PM e GCM fazem operações na madrugada, mas mini cracolândias seguem no centro de SP

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

LEONARDO FUHRMANN
FOLHAPRESS

Mais de uma semana após o sumiço do principal ponto da cracolândia, no centro de São Paulo, usuários seguem se concentrando em diversas ruas da região ao anoitecer, principalmente na avenida São João.
A reportagem percorreu vias do centro na noite desta quarta-feira (21) e madrugada desta quinta e presenciou consumo de crack e abordagens da GCM (Guarda Civil Metropolitana) e da Polícia Militar a usuários.

Por volta de meia-noite, guardas-civis em ao menos dez carros abordaram um grupo de cerca de cem usuários que se concentrava embaixo do Minhocão, na avenida São João, entre a rua General Julio Marcondes Salgado e a alameda Nothmann.

Os agentes fecharam a via no sentido centro, separaram homens de mulheres e revistaram um a um. Segundo os guardas que atuaram no plantão, foi a única operação contra grandes grupos durante a noite.

No quarteirão seguinte, entre a Nothmann e a rua Apa, outras pessoas acendiam seus cachimbos. A operação terminou sem nenhum flagrante e nenhum foragido encontrado. Duas horas depois, o grupo seguia reunido no mesmo lugar.

Esses dois quarteirões viraram um ponto de consumo. A formação do que parece ser uma nova cracolândia tem preocupado vizinhos, já acostumados a conviver com pessoas em situação de rua.

“A gente diferencia não só pelos cachimbos nas mãos, eles fazem mais barulho, gritam, quebram coisas durante a madrugada e escutam música alta”, conta a designer Barbara de Biasi, 29. Segundo ela, a concentração de usuários começa no anoitecer e eles permanecem no local até a manhã.

A designer conta que um morador de seu prédio chegou a ser agredido e teve a roupa rasgada por um grupo que tentou assaltá-lo.

Os moradores das imediações também estão evitando pegar ônibus no ponto localizado no quarteirão do fluxo. O corredor que liga o centro à Lapa e a Pirituba passa pelo local.

A professora Bianca Ramos, 31, diz que os moradores acompanham, desde o início da semana passada, o aumento no número de usuários embaixo do Minhocão, quando houve a dispersão da cracolândia da rua Protestantes, na Luz, que segue vazia. “No começo, a gente contava uns dez, depois foi subindo até que chegou próximo de cem nos últimos dias”, afirma.

“Hoje mesmo, eu desisti de sair de noite por receio de voltar mais tarde para casa. Também tenho evitado sair muito cedo”, conta ela.

Também na região, na avenida Duque de Caxias, entre a rua Conselheiro Nébias e a praça Princesa Isabel, policiais militares faziam uma operação contra usuários. Um oficial explicou que agentes de outros batalhões, das zonas norte e oeste, acompanhavam a ação para aprender o procedimento, caso a cracolândia se espalhe por suas regiões.

Outras pessoas, na avenida e nas ruas próximas, seguiam consumindo crack sem serem incomodados, mesmo a poucos metros da atuação da polícia. Os PMs presentes não disseram quantas pessoas foram abordadas nem se houve flagrante ou a prisão de foragidos.

Outros pequenos grupos estavam espalhados em diversos pontos, incluindo as proximidades dos terminais Amaral Gurgel e Princesa Isabel e as cercanias do parque do Gato, no Bom Retiro.

Durante a madrugada, a reportagem ainda voltou a constatar a presença de usuários em outros dois pontos em que eles já haviam sido vistos na semana passada, durante o dia, no parque Dom Pedro e na baixada do Glicério.

Na semana passada, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou que não houve espalhamento da cracolândia. Ele afirmou que há um trabalho contínuo de combate ao tráfico, de atendimento social e de saúde.

“Quando você tira a droga, a gente tem um ganho com o convencimento das pessoas aceitarem o tratamento”, afirmou. Ele atribuiu o sumiço da cracolândia às operações na favela do Moinho, que passa por processo de remoção. “Eu associo a isso à questão da operação da favela do Moinho, nós temos que acabar com aquele bunker do tráfico.”

Também na última semana, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que segue monitorando os espaços públicos para identificar a presença de usuários de drogas e de traficantes.

“O governo de São Paulo tem atuado de forma multisecretarial, em conjunto com a prefeitura, para combater o tráfico e oferecer apoio e uma saída viável aos dependentes químicos. O conjunto de ações integradas permitiu a diminuição crescente do número de dependentes químicos na região e a requalificação de vias que antes eram tomadas pelo fluxo”, diz em nota.

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