SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A escritora indiana Banu Mushtaq venceu nesta terça-feira o prêmio Booker Internacional com a coletânea de contos “Heart Lamp”, traduzida do original em canarês ao inglês por Deepa Bhasthi.
É a primeira vez que um livro de contos recebe o troféu desde a reformulação do prêmio em 2016.
A obra, escrita em linguagem direta e permeada por expressões típicas da Índia, retrata o cotidiano de mulheres muçulmanas que enfrentam abusos dos maridos, negligência da família e a indiferença de líderes religiosos. As protagonistas transitam entre o desespero e a resistência.
Segundo o júri, presidido pelo escritor britânico Max Porter, “Heart Lamp” se destaca por desafiar estereótipos ocidentais sobre o mundo muçulmano, misturando crítica social com elementos de sátira, dor e coragem. A tradução também foi elogiada por manter o tom cultural original da narrativa.
Mushtaq, de 77 anos, é advogada, jornalista e ativista. Ao receber o prêmio, ela afirmou que suas histórias nascem da convivência com mulheres reais e que seu processo criativo é movido pela emoção. “Meu coração é meu campo de estudo”, declarou.
O Booker Internacional é um dos prêmios literários mais importantes do mundo. Concedido anualmente, ele reconhece obras de ficção traduzidas para o inglês e publicadas no Reino Unido ou na Irlanda.
Desde 2016, o prêmio passou a ser atribuído a um único livro, ao invés de premiar o conjunto da obra de um autor. O valor de 50 mil libras (cerca de R$ 340 mil) concedido a “Heart Lamp” é dividido entre autor e tradutor -no caso, entre Mushtag e Bhasthi.
A obra superou finalistas mais populares como os romances “Sobre o Cálculo do Volume”, da dinamarquesa Solvej Balle, e “As Perfeições”, do italiano Vincenzo Latronico, que vinham recebendo maior atenção da crítica internacional. Os dois livros saíram recentemente no Brasil pela Todavia, enquanto o de Mushtag permanece inédito.