Com qual estilo de retórica você mais se identifica?
Uma abordagem mais ousada, combativa, que transforma o debate em um verdadeiro duelo de ideias? Ou prefere uma retórica lógica, estruturada, que convence pela razão, pela credibilidade e pela emoção?
A retórica de Schopenhauer: vencer a qualquer custo
Arthur Schopenhauer (séc. XIX), em sua obra “A Arte de Ter Razão” (Eristische Dialektik), publicada em 1864 na Alemanha, apresenta uma visão filosófica da argumentação que ainda hoje influencia os estudos sobre linguagem, retórica e comunicação interpessoal.
Segundo o filósofo, a “vontade”, um impulso irracional e inconsciente, seria o motor da existência humana. Isso implica que nossas comunicações nem sempre são regidas pela razão, mas também por paixões, desejos e impulsos inconscientes.
Na obra, Schopenhauer apresenta 38 estratagemas argumentativos — táticas usadas em discussões para vencer, mesmo estando errado. O objetivo não é necessariamente encontrar a verdade, mas sair vitorioso, ainda que por meios manipulativos ou desonestos. A retórica, para ele, é um jogo de poder.

Exemplos de alguns estratagemas:
- Transformar a proposição em algo absurdo
Pessoa A: “Acho que deveríamos regulamentar o uso de carros nas cidades.”
Pessoa B: “Ah, claro. E depois vamos proibir as pessoas de saírem de casa também, né?” - Provocar o oponente emocionalmente
Pessoa A: “Essa ideia tem base científica.”
Pessoa B: “Você só fala isso porque não entende nada de ciência.” - Ataque pessoal (ad hominem)
“Você não pode opinar sobre economia, nem emprego você tem!” - Encerrar a discussão fingindo vitória
“Não vou continuar discutindo com alguém que claramente não entende o básico. Já deixei meu ponto claro.”
Essas táticas podem soar eficazes — e muitas vezes são — mas levantam questões sobre ética, honestidade e o verdadeiro papel da argumentação.
A retórica de Aristóteles: a arte nobre da persuasão
Já para Aristóteles (séc. IV a.C.), a retórica é uma arte legítima, voltada para a busca da persuasão racional e ética. Em sua obra “Retórica”, escrita por volta de 330 a.C., o filósofo grego define três pilares fundamentais do discurso persuasivo:

- Ethos – credibilidade do orador
A autoridade de quem fala é essencial. Seja por titulação, experiência ou domínio do tema, a confiança que o público deposita no orador influencia diretamente a eficácia da argumentação. - Pathos – apelo emocional
A conexão emocional com o público é um recurso poderoso. Emoções moldam decisões, aproximam e mobilizam. A boa retórica sabe como ativar esse elo. - Logos – uso da razão e da lógica
A construção lógica do discurso, com dados, fatos e evidências, fortalece o argumento e conquista a razão do ouvinte.

Para Aristóteles, convencer não é manipular — é construir um caminho de entendimento baseado em lógica, ética e emoção.
Duas visões, dois propósitos
Aristóteles: pai da retórica como uma arte racional e ética, orientada pela busca da verdade.
Schopenhauer: filósofo da retórica como combate, onde vale vencer, mesmo que às custas da verdade.
E você, com qual dos dois estilos se identifica mais? Prefere argumentar para construir pontes ou para ganhar o jogo?
