A inclusão da disciplina de inteligência emocional na formação acadêmica

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Dado o sucesso das últimas colunas, encerramos esta série dedicada à importância da psicologia no contexto educacional com uma contribuição especial: somam-se ao nosso grupo de professoras especialistas — Heloisa Vivo, Nathalie Nunes, Ângela Anastácio e Márcia Bicalho — as reflexões do professor Roberto Teikan.

A formação acadêmica de alunos de escolas públicas e privadas no Brasil tem se tornado cada vez mais desafiadora, especialmente diante de novas abordagens educacionais. Nesse cenário, a introdução de disciplinas como Inteligência Emocional (IE) — voltadas não apenas ao desenvolvimento cognitivo, mas também ao autoconhecimento e à regulação emocional — desponta como um instrumento essencial para a formação integral dos estudantes.

Inserir essa disciplina no currículo escolar, com base em uma abordagem multidisciplinar que integra a psicologia jurídica, comportamental, escolar, análise do comportamento e a psicanálise, oferece um caminho promissor para lidar com os diversos desafios emocionais, sociais e educacionais enfrentados pelos alunos ao longo de sua trajetória.

Esta coluna, portanto, propõe-se a discutir as implicações da inclusão da Inteligência Emocional nas escolas sob o olhar dessas diferentes vertentes da psicologia, considerando as especificidades das redes pública e privada e os impactos no desenvolvimento pleno dos estudantes.

O conceito de Inteligência Emocional, popularizado por Daniel Goleman, refere-se à habilidade de reconhecer, compreender e gerir as próprias emoções, além de perceber as emoções dos outros e usar essas informações para guiar decisões e comportamentos. No ambiente escolar, desenvolver essa habilidade é crucial: ajuda os alunos a enfrentar as pressões emocionais da rotina acadêmica, a se relacionar de forma saudável com colegas, professores e familiares, e a potencializar sua aprendizagem e desenvolvimento cognitivo. Em ambos os sistemas — público e privado — programas de IE podem reduzir conflitos, elevar o desempenho acadêmico e contribuir para a construção de um ambiente escolar mais harmonioso e inclusivo.

A contribuição da psicologia jurídica

A psicologia jurídica oferece uma lente importante para compreender as implicações emocionais e legais presentes nas instituições educacionais. Sob essa ótica, a IE pode atuar de forma preventiva, reduzindo comportamentos disruptivos e episódios de violência escolar, especialmente em contextos de maior vulnerabilidade social. Em escolas públicas, onde fatores socioeconômicos muitas vezes elevam os riscos de envolvimento juvenil com a criminalidade, o desenvolvimento da regulação emocional pode ser decisivo para a prevenção de conflitos e para a construção de um ambiente mais seguro.

Além disso, a psicologia jurídica é fundamental no acompanhamento de alunos em situação de vulnerabilidade legal. Ao promover a Inteligência Emocional, cria-se um espaço para decisões mais conscientes e emocionalmente equilibradas, reduzindo as chances de envolvimento com infrações ou conflitos.

A psicologia comportamental e o desenvolvimento de respostas adaptativas

A psicologia comportamental, por sua vez, foca no estudo dos comportamentos observáveis e no uso de estratégias para sua modificação. A disciplina de IE pode ser incorporada como uma ferramenta de transformação positiva no ambiente escolar, permitindo que os alunos desenvolvam respostas emocionais mais adequadas frente a situações como frustração, medo, raiva e tristeza.

Tais intervenções são especialmente valiosas para estudantes que enfrentam dificuldades de controle emocional e impulsividade. Em escolas públicas, onde transtornos comportamentais podem ser mais frequentes, a IE atua como aliada na redução de comportamentos problemáticos, melhora a concentração e aumenta a motivação. A combinação com reforços positivos — característicos da abordagem comportamental — potencializa a autoestima dos alunos e favorece o aprendizado.

A psicologia escolar como promotora do desenvolvimento integral

Com foco nas dimensões cognitivas, emocionais e sociais do aluno, a psicologia escolar encontra nos programas de IE um importante campo de atuação. A inclusão dessa disciplina fortalece o trabalho dos psicólogos escolares ao estruturar intervenções voltadas ao equilíbrio emocional, à empatia, à resiliência e às relações interpessoais.

Diante de desafios como bullying, ansiedade e conflitos familiares, a IE oferece ferramentas práticas para que os estudantes compreendam e lidem com suas emoções de maneira construtiva. Em escolas privadas, onde a pressão por resultados acadêmicos é acentuada, o desenvolvimento emocional torna-se um diferencial na formação de indivíduos mais equilibrados e preparados para lidar com os desafios do mundo contemporâneo.

A psicanálise e a escuta das emoções profundas

A perspectiva psicanalítica, baseada na obra de Freud, aprofunda a análise das emoções e conflitos internos dos alunos, muitas vezes enraizados em experiências inconscientes. A IE, sob esse viés, pode facilitar o reconhecimento de sentimentos como rejeição, inadequação e baixa autoestima, proporcionando um espaço de escuta, acolhimento e elaboração.

Para estudantes de ambos os sistemas educacionais, essa abordagem permite compreender as causas profundas de comportamentos disruptivos ou dificuldades emocionais. Ao incorporar os princípios psicanalíticos, os programas de IE favorecem a construção de uma identidade emocional mais saudável e adaptativa, promovendo segurança, pertencimento e bem-estar no ambiente escolar.

Conclusão

Como se observou ao longo da série, a inclusão da Inteligência Emocional como disciplina no currículo escolar de escolas públicas e privadas representa uma proposta inovadora e necessária para o desenvolvimento integral dos alunos. A partir da integração de diferentes abordagens da psicologia — jurídica, comportamental, escolar e psicanalítica — é possível vislumbrar benefícios não apenas para o rendimento acadêmico, mas também para a saúde emocional dos estudantes.

Formar indivíduos emocionalmente equilibrados, capazes de lidar com os desafios da vida escolar e social, é papel fundamental da escola. E a psicologia, com toda sua riqueza teórica e prática, mostra-se essencial para a implementação de programas eficazes de IE — com efeitos duradouros tanto para a comunidade escolar quanto para a sociedade.

Até a próxima!

Referências

  • Goleman, D. (1995). Emotional Intelligence: Why It Can Matter More Than IQ. New York: Bantam Books.
  • Skinner, B. F. (1953). Science and Human Behavior. New York: Free Press.
  • Freud, S. (1923). The Ego and the Id. London: SE, 19.
  • Furlanetto, L. M. (2013). Psicologia e educação: conceitos e práticas. Revista Brasileira de Terapias Comportamentais e Cognitivas, 15(1), 29-41.
  • Linhares, R. (2006). A psicologia jurídica no Brasil. Psicologia & Sociedade, 18(1), 112-121.
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