Governo Milei elimina unidade que foi criada para investigar escândalo $Libra

Milei

DOUGLAS GAVRAS
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS)

Um dia depois de ver seu candidato ficar em primeiro lugar na eleição legislativa da cidade de Buenos Aires, Javier Milei se voltou para um problema que afeta o seu o governo há três meses. Com um decreto, ele eliminou a unidade especial criada há três meses para investigar a suposta fraude com a criptomoeda $Libra, que teve o presidente argentino como principal promotor.

Passado o processo eleitoral, o governo publicou na terça-feira (20) o decreto 332, assinado por Milei e pelo ministro da Justiça, Mariano Cúneo Libarona. O governo não apresentou resultados, e o texto limita-se a comentar que a Unidade de Tarefas de Investigação foi suprimida “uma vez concluída a sua tarefa”.

Diferentes grupos da oposição a Milei criticaram um decreto presidencial e afirmaram que irão buscar o avanço da comissão no Congresso para investigar o caso $Libra, mesmo com tentativas de atrasar o processo por parte do governo. Até agora, os libertários têm conseguido dificultar os trabalhos da comissão.

Além de Cúneo Libarona, o governo conseguiu bloquear a convocação do ministro Luis Caputo (Economia) pelos parlamentares. Além disso, negociou para que Karina, irmã de Milei e secretária-geral da Presidência, suspeita de estar envolvida no caso, não fosse chamada.

O único convocado pelos parlamentares até agora foi o chefe de Gabinete de Milei, Guillermo Francos, que conseguiu passar pela interpelação sem comprometer o presidente ou o seu entorno.

Nesta quarta-feira (21), a sessão dos deputados para tentar desbloquear a comissão de investigação $Libra caiu por falta de quórum. Às 12h30, após meia hora de tolerância, o presidente da Câmara, Martín Menem, encerrou a sessão quando o conselho mostrou 124 presentes -era preciso ter 129 para iniciar o debate.

Fora do controle do governo, no entanto, o escândalo continua sendo investigado em tribunais na Argentina e nos Estados Unidos.

Uma ação coletiva que começou nos Estados Unidos sobre o caso acaba de passar da jurisdição estadual para a federal e foi unificada com uma ação anterior, referente a um outro criptoativo, que o “empresário” Hayden Mark Davis, seu irmão, seu pai e outros protagonistas do escândalo $Libra enfrentam em Nova York.

A carta do decreto indica que a unidade de investigação solicitou dados sobre o criptoativo de diferentes órgãos do Estado -como a Unidade de Informações Financeiras, Alfândega, Ministério das Relações Exteriores e Escritório Anticorrupção- e enviou os resultados ao Ministério Público.

O escândalo com o criptoativo causou milhões de dólares em prejuízos a investidores em todo o mundo.

Ele começa em 14 fevereiro, quando Milei promoveu a criptomoeda $Libra em sua conta na rede X, e o ativo digital foi lançado logo em seguida. Traders compraram a um preço baixo e venderam a um preço mais alto, após o apoio do presidente, resultando em grandes lucros para alguns, enquanto outros investidores perderam tudo quando o valor caiu.

Cinco dias depois, o governo anunciou que o presidente Javier Milei pediu uma investigação pelo Escritório Anticorrupção sobre possíveis irregularidades, incluindo possíveis ações erradas do próprio presidente. O pedido daria origem ao grupo de trabalho agora dissolvido por Milei.

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