste não resultou em sucesso pela terceira vez no ano.
Para esse voo, um primeiro teste da Starship com carga útil a bordo seria realizado: oito simuladores de satélites Starlink, que não entrariam em órbita, mas ajudariam na análise estrutural do foguete seriam lançados. A porta de distribuição do foguete, porém, não pode ser aberta após a falha no controle de direção e o teste não foi realizado.
A Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA, na sigla em inglês) autorizou na semana passada o retorno do foguete Starship, da SpaceX, aos testes de voo. A agência determinou uma série de ajustes e ampliou significativamente a zona de exclusão aérea, que agora atinge parte do Caribe.
A FAA afirmou que a SpaceX passou a atender aos requisitos técnicos e ambientais exigidos para a retomada dos voos, mas alertou que o risco envolvido permanece elevado. Como medida de precaução, a área de risco de detritos foi ampliada de 885 para aproximadamente 2.960 quilômetros, afetando também a navegação aérea em países como México, Cuba e Reino Unido, além de território americano.
O nono teste marcará a primeira reutilização de um propulsor Super Heavy já lançado, o mesmo que foi lançado e recuperado com sucesso no sétimo voo da Starship. Segundo a SpaceX, o objetivo agora é ampliar a coleta de dados para entender o desempenho do veículo sob novas condições de voo, com foco em ângulos de ataque mais altos e trajetórias controladas de retorno.
Para esse lançamento, o propulsor Super Heavy não tentará retornar ao ponto de origem, mas pousará forçadamente no Golfo da América. A decisão visa evitar danos à infraestrutura da base de lançamento. Ainda assim, os dados coletados durante o voo devem ajudar a moldar as próximas versões do foguete.
Histórico
Em seu primeiro teste, o foguete decolou em abril de 2023, mas explodiu quatro minutos depois do lançamento, a 39 quilômetros de altitude, por vazamento do propelente na parte traseira do propulsor Super Heavy, o que eventualmente cortou a conexão com o computador de voo principal do veículo. Segundo a Space X, isso levou a uma perda de comunicações com a maioria dos motores do propulsor e, finalmente, do controle do veículo.
À época, a explosão trouxe danos à região texana, fazendo “chover sujeira” em uma cidade próxima à decolagem, a 10 km do lançamento. O incidente chegou também a provocar um incêndio florestal, gerando uma investigação ambiental nos EUA.
Para voar novamente, a Space X teve de cumprir com 63 exigências feitas pela administração federal de aviação dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês) após a explosão. As mudanças incluíam uma relacionada ao processo de separação das naves, no qual o segundo estágio, a própria nave Starship, liga seus motores durante o mesmo processo de separação, e não depois, visando a obter mais potência.
Se tudo ocorresse como o planejado, o voo do Starship duraria 90 minutos, atingindo a órbita da Terra e dando uma volta quase completa ao redor do planeta.
A quarta tentativa foi a primeira com 100% de sucesso em todas as etapas de voo, desde o trajeto até a recuperação do booster e o pouso da nave. A decolagem foi realizada apesar de um dos 33 motores do lançador ter falhado na subida. As temperaturas não passaram dos limites fatais e a descida, auxiliada pela atmosfera (o que desacelera o foguete), foi estável. Com isso, o Starship é o maior foguete da história a realizar integralmente um voo fora do planeta.
Já o quinto voo foi o primeiro a ter a recuperação do propulsor do foguete na Starbase. No teste, realizado em outubro, o Heavy Booster foi recapturado cerca de 7 minutos após o lançamento, pela própria torre de lançamento, com duas estruturas que simulam uma espécie de braço para segurar o propulsor, chamada Mechazilla. O Starship fez seu pouso no Oceano Índico 1 hora e 5 minutos após deixar a base de lançamento no Texas.
O sétimo voo foi o segundo a ter sucesso na recuperação do booster na torre de lançamento, mas o voo não foi completado. Após cerca de 8 minutos da decolagem, o foguete perdeu contato com a central de controle e, mais tarde, explodiu. A SpaceX afirmou que o problema foi relacionado a um vazamento na nave.
O oitavo voo também teve um problema que impediu o sucesso do teste. O voo foi interrompido antes do previsto após uma falha no sistema de controle de atitude, responsável por manter a orientação da nave durante o trajeto. Segundo a SpaceX, o problema ocorreu cerca de 8 minutos após o lançamento, fazendo com que o foguete perdesse o controle e não concluísse sua missão de completar uma volta quase completa ao redor da Terra.
Conheça o foguete Starship
O Starship é o foguete reutilizável mais potente desenvolvido pela Space X. O objetivo é levar a Humanidade à Lua e, depois, à Marte, cuja viagem deve durar US$ 10 milhões e US$ 60 milhões. A companhia diz que o foguete pode ser utilizado para transporte de até 150 toneladas de carga na Terra, com viagens de até uma hora e meia para qualquer parte do mundo.
“A Starship poderá transportar até 100 pessoas em voos interplanetários de longa duração”, diz em seu site a Space X sobre a espaçonave. “A Starship também ajudará a possibilitar a entrega de satélites, o desenvolvimento de uma base lunar e um transporte ponto a ponto aqui na Terra.”
O Starship é apelidado de “foguetão” porque é muito maior que o antecessor da Space X, o Falcon 9, de 70 metros. O irmão mais recente, no caso, mede 120 metros de altura, tem 9 metros de diâmetro e pesa 1,3 mil toneladas.
A espaçonave traz o propulsor Super Heavy (de 69 metros de altura), responsável por levar o Starship até a órbita da Terra em cerca de 170 segundos. O lançador traz 33 motores Raptor, com empuxo de 72 meganewtons (o dobro do motor da Falcon 9, o Merlin). Assim como a nave principal, o lançador pode ser reutilizado para novos voos.
Já a nave Starship tem altura de 50 metros, é equipada com três motores Raptor e mais três motores Raptor Vacuum, modelo com escape maior para maximizar a eficiência no espaço. O veículo traz também um tanque de metano líquido e outro tanque de oxigênio líquido para combustão.
Estadão Conteúdo