Um episódio de agressão a uma criança autista em uma clínica especializada do DF, causou repercussão entre pais e diversos especialistas nas redes sociais. Durante atendimento na instituição, a criança de apenas 8 anos, foi agredida por funcionários. O caso ocorreu nesta quarta-feira (21/05), quando a criança acabou fugindo do local.
A criança conseguiu fugir da sala de terapia na Clínica Única Kids, localizada no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), e atravessar a rua. O menino apresentou resistência para retornar ao estabelecimento, diante disso uma funcionária arrastou a criança à força pelas pernas, durante alguns metros pela lateral do prédio. As agressões foram registradas por câmeras de segurança locais. Nas imagens é possível ver cerca de quatro funcionários tentando levar o menino à força.
Vítima das agressões, o menino recebeu o diagnóstico de autismo nível dois aos 3 anos de idade, e há mais de dois anos frequenta a clínica para tratamento. Assim que souberam do ocorrido, os pais foram até o local cobrar explicações. A mãe, Heloisa Cervo, está chocada com a situação, e disse que soube através de uma amiga que estava presente, a mulher teria dito ainda, que as agressões cessaram somente quando ela interviu.
“A minha amiga disse, Helô pede as imagens. Quando eu vi aquilo eu não acreditei. Isso é agressão, isso é maus tratos. Primeiro contra uma criança e segundo contra uma pessoa com deficiência“, conta Heloisa.
Heloisa disse ainda que o primeiro absurdo dessa situação, foi o filho ter conseguido fugir da clínica. Ela disse que vai seguir até “o fim” para que os responsáveis sejam responsabilizados.
“ Ele atravessou ao menos umas quatro portas, e conseguiu atravessar a rua. Foi um milagre não estar passando nenhum carro no momento. Foi um livramento de Deus!”, conta.
Segundo Heloisa, o filho Pedro, é muito resistente à dor e não demonstrou ter sentido desconforto, ele teve apenas o queixo machucado. A mãe disse que a criança está com sentimento de culpa pelo ocorrido e segue medicado.
O pai do Pedro, Rodrigo Rodrigues, disse estar preocupado se a situação já teria acontecido outras vezes e não foi relatada.
“ Se um centro de referência em autismo trata a criança assim, como um saco de lixo. A gente busca ajuda onde agora?”, desabafa Rodrigo.
Após ver as imagens, os pais acionaram a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), e prendeu duas funcionárias da clínica. As funcionárias que aparecem nas imagens maltratando a criança, são uma psicóloga e uma fisioterapeuta da clínica. Que atuaram inclusive, em outras instituições especializadas do DF.
O caso foi registrado na 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), e segue sob investigação. Em uma tentativa de justificar a situação, as funcionárias Ana Cunha e Poliana Félix, disseram em depoimento, que a criança estava sorrindo e gostando da situação. A psicóloga e a fisioterapeuta foram detidas e soltas mediante o pagamento de fiança no valor de R$3 mil reais. Elas irão responder pelo crime de maus tratos em liberdade.
A defesa das funcionárias foi procurada pela nossa reportagem, mas não se manifestou. A clínica que não abriu nesta quinta-feira (22/05), informou que as profissionais envolvidas foram afastadas.
Em nota, a Clínica Única Kids informou que os eventos registrados nesta quarta-feira (21/05), correspondem a uma conduta isolada que não refletem os valores da instituição. Eles informaram também, que ao tomar conhecimento dos fatos adotaram medidas administrativas e estão colaborando com as autoridades para elucidar os fatos.

O caso gerou comoção na Comissão de Defesa das Pessoas com Autismo da OAB-DF. A presidente da Comissão, Flávia Amaral, que também é mãe atípica, se solidarizou com a família, e ressaltou a necessidade de uma devida fiscalização a essas clínicas.
“ É um absurdo que clínicas que estejam dispostas a ajudar, a tratar autistas, tenham que agir com violência, com toda legislação que nós temos. “, declara Flávia Amaral.
A comissão da OAB-DF se colocou à disposição para apoiar o profissional de família que deve atuar nesse caso. Além de fazer o acompanhamento do caso.
O presidente da Frente Parlamentar do Autismo, deputado Eduardo Pedrosa, também manifestou solidariedade à família. Ele declarou que vai cobrar que as “punições sejam rigorosas” a quem cometeu os atos.
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania tomou ciência do caso e declarou que o “ato de violência, além de inaceitável sob qualquer perspectiva ética ou legal, revela um cenário alarmante de desrespeito aos direitos humanos e à dignidade das pessoas com deficiência.”
A pasta informou ainda, que crianças com TEA são sujeitos de direitos, protegidas por leis nacionais e internacionais, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei Berenice Piana (Lei nº 12.764/2012), a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da qual o Brasil é signatário.