O cinema brasileiro vive um momento de reconexão com o mundo — e consigo mesmo. Neste sábado (24), a consagração do longa O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, com os prêmios de melhor direção e melhor ator (Wagner Moura) no Festival de Cannes, não apenas coroou o filme como também selou uma fase histórica para a produção nacional.
A vitória vem na sequência de outros grandes reconhecimentos internacionais: O Último Azul, de Gabriel Mascaro, premiado na Berlinale em fevereiro; e Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, vencedor no Oscar em março. Três festivais de prestígio, três vitórias de peso — um feito raro, que reposiciona o Brasil no circuito global da sétima arte.
Participar da seleção oficial de Cannes já é, por si só, um feito restrito a poucos. Estar entre os 22 escolhidos é sinal de prestígio. Sair de lá com dois troféus e negociações em curso com distribuidoras como Neon (responsável por Parasita e Anatomia de uma Queda) e Mubi (plataforma de prestígio no cinema de arte) é o que transforma um filme em um fenômeno.

O Agente Secreto será lançado nos Estados Unidos pela Neon e terá distribuição pela Mubi no Reino Unido, Índia e América Latina — acordos fechados ainda antes da premiação, sinalizando o forte apelo internacional do longa. A aposta agora é que o filme se torne um dos principais nomes brasileiros na corrida ao Oscar 2026.
Internamente, o cenário também é animador. Depois de uma queda abrupta nas bilheteiras pós-pandemia, o público brasileiro começou a retornar às salas. Desde novembro de 2024, com o sucesso de Ainda Estou Aqui, o cinema nacional vem recuperando espaço. Lançamentos como Auto da Compadecida 2, Vitória, Homem com H e Chico Bento e a Goiabeira Maravilhosa reforçaram a tendência.
Segundo a Ancine, mais de 8,5 milhões de pessoas assistiram a filmes brasileiros nos cinemas apenas neste primeiro semestre de 2025 — um número que representa 20% dos ingressos vendidos no país, um marco expressivo diante da crise recente do setor.
O bom momento se reflete também fora das telas. O Brasil foi o país de honra no Marché du Film de Cannes e levou a maior delegação de sua história ao festival, com coproduções, pitches e acordos sendo costurados com profissionais de diversos países. A Quinzena dos Realizadores foi aberta por quatro curtas cearenses produzidos sob supervisão de Karim Aïnouz, outro nome de peso da nova geração.
Os desafios estruturais do audiovisual brasileiro permanecem, mas é inegável que há um novo fôlego criativo e estratégico no ar. A força dessas conquistas reflete não apenas o talento individual de cineastas e artistas, mas também um movimento coletivo que resiste, reinventa e floresce — nos palcos, nas telas e no imaginário.