LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
O analfabetismo atingia 21,3% das pessoas de 15 anos ou mais com alguma deficiência no Brasil em 2022. A taxa é o quádruplo da registrada entre a população da mesma faixa etária sem deficiência (5,2%).
As conclusões integram um novo recorte do Censo Demográfico divulgado nesta sexta (23) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Uma pessoa é considerada analfabeta na pesquisa quando não sabe ler ou escrever pelo menos um bilhete simples ou uma lista de compras no idioma que conhece, independentemente do fato de estar ou não frequentando a escola.
De acordo com o IBGE, a diferença de 16,1 pontos percentuais entre as duas taxas está associada em parte à composição etária de cada grupo.
“O grupo com deficiência tem uma proporção maior de idosos e, como o analfabetismo tem forte componente geracional, isso contribui para uma taxa mais alta entre as pessoas com deficiência”, afirma o instituto.
A parcela de jovens e adultos de 15 a 29 anos equivale a 10,7% da população com deficiência e 23,8% das pessoas sem deficiência. Já os idosos de 60 a 69 anos correspondem a 17,9% da população com deficiência e a 8,3% das pessoas sem deficiência.
O IBGE, contudo, lembra que ainda há uma diferença grande entre a taxa de analfabetismo das pessoas com deficiência de 15 a 17 anos (11,2%) e o indicador do grupo sem deficiência da mesma faixa de idade (0,8%).
Isso, segundo o instituto, sinaliza a persistência de barreiras no acesso das pessoas com deficiência à educação, mesmo com a adoção de políticas de inclusão.
Considerando a população de 15 anos ou mais com deficiência (13,6 milhões), a taxa de 21,3% indica que 2,9 milhões de pessoas eram analfabetas.
Quase metade desse contingente morava no Nordeste (1,4 milhão ou 48%), enquanto uma parcela de 27,7% vivia no Sudeste (804,7 mil). O menor número estava no Centro-Oeste (179,5 mil).
Também há diferenças entre as unidades da federação. As maiores taxas de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais com deficiência foram registradas no Piauí (38,8%) e em Alagoas (36,8%).
Já as menores foram encontradas em Santa Catarina (11,6%) e Distrito Federal (11,8%). No estado de São Paulo, o índice foi de 12,9%, o quinto mais baixo.
Entre os municípios brasileiros, São Domingos (PB) mostrou a maior taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais com deficiência: 71,4%. Já o menor patamar, de 2,2%, foi verificado em Nova Candelária (RS).
“Para orientar as políticas públicas na área da educação e promover melhorias nos indicadores educacionais do país, a Meta 9 do Plano Nacional de Educação (PNE) estabeleceu a redução da taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais para 6,5% até 2015 e a erradicação do analfabetismo até 2024”, disse o IBGE.
DIFERENÇAS TAMBÉM APARECEM EM OUTROS INDICADORES
De acordo com o instituto, 63,1% das pessoas de 25 anos ou mais com deficiência não tinham instrução ou não haviam completado o ensino fundamental em 2022. Entre a população sem deficiência da mesma faixa etária, a proporção era quase a metade (32,3%).
O IBGE também afirma que 25,2% das pessoas de 25 anos ou mais com deficiência haviam concluído a educação básica obrigatória -ou seja, no mínimo o ensino médio. É menos da metade do percentual registrado na população da mesma faixa etária sem deficiência (53,4%).
Há outros recortes no Censo que sinalizam discrepâncias entre os grupos. Uma parcela de 7,4% das pessoas de 25 anos ou mais com deficiência tinha ensino superior completo em 2022. É menos da metade do patamar visto na população sem deficiência (19,5%).
Já a taxa de escolarização das pessoas de seis anos ou mais com deficiência foi de 11,1%. Também é menos da metade da verificada entre a população sem deficiência (25,4%). A taxa de escolarização indica a razão entre o número de estudantes e o total de pessoas da mesma faixa etária.
Os critérios do Censo consideram que uma pessoa com deficiência é aquela que não consegue de modo algum ou tem muita dificuldade para realizar as atividades investigadas em cinco domínios funcionais.
os seguintes:
enxergar (dificuldade permanente de visão, mesmo usando óculos ou lentes de contato);
ouvir (dificuldade permanente de audição, mesmo usando aparelhos auditivos);
mobilidade dos membros inferiores (dificuldade permanente em andar ou subir degraus, mesmo usando prótese, bengala ou aparelho de auxílio);
coordenação motora fina (dificuldade permanente para pegar pequenos objetos ou abrir e fechar tampas de garrafas, mesmo usando aparelhos de auxílio);
funções mentais (dificuldade permanente em se comunicar, realizar atividades de autocuidado, trabalhar ou estudar).