Samir ganhou a eleição pagando mesada às federações. E agora está falando de “fair play”

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O novo presidente da CBF, Samir Xaud, assumiu o cargo neste domingo (25) prometendo modernidade, equilíbrio e renovação. Um dos pilares do seu discurso foi a implementação de um sistema de fair play financeiro para equilibrar as finanças dos clubes — uma proposta inspirada nos moldes da FIFA, que busca impedir que alguns times gastem muito mais que seus rivais.

Mas antes de mirar os clubes, não seria o caso de aplicar o fair play dentro da própria CBF? Segundo denúncia da revista piauí, os presidentes das federações estaduais — os mesmos que garantiram a eleição de Xaud — recebem mais de R$ 200 mil mensais da entidade. Um valor obsceno, sem transparência e que, na prática, funciona como moeda de troca política.

Foi essa estrutura de repasses milionários que garantiu a vitória de Xaud, que obteve 103 votos entre os 141 possíveis, contando com o apoio declarado de 25 das 27 federações. O discurso de ética e equilíbrio soa estranho quando se sabe que a eleição foi vencida com base numa máquina de compra de apoio institucional.

Ainda assim, Xaud fez promessas em várias frentes. Abaixo, os principais compromissos assumidos — e os obstáculos que os acompanham:

Calendário com estaduais limitados a 11 datas

Promessa ousada, mas de difícil execução. As mesmas federações que o elegeram vivem dos campeonatos estaduais e têm pouco interesse em reduzir seu espaço no calendário.

Criação de um grupo de trabalho para o fair play financeiro

Boa intenção no papel. Mas será que a CBF tem isenção para regular os clubes quando a própria entidade opera com gastos e repasses pouco auditáveis?

Total autonomia para Ancelotti na Seleção

Xaud prometeu liberdade ao técnico, mas a interferência política na Seleção é um vício antigo da CBF — e o novo presidente não deu sinais de que romperá com essa tradição.

Criação de uma liga de clubes

Ele disse que vai tirar do papel. Mas, historicamente, a CBF sempre tratou as tentativas de liga com desconfiança ou boicote.

“Revolução” no futebol feminino

Anunciou mais investimentos e protagonismo. Até agora, nenhuma proposta concreta ou aumento orçamentário foi apresentado.

Ações contra o racismo e retomada da Taça Indígena

Retórica positiva, mas sem cronograma, sem plano e sem garantias de continuidade.

Orgulho nortista e raízes em Roraima

Um toque pessoal no discurso, com forte carga simbólica. Mas que não elimina o fato de que Xaud chegou à presidência com uma folha corrida policial e sem relevância prévia no futebol nacional.

Conclusão

A eleição de Samir Xaud representa tudo aquilo que ele promete combater. Discurso moderno, práticas velhas. Fair play, sim — mas só se for para os outros. Na CBF, o jogo continua sendo jogado como sempre foi: com tapetão, grana alta e federação mandando mais que clube.

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