Eventos climáticos ameaçam a floresta

Marcellus Campêlo

Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica, realizado de forma pioneira e divulgado recentemente, mostra que o desmatamento causado por eventos climáticos extremos ameaça a floresta. O estudo se concentra na Mata Atlântica, mas serve de alerta geral.

De acordo com levantamento da Fundação SOS Mata Atlântica, em 2022 e em 2023, o bioma enfrentou 44 eventos climáticos que causaram desmatamentos. Em 2024, foram 651, ou seja, aumentou quase 14 vezes mais, indicando uma tendência de alta muito ascendente e preocupante.

O estudo destaca que as chuvas torrenciais entre abril e maio de 2024 devastaram 2,8 mil hectares de Mata Atlântica no Rio Grande do Sul. As tempestades também causaram desmatamento no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Esta é a primeira vez que o desmatamento provocado por eventos climáticos extremos é tema de estudo e os resultados chamaram a atenção para a ameaça que representam à floresta. As chuvas intensas, típicas do inverno amazônico, por exemplo, causam deslizamento de terra, e o período de seca extrema propicia a propagação de incêndios, ambos provocando perda de floresta.

Eventos como secas extremas e ondas de calor, como ocorreram nos últimos anos na região, são fatores que contribuem para o aumento do desmatamento na Amazônia. A seca extrema reduz a umidade da floresta, tornando-a mais suscetível aos incêndios florestais.

Em 2024, tivemos uma das piores temporadas de incêndios na região, exacerbada por uma seca severa que levou o Rio Amazonas a níveis historicamente baixos, combinado ao efeito explosivo do fenômeno El Niño, com o aquecimento das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Além disso, é claro, com o cenário potencializado pelas queimadas provocadas por atividades ilegais, aproveitando-se das condições climáticas para facilitar o desmatamento.

A questão, portanto, tem duas vertentes que se complementam e que é preciso visualizar para ter a dimensão do problema. Ou seja, os efeitos climáticos causam danos irremediáveis à floresta e o desmatamento contribui para a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, intensificando ainda mais a ocorrência de eventos adversos.

A remoção da cobertura florestal ocasionada pelo desmatamento diminui a evapotranspiração, reduzindo a formação de chuvas e prolongando as estações secas. Com isso, deixa a floresta cada vez mais vulnerável aos incêndios. Um ciclo vicioso perigoso, que ameaça a biodiversidade e o equilíbrio climático global.

A floresta, que historicamente atuava como um sumidouro de carbono, pode tornar-se uma fonte líquida de emissões, afetando todo o planeta, alertam os especialistas.

Para enfrentar esse cenário nada animador, será essencial implementar políticas de conservação eficazes, fortalecer a fiscalização ambiental contra os desmatamentos e promover práticas sustentáveis. Esses pilares têm sido reforçados no Amazonas, pelo Governo do Estado, com as várias ações que vêm sendo implementadas pela Secretaria de Meio Ambiente, Instituto de Proteção Ambiental (IPAAM) e Corpo de Bombeiros.

O Governo do Estado tem procurado envolver os demais entes no combate ao desmatamento, buscando atuar sempre em conjunto com as prefeituras e o governo federal. O trabalho vem dando resultado. O Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RDA), divulgado há poucos dias pela rede MapBiomas, registra a redução de 9,3% no desmatamento, no Amazonas, em 2024, em relação ao ano anterior. 

A cooperação do governo federal, dos países mais ricos e de órgãos internacionais é imprescindível, porque são muitos os desafios a serem enfrentados para a preservação da floresta e a mitigação das mudanças climáticas, em especial nas áreas mais remotas.

É preciso restaurar e resguardar as florestas para que tenham maior capacidade de resiliência aos eventos climáticos, que tendem a ser cada mais intensos. Ao mesmo tempo, dar apoio às populações mais vulneráveis, de forma que consigam prosperar, sendo os verdadeiros guardiões que ajudam a manter a floresta em pé. 

Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em Saneamento Básico e em Governança e Inovação Pública; exerce, atualmente, os cargos de secretário de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano – Sedurb e da Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE

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